MINHA TV BRASILEIRA - 2° PARTE

Os programas de auditório não foram uma invenção da TV nos anos 80, já há muito, muito tempo, na era do rádio já existiam embates de calouros disputando um lugar ao sol.

A Record, ainda em preto e branco, realizava os festivais de musica que revelaram vozes como Gilberto Gil, Caetano e outros. Mas os programas da minha infância foram outros.
As quartas-feiras à noite Flavio Cavalcante apontava seu dedo em riste e chamava: Nossos comerciais, por favor. A Rede Bandeirantes dominava o horário, exibindo seu show de variedades logo após a novela das 8, obrigando a Rede Globo a criar minisséries e novelas as 22:00 hs no intuito de combater as outras emissoras.

Hebe Camargo, Jota Silvestre, Chacrinha, Faustão, Barros de Alencar eram grandes comandantes de auditório, sem deixar de lado o patrão Silvio Santos, que recheava os domingos da minha infância com programas para todas as idades. Lembro de iniciar o dia vendo domingo no parque e terminar numa TV preto e Branco portátil no quarto da minha mãe com Show de Calouros, por que a TV principal na sala, era do Fantástico com minha avó tomando conta da área. Adorava quando Aracy de Almeida dizia: Isso aí é um lixo, duzentos mango só!!!!
A evolução dos programas de auditório se deu quando a poderosa Rede Globo trouxe todos os grandes representantes do seguimento para sua grade horária. Chacrinha dominou a década de 80 aos sábados a tarde, atirando o bacalhau da Maria Bethânia, a mexerica da Elba Ramalho na platéia, enquanto suas gostosas chacretes eram filmadas num plano de corpo inteiro, muito diferente das bundas em zoom que se tem hoje. Em 1989 Fausto Silva passou a ser o Faustão, e a trazer um entretenimento diferente, com a presença de grandes astros da casa em participações semanais, combatendo pela primeira vez o Senor Abravanel, e jogando o SBT para uma posição de emissora B.
A rede Manchete apesar dos equipamentos de ultima geração com o qual estreou em 1983 não fazia frente às rivais, muito menos a Rede Bandeirantes que já demonstrava uma qualidade muito inferior as concorrentes. Globo X SBT ( TVS) disputavam o telespectador de forma limpa, sem apelações e imprensa marrom.

Xuxa, Angélica, Mara Maravilha, Simony, e outras mocréias criadas para entreter a criançada faziam das manhãs um show de horrores. No final da década de 90, o formato já estava esgotado, cansado e fadado a morte. Mesmo assim arrastou-se pelo novo século, dando seus últimos suspiros ainda na primeira década. Hoje o que se vê são crianças pernósticas apresentado desenhos e dando prêmios via telefone a criançada. Acabou definitivamente o contato corpo a corpo com a molecada. Claudia ainda deve estar sentada lá, esperando a tia Xuxa permitir que ela levante....rs.
Gostava muito das gincanas de Flavio Cavalcante, lembro de uns vizinhos gêmeos, casados com gêmeas serem chamados como aberrações a serem mostradas ao Brasil. Outra vizinha que ganhou um Scort 0 Km no roletrando do Silvio Santos. Amigos da minha irmã cantando no Show de Calouros. As caravanas das “amigas de auditório” que minha mãe freqüentou por anos. Histórias da vida anônima misturadas com a TV e suas atrações bizarras.

Hoje os programas têm uma sofisticação que nos deixa enfadonhos. Todo mundo quer reformar casa de pobre. E assim mostram que eles “milionários apresentadores” são pessoas comuns que entram na casa de necessitados, os abraçam, e sentam em sofás imundos como um ser normal. Desculpe, mas a mim isso não pega mais. Luciano Huck, nem Gugu Liberato muito menos Celso Portioli me comovem dando presentes a pessoas carentes. Prefiro o mico pago pelo dono do carro reformado no Caldeirão do Huck as casas mal feitas e maquiadas entregues a pessoas que não terão como mantê-las. Em momento algum se pensa na saúde, na boca desdentada, na falta de escolaridade deles. Uma vida digna começa com um teto digno...concordo. Mas dar a eles algo que não saberão como manter chega a ser uma crueldade.

Muito da falsa moralidade que a TV pregou nos 90 foram por água abaixo. Netinho de Paula beijava suas “princesas negras” , em casa batia na esposa. Gugu apelava até para integrantes do PCC para ter ibope aos domingos. Luciana Gimenes faz o que é de mais vergonhoso na TV, convida garotas(os) de programa ou subcelebridades para debater assuntos tão “importantes” quanto a cirurgia de reconstrução de hímen de Ângela Bismarchi.

O que quero dizer com isso, é que da pureza dos programas da minha infância a TV decaiu com uma apelação descabida em busca de audiência. Nesse ponto é que sinto falta de uma certa censura ( interna) das emissoras, algo que a Rede Globo tinha quando comandada por Boni. Posso ate trocar a palavra “censura” por “bom gosto”.

Sinto saudade da mandioca da Fafá de Belém que Chacrinha arremessava por sobre a cabeça dos seus jurados, que às vezes também eram pulverizados com farinha atirada pelo Russo, assistente de palco.

Mas a verdade é que se hoje o povo brasileiro gosta, assiste e tem o habito de sentar-se no sofá em família para ver TV, muito se deve a artistas como Hebe, Silvio Santos, Raul Gil, e outros nomes que ajudaram a criar a nossa cultura televisiva. É por causa deles e tantos outros que temos uma história linda e uma memória que ira transcender as décadas. Muito se fez de bonito, e uma fatia está ligada a teledramaturgia. Esse capitulo importante da nossa história, falarei amanhã.
Boa terça, abração

9 comentários:

s a u l o t a v e i r a disse...

Jamal...
Amigo, que maravilha de post. Algumas coisas não peguei, não sei tua idade, mas tenho 28 e uma péssima memória. Confesso ter adorado Xuxa (quase ainda hoje KKKKK). Concordo plenamente com você, Hebe, Silvio, Raul, Chacrinha, o saudoso início do Faustão... ainda temos esses vanguardistas presentes fazendo o que há de belo em nossa caixinha televisiva. Há sim, muito lixo, mas há também muita beleza. Mais valem as críticas da teledramaturgia que a assistência pobre e mal acabada a um povo que não lê, não entende e nem sabe como manter o que foi dado - quase campanha eleitoral.

Maravilha, já aguardo o passar dessas 24hrs para a próxima história.

Beijão, rapaz.

Karina disse...

Rafael,
Sempre considerei o SBT uma emissora B, mas também adorava Domingo no Parque e o Show de Calouros e assistir à Porta da Esperança. Do Faustão só gosto da época que ele fazia um programa chamado, salvo engano, de Perdidos na Noite. Ele fazia um programa de baixo orçamento, em que ele podia se manifestar da forma que quisesse. A Manchete, por sua vez, seu deu muito bem num determinado ponto de sua existência com as novelas Kananga do Japão, Dona Beja, a Marquesa dos Santos (estas duas últimas com a Maitê Proença no auge da beleza) e Pantanal. De fato, considero que a qualidade dos programas apresentados pela TV brasileira só vem piorando. Experimenta "passear" pela TV aberta aos domingos: tirando o Globo Rural, o resto é lixo. Um beijo, Karina.

Tathiana disse...

Saudade do Chacrinha tb. Ainda me lembro de assistir. E atrações como sítio do pica-pau amaerlo? Eu chegava da escola correndo pra não perder. hoje meu filho assiste discovery Kids (graças a Deus eu posso dar isso a ele porque a TV aberta, ninguém merece). E ele não tem nenhum CD ou DVD da famigerada Xuxa - sim, há outras opções!
Bjs.

Edilson Cravo disse...

Infelizmente hoje virou um completo vale-tudo e as emissoras em busca de ibope ultrapassam todos os limites do bom gosto e bom senso. Querem ibope mostrando as mazelas, closes ginecológicos e polêmicas. A ética foi esquecida e apenas lembram dos números da mídia. Tristes tempos. Abraços e ótima semana.

Lobo disse...

Reza a lenda que a tendência de tudo nessa vida é se denegrir. Se essa teoria estiver certa, a TV é um ótimo exemplo a ser mostrado.

A verdade é que não tem mais muito o que se inventar. Ai, na tentativa de sair do marasmo, que surgem as bizarrices que vemos hoje em dia...

Agora adorei você chamando as apresentadoras infantis de mocréias ahauahauahau

Abração Rafa!

Serginho Tavares disse...

eu via mas achava o flavio cavalcanti muito irônico
a hebe camargo eu gostava mais da fase bandeirantes
e sinto falta do viva a noite do gugu
ele nunca mais superou aquela fase

abração

Serginho Tavares disse...

ps: lembra do perdidos na noite do faustão? aquilo sim era divertido...

..::voy::.. disse...

eu amo TV. tb vejo desde criança - la nos anos 80 - pq gosto e pq quero. e tb acho q o padra de qualidade dos programas de hoje sao risiveis...
sinto falta da 'falta de qualidade' dos programas da decada de 90.

abraços
voy

Arsênico disse...

Realmente... a TV não tem muito o que comemorar com seus 60 anos... também consigo fazer um paralelo da minha TV de infância e essa TV de guerras incessantes de hoje em dia por audiência!!!

Fico mordido de raiva quando vejo no Twitter os seguidores de "Restart" dizendo que só estão vendo o programa do Raul Gil porque a bandinha está por lá!

Que cultura levará essa atual geração? O que será comentado por eles? As cores das calças e as golas V's que os integrantes usavam em 2010?

Realmente... essa mídia precisa se reinventar...!!!

***

aBraço!


;-)