Descia a rua ao lado da minha mãe
e ao chegar à esquina percebi a presença de alguém, mas não junto a nós, dentro
de uma casa. Era um menino, talvez um rapaz, não dava pra certificar a idade
dele. Em posição de lótus, ou mais precisamente, sentadinho como um buda (ele
era gordo e estava sem camisa) balançava o corpo pra frente e pra trás com um
sorriso débil no rosto. Minha mãe ao perceber minha cara assustada, disse: é um
mongoloide.
Muitos anos se passaram até
entender que o termo mongoloide é extremamente pejorativo e ofensivo para se
referir a um portador da síndrome de down. Nesse ínterim, enquanto a ignorância
sobre o assunto me vedava os olhos, escutei muitas histórias sobre eles. Mongoloides
são retardados que nascem com a mesma aparência, só mulheres velhas tem filhos
assim, eles não aprendem!
A ignorância é a pior das doenças. Ela te faz
crer que a sua inteligência, o seu conhecimento está acima de tudo. Hoje,
escrevendo isso, me sinto mal, por um dia ter tido a inaptidão de compreender o
que eram pessoas com síndrome de Down.
Mentira que só mulheres mais
velhas têm filhos com Down, mentira que eles são todos parecidos. Tem algumas características
que os tornam semelhantes, mas até ai, italianos, negros, alemães, japoneses,
etc... também tem suas semelhanças por conta da descendência. Mentira que não
sabem nada, que a limitação os impede de serem normais.
Já havia mudado minha ideia a
respeito da inteligência de um Down há anos, quando frequentei a APAE de
Andradas que era presidida pela mãe de uma amiga de faculdade. Lá enxerguei a verdadeira
vocação de um Down, o de alegrar as pessoas em volta. Eles são lindos na essência.
Eternas crianças que nos fazem bem, pelo simples fato de estarem do lado. Isso
não é hipocrisia, muito menos quero bancar o bom moço. É a minha visão sobre
eles.
Assisti “Colegas” e pude mais uma
vez me certificar que o portador da síndrome de Down é tão capaz quanto
qualquer pessoa que tenha nascido com o cromossomo 21 alinhado e bonitinho. Habilidade
cognitiva abaixo da média? Garanto que muita gente não teria capacidade
cognitiva de interpretar um personagem no cinema. Alias, o que mais tem por aí
é gente com incapacidade cognitiva. To certo ou não?
O filme é um doce e lúdico mundo onde
tudo pode. A ressalva talvez seja pelo apelo violento ao qual os três brilhantes
jovens Downs tenham sido submetido. Na minha visão, são como crianças que
brincam de ser gente grande, e empunhar armas, talvez tenha extrapolado o
limite da comedia. Tirando isso o restante me remeteu aos bons filmes que os
trapalhões faziam no inicio da década de 80. Aquela coisa pura, aquele humor
sem maldades, que me deixou boas lembranças da infância.
Os personagens principais de “Colegas”
merecem a nossa atenção, não por que são portadores da síndrome de Down, mas
por que são engraçados, são lindos, são puros nas intenções. Por mais de uma
hora e meia de filme a gente se sente bem ao vê-los, ouvi-los e rirmos das suas
meninices. Não é uma obra prima do cinema, deixo claro. Também não é um
apelativo filme de deficientes que quer arrancar choro e comoção do publico.
Nesse caso, poderia dizer que Amour, é bem mais apelativo.
“Colegas” tem a tarefa de mostrar
ao mundo (ou a pequena aldeia Brasil) que quando se tem um filho com problemas,
seja ele qual for: dar amor, instrui-lo e acreditar na sua capacidade faz toda
a diferença para que tenham dentro do planeta um lugar ao sol, como qualquer
filho, de qualquer família, em qualquer esfera.
Recomendo “Colegas”, por que se
Sean Penn não veio, nós iremos no lugar dele. Prestigiar o cinema nacional é muito
importante, principalmente quando há intenção de desmistificar uma ideia preconcebida
e errada sobre determinados grupos.
Ah!!! Não deixando de mencionar
que Lima Duarte narra com sua voz terna e comovente as peripécias do filme.
Vale a pena!
Abração e boa quarta feira a
todos.
3 comentários:
o filme é uma preciosidade assim como todos os portadores da síndrome ... tenho um primo assim ... um encanto de pessoa ... xô preconceito ... eles precisam de carinho e respeito ...
parabéns ...
beijão
Não assisti ao filme mas como fiz alguns semestres de psicologia tive bastante contato com essa turminha.
São lindos, são fofos, são inteligentes e podem nos ensinar e muito.
Acredito que antigamente as famílias se sentiam amaldiçoadas por terem filhos ou parentes assim, os escondiam.
Graças a Deus hoje isso mudou e pode mudar mais.
Na locadora que eu frequento tem um anjo assim. Mas ela é tão abençoada, mas tão abençoada que ninguém quer falar com os outros atendentes, sabe pq? A memória dela é fantástica. Tem uma capacidade de organizar os filmes em ordem alfabética que eu não conseguiria fazer... sem contar na memória fotográfica dela, é só perguntar: onde está tal filme... toda graciosa e em 2 minutos vem ela com o filme na mão.
Bela postagem... afinal de contas "ser diferente é normal"
Bêjo
Belo post! Quero ver o filme!
Querido, obrigada mais uma vez por todo apoio lá no post.
Beijocas
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