UM ÓTIMO NATAL

Que tenhamos fé no amanhã. Que possamos ter um ano melhor com mais perspectivas de felicidade. O futuro renasce a cada manhã, e isso me faz crer que 2014 será, sem dúvida, um ano melhor, para mim, e para todos nós.



Feliz Natal...

NOS VEMOS EM 2014

DIVERTICS O CARAI, O NOME DAQUILO É CHATICS

O Brasil hoje é um grande e velho país de ranzinzas. Não há mais humor, brincadeiras ou o que quer seja que arranque gargalhadas em frente à TV como há 30 anos.

Quando surgiu a TV Pirata, ainda se podia fazer piada de tudo e isso fez com que tivéssemos a maior guinada humorística da década. Dali pra cá tudo mudaria, pra pior. Com o passar do tempo e as pseudo leis criadas para proteger credos, etnias e menos favorecidos acabamos com a graça que nos fazia rir.

Hoje qualquer piadinha infame atinge um determinado grupo que encrespa e sai pra cima querendo justiça e o melhor de tudo “indenizações”. Mercenários hipócritas que se ofendem a toa. Isso engessou o humor do brasileiro. Tudo que se faz na TV aberta é politicamente correto, ao ponto de ser chato. Não há mais piadas de duplo sentido, não se brinca mais com gays, negros, japoneses, portugueses, loiras, ou qualquer tipo de pessoa ou grupo que encabeçavam as anedotas do século passado. Nosso humor não atravessou o século XXI.

Por isso vê-se hoje humorísticos como o de estreia na Globo ontem, o tal “Divertix”. Não sei onde buscaram o nome, mas de diversão aquilo não tem nada. Programa chato, com piadinhas curtas e sem graça, sempre voltadas para um humor infantil e chato. O pior de tudo, Leandro Hassum continua na grade humorística gritando e constrangendo com sua gordice exacerbada transformada em piadas. Ele não muda, ele é um Zorra Total, revestidos de homens de preto que tenta ser Divertix. Ele é chato, ponto e basta.

Após o Fantástico o soberbo Bruno Mazzeo consegue de alguma forma misteriosa criar um programa com grandes estrelas e ao mesmo tempo fazer graça. Não aquela que provoca gargalhadas, mas aquele sorrisinho de que a piada foi inteligente. Mas ele é tão narcisista que em breve também perde a graça.

Sobram os seriados, formula tão americana e tão empurrada goela abaixo para nós que acabamos por nos acostumarmos. Pé na Cova e Tapas e Beijos são ótimos no texto, mas pouco nos fazem rir. Um passatempo honesto para as terças feiras.

Sobram os humorísticos de internet. Hoje uma febre que o pessoal do Portas dos Fundos explora e muito bem. Fala-se palavrão, tratam de assuntos tabus e não estão ligando se existem grupos que se ofendem com as piadas. É humor pra quem quer rir. Infelizmente não cabem na TV aberta, e acredito nem a cabo. Se o grande publico se der conta do que é dito, algum ser inconformado com própria existência dará gritos de preconceito em praça publica. Não demora muito para que forjem atropelamentos como na Rússia para receberem indenizações. Logo logo precisaremos usar câmeras nos automóveis.

O restante da programação humorística da TV é tão irrelevante que não cabe comentários. O piro de tudo que essa censura popular atinge a teledramaturgia. Não pode, por exemplo, mostrar uma arma às sete da noite, enquanto o jornalístico marrom das outras emissoras esfregam corpos esquartejados em horários onde crianças fazem o dever de casa. Não entendo isso. Não se faz piada de nada, mas a violência sim, essa pode ser mostrada na mais dura e fria cara de pau.

Saudades da época em que Mussum tratava-se como pinguço e o humor era honesto. Saudade da época em que uma família de negros tinha preconceito com brancos na TV Pirata. Saudade da época em que se ria com vontade sem se preocupar com o que o vizinho está achando de tudo isso.

Brasil, país de hipócritas....


Abraço e ótima semana.

CONTO: O PRESENTE DE NATAL

Estava reorganizando meus contos e achei esse que gosto muito. São tantos, mas esse com a proximidade do natal me fez ter vontade de posta-lo. Não curto muito postar textos desse gênero por que são enormes e pessoas de internet não querem perder tempo lendo...rs. Mas publiquei assim mesmo, quem tiver paciência pode ler. Não é uma leitura difícil então pode ser que alguns cheguem até o fim. Não reparem nos se encontrarem erros de concordância ou gramaticais. Meus texto s ainda não foram revisados por profissionais.


Abraço a todos.

O Presente de Natal



Ethon distraiu-se quando no rádio do seu carro Nina Simone iniciou Ne me quite pás. A consequência dessa imprudência foi um acidente em que duas senhoras idosas foram arremessadas longe pelo seu veículo. Antes mesmo de tentar frear ele já as atingira. Desceu atordoado, com um pequeno corte no supercílio pela pancada que dera no volante. Descia um filete de sangue que sujava seu terno Armani. As pobres mulheres gemiam sentadas na calçada enquanto uma multidão de pessoas se aglomerava para saber o que havia acontecido.
         Dois policiais se aproximaram e interrogaram as pessoas até chegarem em Ethon. Um pouco descontrolado o jovem gritava com as senhoras que eram culpadas pelo acidente. As duas choravam e pediam perdão ao moço por terem entrado na frente de seu automóvel. Ethon era um advogado criminal com grande capacidade de argumentação. Em poucos instantes transformou as vítimas em perigosas armas contra o bem da sociedade. Explicou aos policiais a imprudências das mulheres e convenceu-os de sua inocência. De longe um senhor de cabelos brancos segurava o queixo e assistia ao espetáculo que Ethon fazia. Praticamente incitava o povo em volta, a testemunhar a seu favor naquela rua tranqüila de um bairro de periferia.
         O jovem discursava efusivamente gesticulando num balé de palavras. Transformara o incidente numa pantomima. O senhor que o ouvia atravessou a rua e prostrou-se diante de Ethon e o encarou. Enfezado perguntou ao senhor porque o olhava daquela forma. Virando-se para um dos policiais, o homem parado ali lhe deu voz de prisão e ordenou que os soldados o colocassem na viatura. Atordoado sem saber ao certo o que estava acontecendo, Ethon pela primeira vez na vida via escapar de suas mãos o controle dos seus atos. Esbravejou contra o homem que o prendera e foi notificado de que precisaria de um bom advogado de defesa. O senhor era um juiz e vira toda a cena. Do acidente a acusação infundada de Ethon as velhas senhoras, o homem presenciou tudo.
Três semanas depois Ethon estava de frente para o mesmo homem que o encarcerara por uma noite. Saíra sobre fiança e agora estava respondendo um processo. Com um frio na espinha via seu amigo de escritório tentar em vão defende-lo. Foi considerado culpado e como não houve vítimas fatais, estipulou-se uma multa substancial por danos as pobres mulheres. Ethon ainda deveria como pena, prestar serviços à comunidade frequentando uma vez por semana um hospital de câncer infantil, por nove meses. Deveria dar as crianças quatro horas de seu precioso tempo para leituras e brincadeiras.
Para Ethon o fato de ter que conviver com pessoas doentes era mais grave do que se o tivessem condenado a seis meses de cárcere. Não queria permanecer trancafiado numa prisão ao lado de assassinos e ladrões, mas a expectativa de freqüentar um hospital pestilento seria seu fim. Odiou aquele homem que o condenou. Prometera a si mesmo que um dia voltaria a vê-lo e então mostraria quem de fato era Ethon Gaye.
        
      Ethon Holland Gaye era o neto de um casal de ingleses agricultores naturalizados no país desde a segunda guerra mundial. Tinha trinta e cinco anos e uma carreira brilhante. Deixou o interior para tentar a vida na capital e em poucos anos sua oratória convincente o transformou num dos melhores criminalistas jovens da cidade.  Associou-se a grandes nomes e mora só numa cobertura luxuosa. Está noivo de uma promotora que no momento viaja pela Europa. Veste-se com o que há de mais caro e elegante. Seu meio de transporte é uma belíssimo importado que arranca suspiros da molecada na rua, presente que dera a si mesmo em seu aniversário. É um homem sem religião, gosta de dominar as situações e não suporta a pobreza, a miséria, a ignorância e os desvios naturais, como costuma chamar as pessoas deficientes e de outras raças e etnias. Em seu quarto expões uma coleção de gravuras de Basquiat compradas em Nova York em sua última viagem.
         Há dez anos não vê os pais e irmãos. Desligou-se da família no momento que percebeu que sua conta bancária era maior que de todos os parentes juntos. Não aceitava o fato de tê-los por perto desfrutando daquilo que conseguira sozinho.
      Na segunda-feira da primeira semana de sua pena, Ethon acordou mal humorado e não tomou café da manhã. O único pensamento que lhe vinha à mente era do hospital. Não sabia o que encontraria. Nunca estivera num local como esse. Amaldiçoou o momento em que passou naquela rua suja, daquele bairro pobre.
Os dias que se seguiram até a quinta-feira foram um inferno para ele.
         Quando parou no estacionamento do hospital do Câncer Infantil, respirou fundo e bateu violentamente a porta do seu automóvel. As pessoas que passavam o olharam apavoradas. Ele deveria procurar a diretora do hospital, para saber em que ala deveria permanecer naquele dia.
       Doralice Banthel era uma senhora de setenta anos, muito bonita e simpática. Percebeu no momento que vira Ethon que aquelas visitas seriam cruéis demais para ele. Encaminharam-se para a ala das crianças recuperadas. Aquelas que deveriam ter alta nos próximos dias. Doralice achou que seria melhor e menos dramático sua iniciação num local mais tranqüilo. Ethon não tocava em nada. Tinha medo de se contaminar com alguma bactéria. Estava nervoso. Odiava crianças.
    Sentou-se quieto numa cadeirinha e ficou observando as crianças brincarem enquanto Doralice se afastava. Uma menina de uns quatro anos se aproximou e perguntou seu nome. Ethon respondeu entre os dentes e a garotinha sorriu dizendo que o nome era engraçado, mas que ele era um moço muito bonito. Se tivesse que escolher um pai queria que ele fosse assim, forte e bonito.
       O elogio sincero daquela criança tocou num ponto pequeno do coração de Ethon. Ele conseguiu sorrir e agradecer sem se esforçar para isso e muito mais surpreendente fora sua reação perguntando o nome da garotinha. Era Maria Julia e estava ali se recuperando de um câncer no fígado. Mostrou a cicatriz ao jovem que se desesperou tampando o rosto. A menina achou graça e gargalhou. Interpretou a repudia de Ethon como uma brincadeira. Como típico em todas as crianças, Maria Julia saiu correndo sem dizer um adeus, ou até breve. Correu para se juntar as outras crianças. Contou a elas o nome dele e todas o olharam abanando as mãozinhas em sinal de cumprimento. Um pouco encabulado abanou a mão em resposta. Permaneceu ali contando cada minuto do seu tempo.

         As semanas que seguiram foram terríveis e a cada visita Ethon sentia-se ainda mais incapaz de ter uma família. Chegou a ter pesadelos com crianças deformadas correndo atrás dele gritando “papai”.
       Mas Doralice havia poupado Ethon do mais grave, na semana do dia das crianças ela o apresentaria a ala dos quimioterápicos. Sua expressão de desespero assustou a mulher. O jovem estava pálido ao ver as crianças doentes em camas enormes. Eram dezenas de cabecinhas peladas. Suas peles sem cor e seus olhos transbordando vida. Definitivamente aquilo mudaria sua vida. Permaneceu quieto por duas semanas antes de conseguir conversar com alguma delas. Nos relatórios que Doralice fazia a respeito dele, nunca mencionava que ele sentava-se absorto numa cadeira sem dar atenção a ninguém. Sabia que em breve aquela armadura cairia. E foi numa tarde de chuva intensa que Ethon teve seu primeiro contato com uma das crianças da Quimioterapia.
     Larissa, uma garota de sete anos, que se acostumara à presença de Ethon na ala onde estava, se aproximou e estendeu-lhe a mão. Cumprimentou-o e perguntou se esperava algum filho seu ali sentado. Ele respondeu que não tinha filhos e ia dizer também que detestava crianças quando a menina interrompeu-o perguntando se ele não queria contar uma história para ela. Sem reação ele concordou, mas buscando em sua memória não conseguia lembrar-se de nada. Confessou a garota que não conseguia achar uma história boa, que as que escutava quando criança se perderam na sua memória. Larissa olhou-o um pouco decepcionada e pediu que lhe contasse sobre sua vida. Todos tínhamos uma história de vida. Ela estava vivendo a sua, e ele já adulto deveria ter muito mais para contar. Novamente encabulado perguntou o que queria saber. Dando de ombros ela disse que gostaria de saber como foi seu primeiro beijo.
         Ethon riu. Nunca haviam perguntado isso a ele. Mas fazendo esforço conseguiu buscar no passado a cena onde estava sentado junto de uma garota numa festa de aniversário. Tinha quatorze anos e a garota o puxou com tanta força que eles bateram os dentes um no outro provocando um som estridente chamando atenção de quem estava por perto. Larissa ria do sorriso de Ethon. Quando ele terminou de contar ela depositou seu dedo indicador na palma da mão dele e disse: “Que bom!”. Naquele momento Ethon percebeu o que Larissa sentia. Provavelmente ela não chegaria à adolescência. Seu coração doeu e Ethon acariciou o rosto da menina. Naquela noite chorou e sentiu vontade de ligar para sua mãe. Queria ter uma voz reconfortante do outro lado do telefone. Sua noiva riria dele, provavelmente, ele se sentia só, muito só.
         Sabia que Larissa adorava bonecas de pano e comprou meia dúzia delas. Uma para cada garota daquela ala. Para os cinco meninos um boné de marca. Gastou um dinheiro que em outros tempos teria dado em algum restaurante badalado numa noite de risadas hipócritas. A felicidade que as crianças demonstraram com o presente o deixou tão satisfeito que naquela tarde contou mais uma história da sua vida. Só que dessa vez tinha uma platéia muito maior. As crianças aplaudiam suas facetas até mesmo aquelas no tribunal, onde elas mal sabiam do que ele falava. O fato de ele estar ali era suficiente, e foi Doralice que lhe disse isso. Ethon sentiu uma enorme compaixão por cada um daquele lugar.
         Na semana seguinte havia mais um garoto na ala cinco. Ele iniciara um tratamento rigoroso e estava um pouco acanhado. As crianças disseram a Ethon que fosse conversar com o rapazinho e contar-lhe histórias boas como só ele sabia fazer. Aceito o convite e se encaminhou ao menino. Sentou-se na beirada da cama e puxou papo. Apresentou-se e disse que queria ser seu amigo. Murilo o olhou e sorriu. Confessou facilmente a ele que estava com medo. Ethon já um pouco acostumado com o sofrimento daquelas crianças disse que tudo daria certo. Não se importava mais com os acessos de tosse e vômito deles. Achava tudo normal e fazia possível para se sentirem bem. Mas Murilo estava ali deitado trêmulo e Ethon segurou sua mão. Olhou em seu braço e os olhos se encheram de lágrimas. O garoto tinha no pulso um relógio antigo, um modelo que não era mais fabricado. Ethon com doze anos desejou mais que tudo em sua vida ter um relógio daquele. Perguntou a Murilo de quem era aquele objeto e ele respondeu que fora um presente de seu pai. Era um relógio que ganhara há muitos anos e queria que o filho ficasse com ele para lembra-se sempre que estavam por perto. Era um objeto significativo para todos da família. A peça antiga não combinava com um garoto tão jovem, mas compreendeu o significado do ato.
         Ethon voltou no passado e lembrou-se da expectativa do natal onde também ganharia um relógio daqueles. Havia pedido ao pai que lhe comprasse. Contou para todos na escola. Fez acordos com os amigos da rua que os deixaria colocarem por alguns minutos e que seu relógio seria o mais bonito de todos. Um vizinho que trabalhava como piloto de aviões prometeu trazer. Por semanas Ethon esperava o homem chegar. Quando o viu partir novamente sem ter lhe falado sentiu certo desespero, mas tinha certeza que na noite de natal o seu lindo presente estaria debaixo da árvore.
         Era uma família de posses controladas, sem desperdícios e supérfluos, mas felizes. O casal e seus seis filhos nunca pereciam de nada. As crianças tiveram bons estudos e Ethon, caçula, era mimado por todos. E o grande dia havia chegado e ansioso tomou banho e pôs-se sentado do lado da árvore de natal, esperando a hora certa de ganhar seu presente. Todos riam da sua atitude, mas ele estava tão empolgado que não dava atenção aos irmãos.
         Quando a mãe distribuiu um a um os presentes Ethon saltou e agarrou o seu. Sôfrego abriu o embrulho rasgando o papel e atirando longe. Seu coração gelou quando viu dentro da caixinha uma gaita. Olhou ao redor para constatar se havia outro embrulho, mas não, era aquele o seu presente. Sentiu um mistura de raiva, decepção e tristeza. Olhou para a mãe que entendeu sua dor e sorriu triste. Ethon para não magoar os pais, fingiu ter adorado o instrumento novo. E forçado a tocar, tirou daquele objeto as notas mais tristes que alguém podia ter ouvido. Sua música transformou aquela ceia de natal num momento melancólico. A mãe não suportando deixou a sala e foi chorar sozinha na copa. Ethon sentiu-se enganado. Sabia que o pai poderia ter comprado, mas perdoou. Um dia teria tudo o que quisesse.
         Murilo apertou a mão de Ethon e ele voltou de seu transe. Beijou a mão do garoto e deixou o hospital.
À noite solitário, recebeu telefonemas de amigos para uma confraternização. Queriam que os acompanhasse numa casa noturna. O jovem agradeceu o convite e desligou o telefone. Permaneceu sentado no sofá olhando para o aparelho de telefone. Algumas vezes ameaçou e tomando coragem ligou. Ouviu a voz da mãe e sentiu uma felicidade intensa. Respondeu a pergunta dizendo ser ele. A mãe efusiva gritava de alegria do outro lado. Chamava a todos para ouvir a voz de Ethon no telefone. Ele chorava por perceber que a família ainda o queria. Contou as novidades e combinou ir passar uma semana com eles.
         No próximo encontro que teve com as crianças contou-lhes da família e disse a Murilo que iria buscar sua gaita. No momento o garotinho achou que ele queria trocar pelo relógio, mas Ethon disse que ia buscar para dar-lhe de presente. Fizeram festa e Doralice de longe agradeceu a Deus por Ethon ter se encontrado.

         Quando parou o carro na casa dos pais saltou e correu abrir o portão. Há dez anos não os via e a recepção que teve foi tão calorosa como se os tivesse deixado há algumas horas.
         Contou as novidades de dez anos. Falou de seu emprego, de sua namorada, dos amigos e do acidente. A mãe afagou-lhe os cabelos e encostou-o ao peito como fazia quando criança. Estava feliz que seu caçula estava de volta. Ethan sentiu falta dos avós que haviam partido durante esse período que esteve afastado.
         Os cinco dias que permaneceu com eles foram intensos. Reviu tios, primos e antigos amigos de rua. Todos o abraçavam e diziam que o recomendariam como advogado. Antes de deixar a casa pediu a mãe sua gaita. Ela sorriu compreendendo que aquele trauma ainda permanecia nele. Entregou-lhe o objeto do mesmo jeito que deixou quando foi embora.
         No caminho de volta Ethon abriu o embrulho e tocou uma música alegre. Estava feliz.

         Arrumou-se muito bem e deixou a casa. Seria a última semana de sua pena. Levaria para Murilo a gaita e contaria a eles como foi sua semana com a família. Pedira licença ao juiz que a concedera de sem precisar compensa-la depois. Quando entrou na ala as crianças vieram correndo abraça-lo. Ele as beijava na cabeça, no rosto. O toque de cada criança o fazia rejuvenescer. Procurou por Murilo e não o viu. Esperou que voltasse. Talvez estivesse fazendo a seção de quimioterapia. Uma a uma as crianças deitaram-se cansadas para o repouso da tarde. Ethon deixou-os sós e foi procurar Murilo. Encontrou Doralice e perguntou do garoto. Murilo morrera na véspera, à noite. O coração não resistira ao tratamento agressivo. No seu armário havia um pacote que os pais de Murilo deixaram para Ethon. Transtornado encaminhou-se para o quarto e passou pelas crianças sem vê-las. Abriu o armário do garoto e lá havia uma caixa. Dentro um bilhete escrito pelo próprio Murilo dizia que estava deixando como herança para ele o relógio que o pai lhe dera. Num trecho o garoto citava que se no passado aquele objeto fora motivo de tamanha decepção, hoje ele lhe deixava, como um presente tardio. Uma atitude tão adulta de um menino tão jovem! Papai Noel era um homem ocupado. Mas nunca esquecia um pedido feito de coração. Ethon sentou-se no chão para chorar. Perdera as forças e permaneceu ali olhando para aquele relógio. Por que passara tanto tempo preso a uma lembrança e a um sentimento de desprezo. Podia neste período todo, ter desfrutado do nascimento dos sobrinhos, e ele mesmo podia ter sido pai. Achava que perdoara os pais pela decepção, mas não. A vida toda os acusou. Neste momento sim, o perdão foi sentido, no fundo de sua alma.

         Ethon providenciou o funeral de Murilo. Pediu aos pais que o deixasse fazer isso. Acompanhou o sepultamento e jogou flores em seu caixão. Num cantinho próximo ao seu pé, Ethon deixou a gaita. Era o presente prometido. Ele queria que Murilo soubesse que era um homem de palavra, livre dos fantasmas do passado. Ao sair do cemitério, Ethon esbarrou num senhor idoso, levantou os olhos e viu que era o Juiz que o condenara. Encarou o homem frente a frente. Ergueu a mão e o cumprimentou. Puxou-o de encontro ao peito. Não pensou em nenhum instante que poderia estar cometendo um ato de desrespeito. Abraçou muito forte aquele homem. Quando se afastou o velho chorava. Enxugou os olhos e colocou a mão no ombro de Ethon. Agradeceu por ele ter sido tão especial nos últimos dias de vida do seu neto. O velho era avô de Murilo e sentiu uma emoção grande quando o neto lhe pediu que desse o relógio a Ethon. O senhor de cabelos brancos ficou ainda mais comovido quando percebeu que o jovem usava o relógio no pulso direito.
         Eles se olharam mais uma vez e se afastaram. Por inúmeras vezes estiveram juntos em tribunais. Havia sempre um misto de emoções quando se viam. Ethon retornou várias vezes a casa dos pais e seu filho se chama Murilo. No Natal que completou nove anos, Papai Noel trouxe exatamente aquilo que pedira.

fim

RECOMEÇAR PARA O NATAL

Preciso voltar mais vezes ao blog, colocar mais temas em debate e movimentar um pouco essa casa que tanto gosto.

Tenho confabulado muito nos últimos tempos, revendo atitudes e dando importância maior a outras que deixava de lado. A morte da minha mãe ajudou muito nisso, inclusive a desfazer de muita coisa material que guardava sem necessidade. A primeira atitude depois da sua passagem foi colocar em pratos limpos alguns problemas envolvendo família. Uma mesa redonda com meus irmãos que resultou em excelentes frutos para o futuro. Mas na ultima semana tomei coragem e fiz uma faxina geral. Joguei fora 5 sacos de 100 litros até a boca de recordações que guardava. Papeis, fotos e outras coisas que só entulhavam minha casa. Me senti renovado.

E nesse revival encontrei muita coisa do passado que fez rir, chorar e ter a certeza que criei e construí uma boa história, com amigos, familiares e pessoas que já partiram. E não querendo bancar o bom samaritano, tive a certeza de ser uma pessoa solidaria.

Eu me preocupo com as pessoas, isso é fato, mesmo aquelas que nem se dão conta disso. Uma ofensa a quem gosto, dói em mim também, e acredito ser por isso que a ingratidão vem em primeiro lugar na minha lista de defeitos humanos.

Não há nada pior que ver alguém pagando com desprezo aquilo que outro fez de coração. Eu já tive minha carga de ingratidão na vida, que machucou muito, mas sobrevivi. Não acredito ter esquecido, mas deixado de lado. Afinal muitas delas vêm de dentro de casa, e o que se faz com isso? Melhor guardar do que viver de nariz torcido com aqueles que te são de sangue.

Nas ultimas semanas presenciei duas formas de ingratidão terríveis, e o pior, ambas direcionadas a mesma pessoa. Por educação e respeito não direi do que se trata, até para evitar exposições desnecessárias. Mas me frustra ver que uma pessoa dedica tempo e boa vontade por anos, para agradar e satisfazer um punhado de gente e na primeira oportunidade viram as costas pra ela deixando-a sem reação. Algumas gentilezas na vida são tão necessárias, e custam tão pouco!!!

Quando se está por baixo, com problemas ( até de saúde) o que mais queremos são mãos estendidas e solidárias. Isso tem, repito “tem” que ser enxergado e retribuído. A vida é uma constante volta. O que se faz hoje, amanhã é devolvido. Regra básica do universo. E mesmo assim há inúmeras pessoas que parecem não entender essa fórmula. Aí penso, por que disso?

Concluí que na maioria das vezes a ingratidão vem acompanhada de outro erro de comportamento chamado “soberba”. É um dos pecados capitais, mas nos dias de hoje, as pessoas nem se lembram do que é um “pecado”. Atingem o outro para satisfazer o ego. Isso é tão pequeno e mesquinho que realmente precisaria de horas e paginas  para externar o que sinto.

O Natal tá chegando e o tempo de solidariedade também ( as pessoas passam o ano fazendo mal pra todo mundo, mas o natal é sagrado), e de antemão afirmo que minha postura para esse ano mudou. Não quero festas, não quero grandes eventos. 

Quero o calor humano, quero sentir o amor das pessoas de verdade. Não que anos anteriores não tivesse isso, mas sempre estive envolto em presentes e mimos. Esse ano não! Quero ver onde está a verdadeira gratidão das pessoas. Será definitivamente um momento de recomeço, em muitos aspectos.


Os amigos e familiares que lerem concluirão que não haverá presentes. Fiquem tranquilos, acima de tudo, o prazer de presentear faz parte da minha personalidade.

Abraço a todos e boa semana.


MULHERES NO VOLANTE

Que mulher é um bicho confuso, que ninguém entende é retorico, mas nos últimos tempos tenho me espantado com tamanha falta de educação que as ditas ”sexo frágil” vem apresentando.

Todos os dias entro e saio do edifício onde trabalho por uma rampa de acesso suave que desemboca no cruzamento de uma rua movimentada com um avenida mega, blaster cheia. Nunca embico direto, fico parado a meio fio esperando pessoas educadas darem passagem. Não preciso dizer que nunca, digo nunca mesmo, uma mulher cede à frente para que eu possa sair. Quando embico e já há carros parados no semáforo geralmente ( homens no volante) dão sinal para que entre. Se for uma mulher além de não dar passagem elas descem o carro impossibilitando toda e qualquer tentativa de entrar no transito. Aí pergunto, por quê?


Gostaria de entender o que se passa na cabeça de mulheres motoristas. Elas acreditam que se forem educadas e darem passagem vão se tornar inferiores a alguém? Não só nesse caso verifico a falta de educação delas no transito. Pelo menos aqui em Campinas e no bairro onde moro e trabalho elas vivem num casulo próprio, num transito que só existe para seu deleite e esquecem o que há em volta. Falam no celular tranquilamente ziguezagueando pelas ruas ( algumas ainda de paralelepípedos) bloqueando o transito. O bairro é cheio de comercio, então elas caminham em fila dupla a 2/hr vendo o que há de novidades em vitrines. Isso mesmo, o que costumam fazer em shoppings no meu bairro fazem com o carro.

E falando em fila dupla, não há o que explicar em relação aos filhos que buscam e levam para escola. Inacreditavelmente formam filas triplas em avenidas ou duplas em ruas que só passam 2 carros por vez. E xingam caso alguém buzine por que se veem no direito sagrado de buscarem seus rebentos tendo na cabeça o direito de bloquearem o transito nas horas mais improváveis do mundo.

Vejo o momento em que as vagas em locais públicos serão divididas em: apenas 1% para deficientes (os que mais precisam); 40 % para idosos (que pela contagem dos estabelecimentos frequentam muito mais os locais do que o restante da população); e 50 % para mulheres. Sobrando míseros 9% para todo o restante da população. Reza a lenda que se você coçar a bunda arruma vaga rapidamente em estacionamentos públicos. Aqui em Campinas sangraremos as nádegas por uma vaga, certeza!

Minha cidade tem um dos piores trânsitos que existe no país. Não há em outro lugar pessoas tão malcriadas e folgadas como aqui. Não existe aquele consenso de São Paulo que as pessoas trocam de faixa com apenas um sinal de seta. Aqui precisa enfiar a cabeça pra fora e gritar: DEIXA EU ENTRAR PORRA!!!

Apesar de campineiro, nascido, criado e estudado por aqui, não concordo com o modo de vida e a forma como as pessoas tratam forasteiros. E posso dizer mais. Numa rodinha de mulheres se elas encontram alguma que não seja nativa a desprezam como um besouro rola bosta.

Mulher é um ser complicado e as Campineiras são duplamente.

Não sei como é na cidade de vocês, mas aqui as mulheres se julgam donas de tudo.

Abração e ótima quinta feira pra todos.

LUTO

Não há necessidade de repetir o quanto eu admiro e respeito meus amigos virtuais dos blogs desse mundão cibernético. Conheci pessoas que a vida dificilmente traria para perto se não fosse esse veiculo importantíssimo, que pra mim é a melhor invenção desde o surgimento da televisão.

E esses amigos são pessoas, claro, de carne e osso, com histórias de vida tão bonitas e enriquecedoras que facilmente se transformariam em personagens dos meus romances e contos, que um dia hei de publicar.

Mas não é por esse motivo o post de hoje e sim por um sentimento que une 4 de nós. Marcia Andrade ( que tinha um blog, hoje fechado chamado – Diário da Má). Paulo Braccini (@enfim é o que tem pra hoje) eu, e Margot ( Ponta de punhal).

Para quem nos segue sabe a razão desse sentimento. Todos os quatro perdemos nossas queridas mães na ordem que citei acima.

Somos quatro pessoas de lugares distintos desse país. Cada um teve sua cota dramática para a partida dessas que talvez sejam a mais importante pessoa das nossas vidas. Há os filhos que também sei serem como pedaço de nós, mas dos 4, apenas Margot os tem.

Margot perdeu sua mãe na ultima sexta feira dia 11 e sei que apesar da avançada idade que se encontrava a dor não é amenizada. Não importa com quantos anos elas se vão, o sentimento de perda, de desamparo é o mesmo.  Sou solidário a ela nesse momento pelas razões obvias que nos une. A minha se foi há 4 meses e ainda não superei a falta, apesar de conformado com sua ida.

As pessoas não gostam de pensar sobre esse assunto. Acho certo. Não se deve imaginar perdas. Quando acontecem, pronto, vive-se o momento e depois os dias consecutivos que são necessários para o luto. O que vem depois? Cada um sabe de si. Alguns ficam serenos, outros choram a ausência, e alguns notam que havia dividas que não foram quitadas em tempo.

Pelo que conheço de nós 4, todos estamos tranquilos quanto a isso. Todos cumprimos nossas missões com as mães. Paulo, Marcia, eu e Margot fizemos por elas o que era devido, o que estava no alcance das mãos, e até um pouco além. Vivo tranquilo com isso, apesar da saudade ser tão, tão doida, que muitas vezes não há palavras que se juntem a essa “saudade” para explicar o sentimento.

A mãe da Marcia se foi há mais tempo, e sei que ela ainda sente sua falta, mas a dor lancinante já passou. Dona Terezinha, mãe do Paulo se foi, acredito, há quase dois anos. Ambos passaram pelo pior e agora tem no peito apenas o sentimento de saudade.

Para mim, a cada dia que passa ameniza um pouco, mas ainda preciso viver o primeiro ano inteiro de datas e comemorações onde ela não estará presente. Tem dias que a vontade de chorar é tão forte que no fim da tarde quando chego em casa a cabeça explode de dor.

Margot inicia, infelizmente esse ciclo que caminhei um pouco. Espero, de coração, que supere. Paulo e Marcia me disseram palavras reconfortantes nesse período que me ajudaram. Quando temos iguais na mesma dor, ela se dissipa um pouco. Apesar de acreditar que “a nossa dor” ( individual) sempre é maior que dos outros.

Que os dias de alegria voltem a nos encantar. Que o tempo passe e a presença física delas seja uma lembrança bonita do tempo que estivemos juntos. Não há como chorar uma vida toda. Vive-se o luto e bola pra frente.

Só não deixem nunca, aqueles que a mãe está por perto, de dizerem o quanto elas são importantes para vocês.


Boa semana a todos.

O BRASIL É UMA BABEL

O Brasil é sem dúvidas o país do “samba do criolo doido”. Aqui se faz leis que não são cumpridas. Existe o teste do bafômetro para comprovar que a pessoa está bêbada, mas mesmo visivelmente alcoolizada não tem obrigação de soprar o bagulho “para não criar provas contra si”. Isso é algo risível.

Crianças não podem levar tapas na bunda por que prejudica a formação moral. Separem as mães neuróticas, que tem filhos para cumprir tabela e não tem paciência, daquelas que realmente querem educar um filho. Um tapa na bunda nunca fez mal a ninguém, pelo contrario, ajudava a colocar limites numa criança. Mas hoje, com a modernidade e a frustração da geração Y de mulheres que perceberam que o mundo delas não tinha pôneis que cuspiam arco íris tornaram-se uma bomba relógio e descontam nos seus rebentos toda a neura de casamentos frustrados e empregos mal fadados. Dei o exemplo das mulheres, mas não tiro desse balaio os homens (pais), que são tão culpados quanto às mães, por que na maioria das vezes se omitem na educação dos filhos. A Xuxa faz campanha contra a violência infantil, e eu apoio, assino embaixo, mas a dona aí precisa ver que educação é educação, violência é violência.
                                           Mulheres frustradas com carreira e casamento.

Qualquer piadinha na escola é bullying. Isso virou uma febre absurda. Claro que existe essa pratica entre jovens, mas acho mais grave quando um único garoto(a) sirva de esparre para uma colônia inteira de adolescentes transbordarem suas esquisitices bizarras. Uma piadinha, um apelido entre amigos não é bullying. Estão tirando das crianças a agressividade “boa” de se defenderem e saltarem seus obstáculos. Outro dia presenciei crianças de 3 anos brincando, e alguém dizer que uma delas estava praticando bullying com a outra. Definitivamente, as pessoas não sabem o que é isso.
                                                              Isso não é bullying OK!!!

Pregam a infância sem tapas, a adolescência sem bullying, mas não olham que já aos 14 ou 15 anos são alcoólatras em potencial que não conseguem sair para uma balada sem encher a cara. E o pior, muitos deles necessitam de coisas mais pesadas para sentirem-se na “vibe”. As mães frustradas e os pais omissos dormem tranquilamente enquanto seus filhos estão em coma alcoólico na casa de algum amigo. Sensacional! A educação moderna está sensacional!!!

Os jovens em começo de carreira passam por cima de tudo e todos. Acabou a ética no trabalho. Uma pessoa de 30 anos hoje é um velho que deve ser colocado num asilo para dar lugar a jovens de 20 e poucos que são merecedores do mundo. Nós de 40, 50, 60, ou mais, na cabeça deles deveríamos ser exterminados, por que ocupamos lugar no planeta e bebemos a água que acreditam irá faltar no futuro. O exemplo é extremo, mas da forma que raciocinam os jovens de hoje, não demorará para que ajam assim.
                            Essa é minha vontade quando encontro um jovem mal educado.

Criamos uma legião de velhos arbitrários. Onde quer que estejam, alguns deles se julgam dono do espaço, e maltratam e se impõe de forma tão irritante que dá vontade de xingar. Estava numa fila dentro do Carrefour esperando minha vez de comprar frios. Havia umas 4 pessoas na minha frente, e umas 5 atrás. Uma velha de nariz empinado e extremamente grosseira parou no balcão e ordenou a moça que já atendia um cliente que pegasse algo para ela na vitrine. Ignorou todos que estavam ali. Falta de educação e respeito. Não generalizo, por que há muitos velhinhos dóceis e maravilhosos, mas há esses que foram criados como monstros. Ai de quem diz alguma coisa para um deles!!!
Minha cara quando uma velha corta a frente numa fila.

Não se pode nem soltar um palavrão inocente por que se tiver algum político perto dirá que incidimos em preconceito contra a mãe deles. 

Não sei em que mundo ou país vivemos. Imagino o planeta em 2050 quando passaremos a ser imortais. Quero um lugar em marte, e uma passagem baratinha.

Boa semana a todos.

QUERO SER BENJAMIN BUTTON

Quando adolescentes temos medos e vergonhas de tudo que se passa em volta. É um terror diário que vai se acumulando para vida adulta. Se não exorcizados no fim da adolescência, atrapalham o amadurecimento e fazem com que soframos com coisas tão absurdas que visto por outro ângulo pode parecer esquisitice.



Peter Pan ou a fada madrinha de Cinderela deveriam explicar para as crianças na primeira infância  que alguns medos são tão bobos que basta acender a luz que se dissipam.

Dar o primeiro beijo para alguns adolescentes é tão complicado como ir ao mercado comprar açúcar para a mãe. Vergonha ou medo, não dá pra saber! Só fica evidente que o menino (a) sofre ao ser dada a tarefa. Para alguns falar ou atender telefone se torna uma angustia incalculável.

Se os jovens soubessem que dar o braço para a mãe ou avó na rua não é tão ruim como eles pensam, nem vergonhoso, garanto que fariam com maior prazer, por que um dia isso faz muita falta.

Beijar não é um monstro que vai caçoar da sua cara. Tudo tem uma primeira vez, e nenhuma estreia é tão boa quando se pensa. Algumas coisas na vida precisam de muita pratica para se tornarem satisfatórias.

Meninos que não querem crescer e meninas que se acham princesas se deparam com uma realidade tão dura quando encaram o mundo de frente e descobrem as duras penas que seu jardim não tem pôneis coloridos que soltam arco íris pela boca, muito menos a capa de super poderes fará com que voem destemidamente. Ser adulto é difícil.

Falar em publico é um exercício que se faz na adolescência. É preciso ter cara de pau de levantar em sala de aula e ler sua redação como se estivesse se olhando no espelho, sozinho num quarto. Essa paúra gera um medo enorme na pessoa madura e a vida profissional acaba sendo afetada, por que haverá o momento em que precisará sentar-se em frente a um chefe, uma entrevistadora de emprego que lerá muito bem a sua timidez exacerbada.

Ninguém é melhor que você! Explicando a frase: acredito que se carrega dentro da cabeça a ideia de que as pessoas em volta são melhores do que você por terem carros novos, viajado varias vezes ao exterior, pessoas em altos cargos políticos ou tem uma casa de cinema está minando sua capacidade de ser “alguém” no mundo. Posses não determinam e nem qualificam melhores ou piores. Apenas distinguem classes. A inteligência sim é algo que faz diferença. Alguns podem dizer que preferem ser um burro rico a um pobre inteligente. Ainda acredito que a inteligência pode trazer mais benefícios, inclusive a riqueza. Quando se olha demais a grama do vizinho, se esquece de regar a sua.

A vida deveria ser como o filme Benjamin Button, nascermos velhos e aos poucos ganharmos experiência num corpo que se rejuvenesce a cada dia, para quando tivermos a inteligência emocional plena, podermos desfruta-la num corpo jovem. É duro enxergar os erros da adolescência e vermos sua incapacidade de entendê-las.

Não sou a favor da autoestima acentuada, aquela que gera monstros em rolos compressores. Bom senso é necessário e deve ser cultivado na criança já no berço. Não há coisa pior do que um jovem desrespeitoso que acredita ser o dono do mundo. Quando digo “ninguém é melhor que você” não aplico a esses guris que se acham o futuro promissor do mundo. Em dez anos estão carecas, gordos, bebendo de forma desregrada por que no caminho se depararam com a realidade e a frustração é a pior arma para esses meninos da geração Y.

Ainda agradeço por ter nascido na década de 70. Só acho que perdi muito tempo sendo tímido. Se a produção deixar, posso voltar para década de 80 de novo?

Abração e ótima quinta feira a todos.



NÃO QUERO SER UM CRIADO MUDO

Eu sempre tive medo de me transformar num móvel. Sabe aquela pessoa da família, um tio ou tia, que ninguém liga, ninguém se preocupa, apenas sabe que existe? Então, essa pessoa que pode ser confundida com um sofá, um criado mudo, uma geladeira. Isso sempre me apavorou.

No trabalho tem aquele que as pessoas têm pena, deixam ficar por ali por que já faz parte da paisagem. Ele nunca é convidado pra nada, por que sabe né, o Zé não tem bom papo, ele nem sabe das modinhas e das tecnologias de ponta. Na confraternização de fim de ano seu nome nem aparece na lista por que ele já faz parte do mobiliário da “firma” então pra que se preocupar com ele, vai estar lá mesmo.

Esses indivíduos invisíveis me assustam. Não quero em momento algum da minha vida ser uma pessoa que os outros olham e não enxergam, que a opinião nem é escudada mesmo que falada em voz alta. A tia velha e solteirona que a família esquece-se de levar para praia por que acha que não gosta, mas ninguém nunca perguntou a ela se o mar lhe agradava.

Não sei em que parte da vida esse pessoa tomou a poção da invisibilidade. Tive varias na minha família, e sempre eram aquelas que abdicaram da vida pessoal pra cuidar de uma mãe doente, um pai ou sobrinhos. Tornaram-se esquecidas por que a família se acostumou que o parente doente ou idoso tinha uma muleta em quem apoiar e esse pedaço de madeira não reclamava, obedecia. Um dia o idoso se vai e o “cuidador”, que dedicou sua  vida continua lá, como um móvel velho, esquecido na decoração démodé da casa de infância.

Não quero ser aquela pessoa que ganha meias nas festividades. Pra mim o ápice do esquecimento é dar meias a alguém. Você se torna tão pouco importante que o individuo sai pra comprar presentes de natal para a família e pensa: deixa-me dar uma lembrancinha pra fulano, afinal ele estará lá. Meias!!! Não me deem meias, nunca, por favor. Ainda aceito presente do Boticário que no meu ponto de vista também é algo que demonstra a pouca importância que você tem para os outros. Quando quero presentear alguém eu penso, eu rodo, eu busco algo que faça a diferença. O Boticário está ali, para economizar tempo, pensamento, e grana!

Ser invisível é péssimo. Eu já me coloquei no lugar de pessoas assim. Eu já fui um dia invisível na escola. Era um bom aluno, um menino que não provocava e nem brigava, era tímido e circunspecto. Então ficava ali, no canto, sem bullying, mas também sem atenção. Um dia fiz um feito memorável e então descobriram que eu existia. De lá pra cá eu pelo menos me faço enxergar. E olha que não preciso usar uma melancia no pescoço e nem criar polemicas para isso. Um assunto que rende outro post, os super-mega-blaster simpáticos. Desses eu tenho é medo!

Olhe ao redor, reveja os parentes da família e pense se não há por perto um ser invisível, o criado mudo. Vá até ele e dê cinco minutos do seu tempo com um papo descontraído. Escute-o! Quem sabe não estará lhe dando muito mais do que “meias”. Atenção e ouvido podem fazer mais diferença do que algo material.

Boa quarta feira a todos.



ALMAS PARTIDAS

A tristeza é uma doença da alma.

Todos em um determinado momento da vida nos despedaçamos por algum motivo. Seja pelo sofrimento de um amor que se foi, aquele não correspondido ou ignorado. Seja pela prematura passagem de um parente próximo que nunca mais veremos.  Seja pela critica que nos destrói mais que incentiva, ou pela simples fragilidade de estar vivo.

Não sei a que ponto chega o desespero de uma pessoa que mesmo numa estrutura familiar solida, com amigos fieis e um trabalho reconhecido tira a sua própria vida num momento de fraqueza.  Isso me perturba por que acho que antes desse ato impensado há centenas de possibilidades de se estruturar. Suicidar-se por vingança é uma idiotice sem precedentes.

Este ano uma jovem de 27 anos atirou-se da janela do 9º do edifício onde moro. Não me lembrava de tê-la visto, mas a sensação de que estava morta na garagem próxima do meu carro me perturbou por semanas. Na minha família guardou-se o segredo da morte de uma tia-avó por décadas, e no fim soube que ela envenenou-se com lisoforme e vinho após um aborto provocado no banheiro de sua casa.

A menina de 27 anos em questão disseram estava depressiva. A família a mandou para cá por que um tio morava no prédio em frente, no mesmo andar, e a controlava 24 hrs numa paranoia frenética. Ela atirou-se da janela enquanto discutia com ele por telefone. A tia-avó deu um mau passo no casamento, engravidou de outro, arrependeu-se, provocou a tragédia e destruiu sua vida e uma família inteira.

Nunca havia percebido a tristeza.  Sempre passei por ela de fininho. Hoje espero o dia que novamente sentirei uma sensação de felicidade. Parece que nunca mais isso acontecerá. Depois de certa idade você acumula uma sucessão de perdas que vão tirando de pouquinho em pouquinho a sua felicidade plena. Alias, acho que essa só existe na inocência da infância.

Mesmo assim, com os dias contados a partir da ultima grande desgraça da vida, não cogito abandonar a luta. Isso é que me faz curioso sobre as pessoas que se entregam em depressão, ou as que dramaticamente se matam. O fundo do poço ainda é um lugar solido pra pisar e com paredes para escalar. Por que acreditar que não haverá saída?

Também sei que cada um tem uma forma de lidar com as adversidades. Não são todos que encaram problemas de frente. Mesmo assim não julgo um suicida mártir. Pra mim são covardes e fracos que não souberam lutar. Toquei nesse assunto hoje por conta dos últimos acontecimentos na mídia. O rapaz da banda Charlie Brown que friamente deu um tiro na cabeça dentro de casa, com uma esposa gravida do lado de fora do cômodo. Isso é mais que covardia, é uma crueldade vingativa que nenhum problema pessoal, depressivo, ou seja la o for, que pode explicar.

As almas se partem um dia. Quando menos se espera ela se rompe em pedacinhos e a gente fica parado, catatônico esperando a força para reagir e juntar os pedaços. Mas é como um vaso de porcelana, uma vez partido, nunca mais terá a mesma beleza. Por mais que juntemos os cacos, eles ficarão visíveis a olho nu na peça montada. Parece clichê, mas é a forma mais simples de se enxergar a tristeza.

Hoje eu não sou plenamente feliz, apesar de tantas coisas boas que tenho na vida. Não é uma tristeza plena, aquela que ninguém pode fazer nada. É desamparo, uma sensação tão pessoal, que mesmo cercado por dezenas de pessoas e familiares, mesmo assim está lá, cutucando o pensamento e te contando que você não tem mais aquilo tudo que aprendeu a amar.

Mas eu sei que dias melhores virão. Ohhh se virão!!! Sempre tive fé que não há mal que perdure para sempre. A vida é uma balança, quanto mais te tiram, mais saldo terá para gastar no futuro.


Boa semana a todos.

CANSEI DE DANIELA MERCURY

Um dia, há mais ou menos 25 anos fui a um show da Daniela Mercury aqui em Campinas. Não assisti nem 10 minutos. Uma das pessoas que estava comigo passou mal, e saí frustrado, por que ela era a coqueluche do momento. Passados esses anos, posso dizer: não pagaria nem R$ 10,00 para vê-la.

Desenvolvi uma antipatia pela artista muito antes dela assumir sua homossexualidade, que para mim ( desculpem os fãs) é um apelo quase desesperado para se manter na mídia.

As coisas acontecem muito cronometradas para ela. No auge da polemica com Feliciano, com declarações da anta Joelma ela me aparece na internet em fotos intimas com uma mulher. Daí seguiu entrevistas no Fantástico e todas as outras programações da Rede Globo e pronto, Daniela Mercury virou o símbolo da liberdade sexual no país. Eu queria dizer um baita palavrão aqui, agora, mas respeitarei os leitores.

A senhora Daniela Mercury passou uma vida casada, com um e outro, teve filhos, adotou outros e percebeu seu declínio artístico no país ano a ano. Discos com pouca vendagem, shows em rodeio, e outras formulas de sucesso que não vingaram. Ivete Sangalo despontou e tirou seu lugar, Claudia Fake Leite tem mais publico e admiradores que Daniela, então o que fazer? Vamos entrar na discussão mais acirrada do momento: sair do armário.

Cansei dessa onda dela. Cansei de vê-la falar bobagem. Agora critica até cena de folhetim. Disse não ter gostado da  cena onde Barbara Paz desmascara o personagem Felix chamando-o de “bicha”. Uma cena que foi boa, bem dirigida ( com texto fraco de Walcyr, que é sabido), mas que trouxe a tona problemas muito mais sérios do que uma cantora de axé falida que quer se manter desesperadamente em voga ( usei essa palavra antiga para demonstrar que Daniela é passado). Pra mim ela e Joelma são iguais dentro dos seus mundinhos cretinos.

Alguém precisa dizer a ela para parar de querer defender os gays da forma como tem feito. Ela NÃO é porta voz. Deixe isso para mentes mais inteligentes com Jean Willys que sabe dialogar e debater temas. Ou para qualquer outra pessoa que não queria se promover usando esse tema.

A cada semana que ela não é comentário em redes sociais, vem outra onde ela aparece polemizando. Ou aos beijos em publico com sua “esposa”, ou falando bobagens em programas de TV. Não me lembro de alguma musica boa dela nos últimos 5 anos ( se é que teve alguma na carreira). A tenho visto como uma Preta Gil, que não canta nada, não trás beneficio algum para cultura do país e esta lá, na mídia, seja em anúncios, ou falando merda. Estou muito cansado disso, sem paciência alguma para falsos moralistas. Daniela expôs os filhos e os fez incansavelmente dar entrevistas dizendo que amaram o fato da mãe ter virado lesbica do dia pra noite. Constrangedor!

Agora pela manhã vi um vídeo sobre um candidato a primeiro ministro na Austrália e sua posição sobre os homossexuais. Isso é saber defender, falar, debater, discutir. Fundamentos, posição bem explicada e coesa. Não uma descabelada de sotaque baiano que quer ser o ícone de um movimento que não a elegeu.



https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=t8L5YIv9XcM

Tá, dirão que quanto mais se falar do assunto melhor será para a disseminação do tema, e assim as famílias brasileiras irão encarar o assunto com mais naturalidade. Concordo. Podem fazer isso, mas sem a alcunha da promoção pessoal.


Boa semana a todos.

SOU UM PARIDOR!

O Homem não foi feito por Deus com a finalidade de parir um filho, esse dom foi dado às mulheres. Não sei qual o motivo disso, por que a natureza poderia nos ter feito como baratas, ambos procriam,  dão a luz, amamentam e vê seus pimpolhos crescerem saudáveis.

Talvez o parto normal seja o empecilho para uma gravidez masculina, visto que cirurgias de cesariana não são tão antigas assim na humanidade. La nos tempos das cavernas o homem explodiria na hora de parir. Mas Deus nos deu algo para saber o que é parir. Cálculos renais.

Sou agraciado pela divindade de parir filhos há mais ou menos duas décadas. Quando mais jovem o parto normal era menos invasivo, então as paria do modo natural, mesmo passando pelas contrações típicas da hora do parto. Algumas demoraram 24 horas para serem expelidas ou paridas ( por que ficaram paradas, caminhando lentamente no dito cujo) antes de virem ao mundo.

Hoje aos 40 anos prefiro o conforto da anestesia. Vou ao hospital em contrações doloridas que acabam com o seu humor e fazem crer que não há vida nem antes e nem depois da dor, e viverá eternamente se contorcendo, por que aquilo não terá fim. Aí a cirurgia consiste em ir buscar a pedra parada em algum lugar entre rim e bexiga e booommmm, explodi-la com lazer.

Maravilha!!! Se os fragmentos não ficassem dentro de você e saíssem aos poucos dilacerando seu amigão e fazendo rezar para que ele um dia volte a servir apenas para o xixi costumeiro.
Minhas gestações não tem sido de bebês minguados. Não, eles crescem muito! O parto de fevereiro foi de uma menina de 1,5 cm e o outro há um mês de 1,2 cm. Olha que beleza? Orgulho não?

Após esse procedimento no qual o dormonid e a  raquidiana me fazem ver caleidoscópios entre nuvens de algodão foram colocadas por duas vezes um negocinho chamado Duplo J, que impede que o ureter se cole, que haja infecção nos rins e bla bla bla. Ok. Aquilo é como um galho de roseira torcido, que espeta sua bexiga em qualquer movimento que faça. Andar, sentar, deitar, passa a serem atos que te fazem sangrar, sangrar, e gemer!

O primeiro desses bonitos cateteres foi retirado aos berros, sem anestesia. Introduziram no meu amigo um canudo daqueles de milk-shake de ovo maltine do Bob´s onde um endoscópio e uma pinça entraram até a bexiga para laçarem o cateter e retira-lo de lá, num puxão que da a impressão de vir junto metade do seu rim. Lindo, aplausos aos médicos que te estupram sem anestesia, e depois riem dizendo: não doeu tanto assim! Não, canudo no bingulim dos outros é refresco.

No segundo parto fui mais esperto e pedi: deixe uma cordinha pra fora, assim não serei novamente violado numa cadeira de ginecologista. Maravilha, 15 dias com um fio que não acabava mais enroladinho e preso com micropor na lateral do Geninho. Não existe algo que possa pensar que incomode tanto. Ele só é amenizado pela dor que aquele pedaço de roseira que já falei acima causa.

Na hora de tirar o bondoso medico que nem é cubano puxa de uma só vez ( o cateter tem uns 48 cm) e você sente todas as suas entranhas irem junto. Pronto, acabou, vai pra casa, e cuida dos filhos que ainda virão.

Calculo Renal é a forma que Deus escolheu de fazer com que os homens sintam que parir é F*....

Abração e boa semana a todos.