QUANDO A BRINCADEIRA MACHUCA

Quando era moleque e fazia educação física na escola muitas vezes éramos obrigados a dividir o espaço com as meninas, e por isso o esporte ou brincadeira menos agressiva era a chamada “queimada”. Não sei como denominam essa pratica em outras regiões, mas a brincadeira é a mesma. Dois quadrantes distintos, um time de cada lado atirando bola um nos outros, e sai àquele que for atingido. Fácil.

Engraçado que para entender alguns fatos ocorridos comigo nos últimos dias, a única explicação ou exemplo foi um jogo de queimada. O cotidiano da gente é uma brincadeira, estamos ali na quadra, brincando, desviando de bolas, e mantendo-se firme. Um a um os seus oponentes ou companheiros de quadra vão te deixando só. Vão sendo eliminados da sua vida. Amigos que vão pra longe, que perdemos o contato. Quando entramos num jogo de queimada é sempre com certeza que uma hora ou outra você pode ser atingido por uma bola. E quanto maior a intensidade do jogo, mais fortes as bolas são arremessadas. Num pequeno momento de distração a bola te acerta e nesse momento inevitavelmente te machuca, pra valer.

Mas a regra do jogo é essa, desviar das bolas para que elas não te firam. E como tudo é um jogo, aquele que te acerta, seja com a violência que for, está destituído de um pedido de desculpas.


Existem formas variadas de ferir uma pessoa. Algumas vezes isso acontece de proposito, outras sem que o oponente perceba que o faz, mas de qualquer forma quem é atingido, é atingido...rs.

Já li e ouvi a respeito das formas de atingir uma pessoa, formas essas que doem, que deixam marcas e feridas. Quais são essa?

Preconceito?

Traição?

Indiferença, descaso?

Fofoca?

Inveja?

Ciúme?

Muitas vezes todos os ingredientes se misturam no veneno de uma flechada, e aí sim, o estrago é maior.

Mas o ser humano é constituído de inteligência, mesmo os mais ignorantes e alienados. Em algum momento a clareza dos fatos se estampa nos olhos e ele enxerga. O corpo, a mente, começam um processo de cicatrização, e dia após dia aquele machucado vai secando, e a dor passa. Lateja em alguns momentos, mas o tempo, sábio, até isso minimiza.


Existem dores piores do que a bolada no jogo de queimada. Existem perdas irreparáveis. Por isso que em alguns momentos onde alguém involuntariamente te machuca, o melhor a fazer é olhar para os lados e entender que existem angustias piores que as suas. Ajuda a minimizar a decepção. Nesse caso, a retirada estratégica é o melhor remédio. Se isolar até que a tempestade passe. Depois é só varrer as folhas que se espalharam e pronto...tudo limpo novamente.

To machucaram...mas passa.

Boa quarta-feira e já to quase mais velho...rs rs rs..

10 comentários:

Karina disse...

Achei interessante e verdadeira essa relação que fizeste entre a queimada e a vida. Para mim foi inevitável lembrar de uma das músicas que tenho mais ouvido ultimamente: "All things must pass", do George Harrison. Acho que diz mais ou menos a mesma coisa...
Um beijo, Karina.

Atitude: substantivo feminino. disse...

Tinha gente que ficava ensaiando uma jogada que chamava-se : bola rondada.
Essa bolada destruía o integrante adversário. Em muitas partidas ela era proibida, pois rendiam inúmeras boladas na cara (palavras de quem já levou e sempre foi lerda para esportes).
Até hoje vejo gente que ensaia bolas rondadas para saírem por aí ferindo a quem simplesmente só quer se divertir jogando uma bolinha na vida.
Triste.

Unknown disse...

Te dou quase parabéns, então. Porque se quase mais velho, também está bem sábio para a idade e o corpinho!

Edilson Cravo disse...

Querido Rafael:

Eu aprendi depois de muito sofrimento que damos uma importãncia maior a certas pessoas que não merecem tanta deferência, assim é a vida, assim caminha a humanidade. Sofrer? Apenas por quem vale mtooo á pena.
Abraços.

Letícia Cunha disse...

Original sua comparação, além de dizer como tudo acontece na realidade e em nossas vidas! Nada melhor que o jogo de queimada para espelhar o modo como algumas pessoas machucam outras, e, infelizmente, esse tipo de ação acontece diariamente mundo afora...

Tathiana disse...

Não sei pq mas algumas pessoas acham q fazer mal às outras é um tipo de esporte ou lazer...
BJs.

Cris disse...

Oi Bonitinho!
Perdi tanto tempo na minha vida pensando se as pessoas eram más e nos "queimavam" propositalmente ou, se tudo não passava de um acaso da vida.
Perdia tempo em tentar achar alguém que pudesse me explicar porque algumas pessoas sentem ATÉ mesmo satisfação com a infelicidade alheia e como é que a gente faz para fugir das bolas ardentes, em fogo que veem em nossa direção.

Desisti! Perdi só tempo e não consegui entender como funciona o mecanismo humano.
Foi então, que compreendi o mecanismo animal e entendi TUDO perfeitamente.
Ataque se for atacado em sua legítima defesa, pq esse é mais do que um direito. Lamba suas feridas e acredite que sua saliva é a única que possui substâncias capazes de curar sua dor e amenizar todas as sensações ruins do momento.
Vc pode achar um colo, um abrigo, mas a decisão de cura é sua.
Não ataque se não tiver um excelente motivo e... compreenda de uma vez por todas que a natureza humana é mesmo cruel, arbitrária em suas próprias regras e irá feri-lo SEMPRE.

Não faz sentido, né?
Não é o ideal, mas é a realidade.
O bom é saber que em meio ao caos, sempre há uma forma de nos superarmos e o fantástico da vida ( não é rede globo....rs) é que temos uma força rara em nos superar e nos curar.

Um beijo enorme!

She disse...

Simplesmente SENSACIONAL! Adorei a comparação e pior que é assim mesmo, nunca tinha pensado nisso... Caramba, fui longe lendo sobre a brincadeira, brinquei muuuuuuuito! (rsrs)
Bjo, bjo!

Paula Barros disse...

Rafa, espero que o machucado esteja sarando.

E com a sua dor, a análise, a avaliação, tirando reflexões para superar, e até ajudando alguém que esteja em situação de dor, de também ter sido machucado.

Uma forma amadurecida de olhar a vida, de se olhar, e de seguir.

abraço

o Humberto disse...

Muito obrigado por este post.