UM TEXTO GUARDADO

Achei esse texto entre alguns contos que estava revendo. Muito bonito! É a tradução de uma letra de musica, a qual não achei, mas que foi escrita por esse cara aí embaixo.


"Você, meu amor, está autorizado a esquecer do Natal em que você ficou muito estressado na casa dos seus pais.

A você, meu amor, é permitido jogar fora o peso de todos esses anos que traz nas costas, como se joga fora roupas velhas, tipo aquelas da época da discoteca. Ou guarde-as para vestir e dançar chapado numa noite dessas qualquer com um amante qualquer.

Você, meu amor, está autorizado a afogar a si mesmo nos mais loucos, selvagens e descarados sonhos simbólicos, desses que não têm mais fim. Você, meu amor, pode libertar sua juventude que se perdeu de tanto contar calendários, do modo mais aterrorizantemente mágico possível.

Pois que sonhar é para os corajosos.

Você, meu amor, pode pegar meu violão e murmurar pra mim algumas daquelas canções de amor idiotas acaso venha perder a capacidade de falar. Você pode, eu aguento uns 2 minutos. Você, meu amor, está autorizado a murchar e a morrer e a renascer, mais vivo e incandescente do que nunca.

A você, meu amor, é permitido reduzir a televisão a pedaços, sufocar aquelas idéias idiotas e corromper de volta todos aqueles pensamentos, matar, matar, matar, matar aqueles filhos da mãe antes que todos aqueles jingles de mal-estar, pânico e dor, que transformam a todos em zumbis por sua estreita visão direitista-conservadora, nesses comerciais ordinários que mais parecem estupros, se transformem na canção de ninar do mundo. 

Revoltar-se também é jogar limpo.

Você, meu amor, pode idolatrar sua televisão.

Você, meu amor, está autorizado a falar por beijos a todos à sua volta e para aqueles que se foram. A você, meu amor, é permitido ensinar aos seus filhos a dançar de corpo inteiro, de olhos bem abertos, do modo mais audacioso, sobrenatural e glorificante. Você, meu amor, pode se dar mal em cada uma de todas as coisas que você tentar fazer.

A você, meu amor, é permitido se sentir como o cobertor encharcado dos amantes num verão em Nova Iorque, maravilhado em si mesmo por esse seu único e exclusivo dom de absorver.

Você, meu amor, pode ser elogiado. Você, meu amor, está autorizado em ter mais tempo. Você, meu amor, pode entender.

A você, meu amor, é permitido amar.”

Adaptação sobre “New Year’s Eve Prayer”, de Jeff Buckley.

Buckley foi considerado pelos críticos umas das mais promissoras revelações musicais de sua época. Morreu afogado enquanto nadava no rio Wolf , afluente do Rio Mississipi em 1997 aos 31 anos.

APENAS UM SORRISO



Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, 

Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas! 
(Machado de Assis)

Quanto custa a alguém sorrir? Na minha opinião, nada! 

Não entendo por que existem pessoas que se esforçam em mostrar ao mundo que são vencedoras, tem o corpo esculpido em academias de luxo, vestem-se com roupas de marcas famosas, desfilam em belos carros, moram em apartamentos belíssimos, decorados pelo fulano de tal que saiu na revista mês passado, mas não conseguem sorrir naturalmente para o mundo. 

É um equivoco de algum sujeito de sei lá onde dizer: dinheiro não compra felicidade! Ao certo para megalomania de alguns milionários que insistem em ter tudo o que suas podres cabeças desejam realmente a felicidade não terá preço. Mas para alguém que um dia sentiu o peso das necessidades básicas de sobrevivência, o dinheiro trará sim, uma felicidade confortável, e o sorriso no rosto. 

Lia sobre Roberto Carlos na revista Alfa desse mês, e lá diziam que o Rei havia passado uma fase negra ( ou dificultosa, já que ele não admite cores escuras na sua vida) com a morte de sua ultima esposa. Deixou de criar, deixou de ver amigos, e o pior, deixou de sorrir. Sorriso esse que encanta o publico há mais de 4 décadas. Hoje, recuperado, ele demonstra sua serenidade com largos sorrisos as pessoas. Sejam elas fãs, jornalistas ou o reduzido numero de amigos. 

Monalisa esboça um sorrisinho maroto no quadro de Leonardo Da Vinci. Não sabemos se é irônico, debochado, satisfeito ou simpático, mas o fato é que ela sorri. Não o sorriso largo e cativante de Sandra Annenberg, mas o sorriso contido da época, que pode demonstrar inúmeros sentimentos. 

Hebe foi à rainha do sorriso largo, e hoje faz falta não vê-lo mais na TV. Sinto profunda simpatia por quem deixa as amarguras da vida não transformar o rosto numa sisuda mascara de mal humor. A humanidade não tem culpa se a pessoa é infeliz, se a cama é vazia, se os desejos não se realizam, se a vida dela é um mar de indiferenças. Deveria ser lei, e cumprida a riste: É PROIBIDO NÃO RETRIBUIR SORRISOS. 

Todos temos problemas. Ai daquele que diz que a vida é perfeita, infelizmente vive num mundo fictício. As agruras da vida existem por que quando sanadas nos fazem ter a vontade de sorrir para mundo. Isso é que rege a vida, o bom humor, a certeza que depois da tempestade vem o sol, mesmo que tímido. 

Não gosto de gente que não sorri. Para mim pessoas que não conseguem doar-se num segundo esboçando algo que lhe ilumine o rosto, não deveria sair de casa. Mas também, por favor, não seja uma gralha sorridente, que faz festa até para pardal que toma banho na sarjeta. Sejamos coerentes e discretos. 

Mas sorriem, por que se for pra mim, tenham certeza que há retribuição a altura, num largo, doce e sincero sorriso. 

Boa segunda e todos, ótima semana.

HABEMUS PA PAPA LATINOAMERICANO

Bem, sou católico, preferia Dom Odilo como Papa, mas me contento com um latino, assim acaba a escolha de um integrante da Cosa Nostra para o Vaticano. Enfim, não vou expor minhas ideias religiosas aqui para não abrir precedente a discussões. 

Mas lendo os sites de humor hoje pela manhã pincelei algumas frases, provavelmente do twitter logo após o anuncio do novo Papa. Claro que coloquei as mais inocentes, por que o povo pega pesado...rs. 

Habemus Papam, e uma nova era de piadas sobre argentinos. 


HABEMUS PAPAM \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ 

- O Papa podia abrir a janelinha e soltar um INHAINNNNNNNNNNN, ne? 

- DEMOROU POIS O CARDEAL BRASILEIRO NÃO ACEITOU A ESCOLHA E ESTAVA GRITANDO LÁ DENTRO dizem 

- Agora sim Madonna pode aparecer cantando Evita 

- não vai a missa tem mais de 10 anos e tá chorando com a escolha do novo papa ESTAMOS DE OLHO 

- CHUPA PELÉ! 

- EIS UM CHICO BENTO 

- É O WOODY ALLEN? 

- VAMOS PEDIR A DEUS PARA QUE ESSE NOVO PAPA ARGENTINO NAO FAÇA PEDOFILIA COM NINGUEM! GRAÇAS A DEUS! ( adivinha quem disse essa?)

-KD O TXAU DE MISS PAPA 

-PAPA TOMOU CALMANTES ANTES DE APARECER MAL SE MEXE 

- FAZ CORAÇÃO COM A MÃO, PAPA!!! 

- Memorando da Cris pra Lisa: PODE FICAR COM ESSAS ILHOTAS DE MERDA A CAPELA SISTINA É MINHA RT  Vão-se as Malvinas, fica o Vaticano 

- Esse papa é Chico, o ultimo era Bento.... O próximo é a Mônica ou o Cebolinha.... 

- Habemos bife ancho 

- sandra anenberg não ta conseguindo esconder o recalque do primeiro papa da america latina não ser brasileiro 

- ELE FALOU QUE VAI REZAR PELA MADONNA????? O Novo Papa é GAY!!! 

- ILZE SCAMPARINI JÁ SABIA QUE NÃO SERIA BRASILEIRO O PAPA E POR ISSO NÃO APARECEU 

- Missas distribuirão alfajores no lugar de hóstias 

- Gente o Papa acenando nem se mexe direito, parece a Irina 

- o outro papa era o bento e esse é o chico. acho que o vaticano lê o @mauriciodesousa 

- GLORIA PEREZ VIDENTE RT @gloriafperez: Pra quem pergunta pq o nome da novela é Salve Jorge: O argentino Jorge Bergoglio é eleito novo Papa 

- chupa argentina aqui é inri cristo 

- e assim encerramos a nossa transmissão tô prendendo o cocô faz mais de uma hora txau 
Amém....

Boa quinta a todos

AS USURPADORAS DA MINHA INFANCIA


Tenho milhares de lembranças do passado, da infância, não sei por que minha mente registra e não apaga sensações, cheiros, locais, datas e tudo mais. Falo isso por que me lembro de ocorrências da minha primeira infância que se calculada em idade, no mínimo deveria estar entre 3, 4 anos. Mas a lembrança que comento no post de hoje é sobre a vida escolar no primário.

Confesso que nunca fui de “amar” escola nesse período. Ia a contragosto por era obrigado. Quando entrei no pré-primário chorei por mais de uma semana em sala de aula, por que me sentia abandonado. Não fui um garoto que deu os primeiros passos aos olhos de um professor, não, ficava em casa, brincando com minha mãe e cia. Hoje uma criança de 6 anos se repetir esse feito será excluída da vida publica.

Tive professoras nos primeiros anos de vida escolar que amei de verdade como se fossem uma “tia” de sangue. Eram gentis, atenciosas e me tratavam bem, por que apesar de tudo, era um excelente aluno.

Estudei num colégio estadual, por que parece brincadeira, mas naquela época ainda se dizia que inteligentes estudava em colégios públicos e só os burros pagavam escolas particulares. Até hoje tenho pesadelos com uma escadaria que subia para o segundo pavimento do prédio. Sonhos recorrentes, e olha que isso já faz mais de 30 anos.

Pela minha cara, os que me conhecem, devem imaginar qual o tipo físico tinha na infância. Magrinho, penteado pela mãe, com carinha de nerd e bonzinho ao extremo. Era aquele menininho medroso que não fazia peraltices em sala de aula, mas era bater o sinal pro recreio que virava um demônio...rs

Esses dias confabulando lembrei-me do que mais odiava na minha infância escolar: as professoras substitutas.

Que profissão maldita essa? Elas não eram professoras titulares, não tinham cadeira, e apareciam de vez em quando, do nada,  com aquelas caras de bruxas para aterrorizarem os pobres alunos. Lembro-me de duas. Uma loira que tinha o mesmo nome da minha irmã e que estudava aos filhos na mesma escola. Inclusive um dos meninos era meu amigo. Eu detestava essa mulher! Até hoje a lembrança mais nítida é da Renata Fronzi ( era a cara dela). A outra era a fuça esculpida da Etty Fraser, e me dava calafrios de medo. Usava vestidos até o tornozelo em tons de cinza, retos, sem um cinto, nada. Era gorda com cabelos cacheados.
Renata Fronzi

Etty Fraser

Em que mundo se vivia para ter professoras substitutas que amedrontavam os alunos e nos deixavam em pânico. Não havia aviso, nada. Chegava à escola, sentava na carteira e quando percebia não era a “tia” que entrava e sim o monstro da substituta maligna. Gelava!! Sentia vontade de chorar, de sair correndo, mas não adiantaria, por que os tentáculos venenosos da substituta me alcançariam e me levariam de volta.

Essas professoras apareciam apenas para manter alunos dentro de sala de aula, por que não sabiam o cotidiano, a matéria do dia, o nome das crianças, nada!!! Isso era um bullying coletivo do estado para com indefesos seres da primeira infância.

Eram usurpadoras do afeto das “tias”. Duvido que alguém diga que gostava de uma professora substituta mais do que a titular...duvido!!!

A sensação ruim desses dias sombrios foi se apagando com o tempo, mas a lembrança ta aqui. Talvez se tivesse feito psicanalise, teria matado essas mulheres do meu inconsciente...rs rs rs...

Boa quarta feira a todos.

DA SÉRIE - CINCO MINUTOS PARA PECAR


A MÃE ZELOSA


AMAR É SER FIEL A QUEM NOS TRAI...”
 (Nelson Rodrigues – Flor de Obsessão)

Necreto levou a última colherada de sopa à boca e fez o seu gesto rotineiro esfregando o estômago em sinal de satisfação. Deu dois arrotos, limpou a boca na toalha de mesa e levantou-se em direção a sala onde sua mãe lhe serviria a gelatina espumosa que ele tanto gostava. Sentou-se apertou o botão do controle e pôs-se a assistir seu programa de esportes predileto.
Aos trinta e dois anos de idade Necreto era um rapaz que ainda não estava pronto para casar. Filho único e mimado pela mãe! Namorava uma garota há quase quinze anos e até então não manifestara vontade de unir-se em matrimônio. Amelinha o encontrava todos os dias perto da hora do jantar e depois ia lecionar numa escola distante. Boa moça, de formação adequada, era perdida de amores pelo rapazote. Mas a culpada de tudo estava na cozinha preparando um copo de milk-shake para o filhão. Soraia Monterrey trazia o garoto num zelo o qual só ela era capaz de manter. Nunca chamava sua atenção e defendia-o com unhas e dentes.
Mudaram-se para o bairro há mais de trinta anos, quando o pequeno Necreto ainda engatinhava. Sozinha no mundo criou o pequeno sem ajuda de ninguém. Matriculou-o nos melhores colégios por que exigia uma educação modelo. Diziam às línguas ferinas que viviam de uma herança que recebera dos pais. Mas o grande segredo sempre girou em torno de quem seria o pai do pequeno Necreto. Mistério!
Com o passar dos anos os vizinhos esqueceram o fato e passaram a ter Soraia como uma grande amiga. Estava sempre disposta na organização de festas beneficentes, bingos para igreja ou mesmo uma simples quermesse. Mulher de bom gosto, decorava tudo com bandeirolas coloridas e balões de gás. No carnaval ninguém a segurava, descia a avenida em salto quinze fantasiada com muitas plumas e brilhos. As pessoas amavam Soraia e conseqüentemente Necreto.
Aos quinze anos o pimpolho ganhou uma caderneta de poupança gorda da mãe caridosa. Manteve o dinheiro aplicado e hoje tem uma pequena fortuna, algo que o impede de trabalhar, já que consegue tudo o que quer vivendo dos juros de sua gorda economia. Nunca deixou o país, mas um dia, segundo ele, verá uma corrida de fórmula 1 em Mônaco, sentado ao lado de gente muito rica. A namorada servia-lhe apenas de aperitivo, as noites mais calmas saia à caça de mulheres mais voluptuosas, e sempre terminava a noite nos braços de três ou quatro, era um pervertido, mas a mãe o perdoava, afinal ele ainda estava com os hormônios à flor da pele.
A casa era toda decorada com cortinas de veludo azul marinho, sofás de couro branco e dezenas de peças de porcelana espalhadas pelos ambientes. Na copa onde religiosamente servia as refeições do filho havia uma parede coberta de pratos pintados por ela. Eximia artista na Arte da pintura de porcelana. O quarto com almofadas vermelhas contrapunha com os móveis Luiz quinze e tapetes persas, comprados no mercado negro.
Eram duas pessoas a viver no luxo que só o dinheiro podia proporcionar. Sempre diziam que não estavam numa cobertura de frente para o mar porque tinham receio de chamar atenção. Soraia era uma mulher que se preocupava apenascom o bem estar do filho. Mais do que o normal, por isso preferia estar num lugar simples, com pessoas simples, assim poderia sentir-se superior, sempre.
Mas como a felicidade eterna é apenas fantasia de histórias infantis, Necreto um belo dia voltou a questionar a mãe sobre o seu pai. Foi num jantar onde cozinhara um belo pato com farofa de miúdos de frango. Ela quase engasgou. Fitou-o e pediu para conversarem sobre isso numa outra ocasião.  Fazia muito tempo que o filho não tocava neste assunto. Desde a formatura no ginásio, ele nunca mais questionara a presença do pai. Soraia sentia-se aliviada por isso, mas agora o pesadelo voltara. Na idade que o filho estava, seria difícil esconder o destino do pai. Mas com muito jogo de cintura contou-lhe a mesma história sobre o piloto de aviões que a engravidou e depois fugiu.
Necreto desta vez foi mais longe, quis a descrição física e o nome do elemento que a engravidara. Suando frio ela mencionou um nome qualquer. No dia seguinte, no cartório da cidade, Necreto estava procurando pelo pai. Não obteve êxito, porque como previra, era um nome fictício. Isso o encabulou. Era um rapaz que não fazia nada, na verdade um vagabundo, mas uma coisa ninguém tirava dele, a inteligência. Por pura falta do que fazer pôs na cabeça que desvendaria o caso do seu pai sumido.
Não contou nada a mãe, mas passou a investigar os lugares por onde passaram. Foi ao antigo trabalho dela, e não encontrou nada. Nunca houve uma Soraia naquele lugar, muito menos o estabelecimento que ela sempre jurara trabalhar. Os vizinhos interrogados não ajudaram em nada. Conheciam a pobre mulher pelo esforço de educar um rapaz sozinha. Algumas velhinhas até xingavam Necreto por ele querer remexer num passado que magoava a santinha da sua mãe. Dava de ombros com os comentários. Queria mais que as velhas morressem! O interesse agora era o de bancar o Sherlock.
Desesperada Soraia descobriu através de uma amiga o intuito do filho em apurar a verdade. Passou a cozinhar guloseimas mais apetitosas para ele. Comprava-lhe roupas novas quase todas as semanas. Chamava os amigos que ele não tinha, para comerem em casa e sempre era a mesma cena patética, aquele monte de homem sentado na sala sem abrir a boca. Ela solicita, andava de um lado a outro servindo salgadinhos e cerveja geladinha. Os camaradas iam por conta da comida, porque pouco se importavam com o tonto do Necreto.
Fez dois pulôveres de lã inglesa para ele quando estava chegando o inverno e quanto mais passava o tempo, mais o jovem ficava convencido que havia um segredo grande na vida de sua mãe.
Necreto não conseguia tirar informação alguma da pobre mulher. Pensou, raciocinou e decidiu que afastaria a mãe de casa para poder investigar-lhe os pertences particulares. Somente assim descobriria a verdade. Arrumou com a namoradinha sem graça um passeio ao zoológico. Mandou que mantivesse a velha fora por algumas horas. E como sempre conseguia o que pedia, pode vasculhar tudo da mãe, à vontade.
Não descobriu muita coisa, apenas algumas fotos dela vestida com fantasias de carnaval ao lado de outras mulheres horrorosas. Conseguiu concluir que talvez a mãe tivesse sido uma prostituta no passado e tinha receio de contar-lhe. Não se importaria se isso fosse verdade. Só não gostaria de saber que o pai fora um cliente.
Naquele dia quando a mãe voltou toda enfeitada de brinquedinhos infantis e cheia de doces para o filho, Necreto a interrogou sobre as fotos. Nada novamente, as datas e lugares batiam, só não conseguia algo que lhe indicasse o pai. Ficou receoso de perguntar sobre a possível prostituição e calou-se.
Um ano se passou e Necreto ainda tinha a obsessão em descobrir de onde veio. Começou um tratamento psiquiátrico por conta de um distúrbio emocional. A namoradinha junto de Soraia o convenceram. Foi muito apropriado, pois o médico o ajudou traçar um plano que possibilitaria a descoberta do pai, muito em breve.
Na noite de Natal, Necretinho após desembrulhar as dúzias de presentes que a mãe lhe dera, sentou-se ao seu lado na mesa de jantar para cearem. Nunca mais mencionara o maldito pai e isso era uma dádiva. Só que Necreto despejou um calmante no vinho de Soaria, e em pouco tempo viu a pobre cambalear. Sentou-a na cadeira da sala e pôs-se a interroga-la. Entre um soluço e outro ela começou a contar sobre sua vida. Excitado com o que estava fazendo, correu e trouxe para perto dela uma câmera de vídeo e um gravador. Era um verdadeiro interrogatório policial. A cada pergunta ele balançava o lustre acima de suas cabeças movimentando a luz e confundindo a pobre mulher. Ela sorridente contou-lhe sobre a boate onde trabalhava e muitas outras coisas. Definitivamente tinha sido uma prostituta. Que horror!!! Pensou o rapaz.
Depois de quase meia hora de interrogatório, a namoradinha entrou e sentou-se ao lado do inquiridor. Estava um pouco embaraçada com a situação, mas o jovem fez com que calasse a boca. Soraia tagarelava sobre os homens que havia conhecido e em determinado momento levantou-se e começou a falar gesticulando com os braços. Definitivamente a bebida e o tranqüilizante não fizeram bem a pobre mulher. Enlouquecida, falava alto e gritava palavrões quando mencionava algum homem que poderia ter passado por sua vida.
Um pouco desconcertado Necreto investiu sobre sua paternidade e acabou por descobrir o maior segredo de toda a sua vida.
Soraia Monterrey quando inquirida sobre o pai de Necreto gargalhou de forma estridente e olhando o rapaz meio caolha, por que não conseguia distinguir qual das imagens era realmente a dele, levantou o vestido que usava naquela noite tumultuada de natal e bateu entre as pernas, dizendo. Você saiu foi daqui.
Constrangido ele tentou segurar a mãe para que não desbancasse em gestos obscenos na frente da namoradinha, mas nada impedia Soraia de falar. Ele cutucara uma onça e agora experimentava o sabor do escândalo. Não demorou muito para que algumas cabeças apontassem na janela. Impedido de tocar todos para longe ofereceu de graça o espetáculo de sua vida.
Soraia andava de um lado para outro proferindo palavrões e praguejando sobre as mulheres. Disse coisas absurdas e novamente voltou-se para o filho. Acusou-o de ingrato e convenceu aos que ouviam que o esforço em lhe dar boa vida, educação não fora suficiente. Então se queria saber mesmo a verdade, revelaria.
Pôs-se de pé com certa dificuldade sobre a mesa de centro da sala de estar daquela casa empetecada de enfeites e mostrou para o jovem e toda a platéia o que escondia debaixo do vestido. Baixou a calça e deixou que todos vissem seu órgão sexual. Masculino...
Foi geral a vaia que deram a Soraia. Necreto caiu para trás no sofá numa crise asmática que quase levou sua vida. Quando acordou estava deitado sobre sobre almofadas macias, com a namoradinha a chorar do seu lado. Olhou para cima e viu pelo espelho da parede a mãe sentada de pernas abertas, arriada na cadeira de balanço.
Apenas olhou-a, quando ainda estava deitado. Saiu da sala.
Uma hora depois a polícia bateu a porta de Necreto. Dois oficiais entraram e algemaram Soraia Monterrey. Levaram-na embora em meio a aplausos dos vizinhos. O filho a denunciara por tê-lo enganado uma vida toda. Cabisbaixa ela não olhou para ninguém. Era um elemento procurado. Soraia Monterrey ou Genésio da Silva como constava em sua certidão de nascimento, assassinara a esposa ha mais de trinta anos despejando chumbo derretido em seu ouvido. Sumira como o filho ainda bebê e nunca mais fora visto. Travestira-se no início para despistar a polícia, mas um desvio de comportamento o fez acreditar que era realmente a mãe de Necreto. As provas de que Soraia era um assassino vieram de um recorte de jornal que Necreto achara dentro dos pertences particulares dela. Quando revelado a identidade masculina de sua progenitora o rapaz concluiu rapidamente que se tratavam da mesma pessoa.
Falsidade ideológica, assassinato, prostituição. Genésio ainda roubara o dinheiro de uma boate onde se apresentava travestido nos primeiros anos. Longe criou o filho sendo a mãe que todos os jovens desejavam ter.
Os garotos gritavam palavrões enquanto os policiais com as sirenes do camburão ligadas a colocavam para dentro. Os vizinhos incrédulos! Necreto parado no espaldar da porta da frente via sua mãe, ou seu pai sendo levado como um bandido. Odiava aquela mulher. De dentro do carro da polícia Soraia gritava para Necreto.
       - Vai para dentro filhinho! Ponha um agasalho, senão você fica constipado. Virando-se para os policiais comentou:
       - Essas crianças não tomam jeito. Ah Necretinho!!!

COLEGAS - O FILME


Descia a rua ao lado da minha mãe e ao chegar à esquina percebi a presença de alguém, mas não junto a nós, dentro de uma casa. Era um menino, talvez um rapaz, não dava pra certificar a idade dele. Em posição de lótus, ou mais precisamente, sentadinho como um buda (ele era gordo e estava sem camisa) balançava o corpo pra frente e pra trás com um sorriso débil no rosto. Minha mãe ao perceber minha cara assustada, disse: é um mongoloide.

Muitos anos se passaram até entender que o termo mongoloide é extremamente pejorativo e ofensivo para se referir a um portador da síndrome de down. Nesse ínterim, enquanto a ignorância sobre o assunto me vedava os olhos, escutei muitas histórias sobre eles. Mongoloides são retardados que nascem com a mesma aparência, só mulheres velhas tem filhos assim, eles não aprendem!

A ignorância é a pior das doenças. Ela te faz crer que a sua inteligência, o seu conhecimento está acima de tudo. Hoje, escrevendo isso, me sinto mal, por um dia ter tido a inaptidão de compreender o que eram pessoas com síndrome de Down.

Mentira que só mulheres mais velhas têm filhos com Down, mentira que eles são todos parecidos. Tem algumas características que os tornam semelhantes, mas até ai, italianos, negros, alemães, japoneses, etc... também tem suas semelhanças por conta da descendência. Mentira que não sabem nada, que a limitação os impede de serem normais.

Já havia mudado minha ideia a respeito da inteligência de um Down há anos, quando frequentei a APAE de Andradas que era presidida pela mãe de uma amiga de faculdade. Lá enxerguei a verdadeira vocação de um Down, o de alegrar as pessoas em volta. Eles são lindos na essência. Eternas crianças que nos fazem bem, pelo simples fato de estarem do lado. Isso não é hipocrisia, muito menos quero bancar o bom moço. É a minha visão sobre eles.

Assisti “Colegas” e pude mais uma vez me certificar que o portador da síndrome de Down é tão capaz quanto qualquer pessoa que tenha nascido com o cromossomo 21 alinhado e bonitinho. Habilidade cognitiva abaixo da média? Garanto que muita gente não teria capacidade cognitiva de interpretar um personagem no cinema. Alias, o que mais tem por aí é gente com incapacidade cognitiva. To certo ou não?

O filme é um doce e lúdico mundo onde tudo pode. A ressalva talvez seja pelo apelo violento ao qual os três brilhantes jovens Downs tenham sido submetido. Na minha visão, são como crianças que brincam de ser gente grande, e empunhar armas, talvez tenha extrapolado o limite da comedia. Tirando isso o restante me remeteu aos bons filmes que os trapalhões faziam no inicio da década de 80. Aquela coisa pura, aquele humor sem maldades, que me deixou boas lembranças da infância.

Os personagens principais de “Colegas” merecem a nossa atenção, não por que são portadores da síndrome de Down, mas por que são engraçados, são lindos, são puros nas intenções. Por mais de uma hora e meia de filme a gente se sente bem ao vê-los, ouvi-los e rirmos das suas meninices. Não é uma obra prima do cinema, deixo claro. Também não é um apelativo filme de deficientes que quer arrancar choro e comoção do publico. Nesse caso, poderia dizer que Amour, é bem mais apelativo.

“Colegas” tem a tarefa de mostrar ao mundo (ou a pequena aldeia Brasil) que quando se tem um filho com problemas, seja ele qual for: dar amor, instrui-lo e acreditar na sua capacidade faz toda a diferença para que tenham dentro do planeta um lugar ao sol, como qualquer filho, de qualquer família, em qualquer esfera.

Recomendo “Colegas”, por que se Sean Penn não veio, nós iremos no lugar dele. Prestigiar o cinema nacional é muito importante, principalmente quando há intenção de desmistificar uma ideia preconcebida e errada sobre determinados grupos.

Ah!!! Não deixando de mencionar que Lima Duarte narra com sua voz terna e comovente as peripécias do filme. Vale a pena!

Abração e boa quarta feira a todos.