A CORAGEM DE DEIXAR IR

Até onde iria seu amor em relação ao parceiro se este sofresse de uma grave e terminal doença? Até onde iria sua devoção a um pai, mãe, irmão, se este te pedisse que aliviasse o sofrimento?

Há alguns anos me questionei sobre isso, mas conclui que jamais conseguiria por fim a vida de uma pessoa, mesmo que ela estivesse sofrendo muito, e clamasse pela morte. Pediria a Deus que findasse a vida, mas não teria coragem “eu” de interrompê-la.

Talvez digam que é egoísmo da minha parte manter uma pessoa viva, acamada, sem perspectiva de cura, num sofrimento diário e infindável. E respondo que não é minha a tarefa de extirpar a dor. Quem sabe seja a tarefa de permanecer ao lado, tentando amenizar essa dor, mas nunca, jamais colocar fim. Não me cabe esse direito. 

Conheço pessoas, já vivi perto, convivi com gente que estava no fim, e sei que em alguns casos os entes que cercam é que prendem aquele individuo a vida. O Câncer e outras tantas doenças graves são males que infelizmente o ser humano tem que enfrentar. Já vi curas milagrosas, tratamentos horríveis, que resultaram numa vida saudável depois, mas também já presenciei lutas que não levaram a lugar algum, apenas estenderam o sofrimento para preparar os que estavam em volta para a partida definitiva. 

E é nesse momento que os sãos devem prestara atenção. Quando é a hora de deixar partir? O doente às vezes, já cansado, se apega a vida para que os que o amam não sofra, e assim multiplica em centenas de vezes o seu próprio sofrimento. Existe um liame tênue entre a desesperança e o desapego. 

Não é encarar a doença como se ela já tivera abatido mortalmente o paciente, não é isso. Há de termos esperança na cura, no milagre divino que abençoa alguns seres inexplicavelmente nesse mundo. Ir até esse limite, onde a medicina não atua mais, onde os tratamentos não são mais eficazes e o corpo enfraquece, mas a mente não. O doente se cansa do sofrimento, mas luta, dia após dia pela vida, por que vê nos olhos dos queridos que ainda não estão preparados para a separação. É nesse momento, difícil e doloroso momento, que precisamos deixa-los ir. É preciso uma frieza sobrenatural para olhar o enfermo, deixar todo amor de lado e concluir: esse sofrimento não é digno, passou do limite. Nesse momento sim ha eutanásia do amor, por que você clama a Deus, ou a quem acredite superior, dentro de sua religião, que interrompa aquele sofrimento e o leve, de forma serena, sem dor, calmo e amorosamente. Pedir pelo fim de um sofrimento é desprender-se de um egoísmo. Muitas vezes pedimos pela cura que não existe, simplesmente pelo medo do que está pra vir, após a ida do enfermo.

Acredito nessa eutanásia. Na que você pede o fim e não o comete.



abraços