O PERIGO MORA AO LADO

A casa em que morei toda minha infância, adolescência e parte da vida adulta foi vendida (graças a Deus) e me meus pais mudaram-se, pouco tempo após eu ter ido morar sozinho. O bairro era de classe média como tantos espalhados por São Paulo.

Gostei dela por um tempo, depois passei a detesta-la, mas acho que não pelo imóvel em si, mas pela vizinhança. Algumas velhas fofoqueiras controlavam a vida de todo mundo que morava na redondeza. A rua tinha uma extensão de mais ou menos 400 metros lineares, e cerca de 60 casas, 30 para cada lado. O bom que o leito carroçável era largo, as calçadas também. Quando projetaram o loteamento fizeram essa gentileza aos futuros moradores, então havia sim uma distancia razoável que impedia essas velhas nojentas de ficarem com o nariz cheirando tudo o que fazíamos. Aquilo era um comitê presidido pela Dela Gorila, Saco de Bosta, Cida Córga, Erza Fofoqueira. Eram 4 mulheres de alta periculosidade.

A vizinha do lado direito da minha casa herdara o imóvel após a separação do marido, que a deixou com três filhos, sem um centavo do dia pra noite. O mais obvio foi ela ter deixado a casa, e ido para outra menor, mais barata, alugando o imóvel sem , digo, uma imobiliária para garantir aos vizinhos, inquilinos respeitáveis. Foi quando começou o desespero.

Vizinho n° 1: uma mulher histérica que tinha três filhos pequenos, brancos como leite, chatos e chorões. Eram amigos da Dela Gorila, que morava de frente pra eles. Viveram por quatro anos no máximo, e sempre que víamos as crianças eram pintadas de bolinhas vermelhas como picadas de pernilongo. Logo, começamos nós em casa também com as bolinhas vermelhas. Quando demos conta, minha casa estava infestada de pulgas. Não tínhamos cachorro e nem gato, mas a vizinha tinha. Quando se foram, houve uma dedetização geral num raio de 100 metros, por que empestearam a vizinhança toda, de carrapatos e pulgas. Gente porca!!!
Vizinho 2: Novamente uma família com vários filhos. Só que adultos. Tratava-se de um casal relativamente jovem, com um filho adolescente de 17 anos, uma menina de 16, um rapaz de 13, e um garotinho de 4. Não houve um dia sequer nos dois anos que moraram que não brigaram a ponto de saírem no tapa. A menina era evangélica e gritava palavras da bíblia cada vez que o pai saia na porrada com a madrasta. Drama, confusão e encheção de saco. As fofoqueiras davam plantão nas varandas para verem o quebra pau. O pai da família devia ter uns 40 e poucos anos, e se engraçava com as mulheres da rua...as biscates, diga-se de passagem. O que mais tem são mulheres que ficam fogosas dentro de casa enquanto os cornos dos maridos passam o dia na labuta. Correu boato que o dito cujo do galã pegou várias ali. Enfim se foram, após um quebra pau horrível no meio da noite, em que dezenas de carro de policia os levaram. Maior baixaria...parecia um favelão.

Vizinho n° 3: Um senhor de idade, e seus três netos já adultos. Mal encarados, tatuados, malhados e bandidos. Tinham um Maverick todo tunado, era show de bola, mas dava medo quando eles saiam cantando pneus. Novamente as periquita das donas de casa piaram loucas pelos rapazes da casa 126. Lá um belo dia, chegando do shopping com meus pais, vemos um alvoroço na rua, ao entrarmos perguntamos pra minha avó oq eu tinha acontecido, e ela respondeu: nada, só um povo aí, que fica andando de um lado pro outro. Nisso minha mãe já tinha ido apurar os fatos. Logo na esquina jazia morto um dos jovens vizinhos, metralhado em plena luz do dia. Um horror, o Rio de Janeiro estava ali, com pessoas armadas matando gente inocente na rua. Soubemos tempo depois que fora um marido traído...perseguiu o rapaz e passou fogo. O duro foi que víamos a movimentação a noite dos dois irmãos que ficaram mais o velho. Soubemos que mataram o cara que fez aquilo com o irmão. Enquanto moraram ali, a paz reinou sem que nenhuma das fofoqueiras tivessem coragem de falar deles. Eram bons rapazes, se não fosse a veia bandida.
Vizinho n° 4: a própria dona da casa, após anos fora, retornou. Desta vez veio ela e o filho de uns 30 anos, de voz fina, e apelido no diminutivo. O tempo que passou longe fez com que perdesse a intimidade com os vizinhos. Era reclusa com o filho e mais de 40 gatos, que infernizavam a vida de toda a vizinhança. Passarinhos de estimação começaram a desaparecer das gaiolas. Bolinhas de cocô desciam pelas calhas das casas. Gatos infernais. Uma manhã a gataria apareceu toda morta espalhada pelas calçadas da vizinhança. Alguém havia envenenados os bichanos numa chacina horrenda. A mulher ficou inconsolável e clamava vingança ajoelhada na calçada abraçada em seus gatinhos mortos. Deu pena!

Em meio a isso tudo eu cresci, brincando na rua, descanso. Tendo uma infância saudável como hoje não se tem mais. Esses percalços, hoje são vistos como “problemas”, mas na época era pura diversão. Até no maverick eu dei volta....rs rs rs.

Abração e bom fim de semana a todos.

9 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Rafa, eu tive um visinho rabugento do lado direito, uma neurótica do esquerdo e a fofoqueira de frente, mas, confesso que era um barato tirar esses três do sério kkkkkkk

REalmente, hoje em dia seria mesmo, motivo de discórdia. bjsssss

Gabuh disse...

Adoro quando consigo, enquanto estou lendo, visualizar cenário e construir as características dos personagens em mim mente. E você me proporcionou muito bem isso. Me vi lendo aqueles livros da coleção infanto-juvenil "Vagalume"... Mandou muito bem, Rafa! Ai, ai... Várias recordações também da minha infância me vieram à tona.

E rapaz, eu falou aqui das vizinhas fofoqueiras, mas não ficou devendo em nada pra ela nos contando com detalhes cada fato, hein?? HAHAHA... Boa memória cê tem, moço. Admiro!

Olha, eu moro há 10 anos aqui numa rua que na verdade são duas. Só há um canteiro estreito, tipo pracinha, separando uma larga extensão de casas. Vai ver também seja por esse distanciamento das casas da frente, que não tenho amizade alguma com nenhum vizinho. E nem quero dar brecha pra essa gente, pois depois já viu, né?! Tão tomando café, almoçando e jantando na tua casa. Uó!

Um cheiro, homem!

Andreza disse...

...tô até achando que moramos no mesmo bairro...

Cris disse...

Eta vizinhança "gente fina".......kkkkkkkkkkkkk

Pelo menos vc não podia reclamar de monotonia. Cada dia era um uma notícia no jornal do bariro, um auê...rsrsrsrs

ODIEIIIIIIIIIIIIII o lance dos gatinhos..........agrrrrrrrrrr

Um beijo e um final de semana lindo! Cuidado com os vizinhos...kkkkkkkk

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Gente! Deus me livre de ser vizinho do Rafael ... kkkkkkkkkkkkkkkkk

;-)

Cris Medeiros disse...

Deu pra visualizar a cena... rs

Agora concordo com Paulo, eu já tenho medo de você! Que pessoa crítica... ahahah... Olha quando encontrar contigo vou de burca, que é para não reparar em nada em mim... ahahah


Beijocas

Giselle Trindade disse...

OLÁ
ADOREI SEU BLOG E ESTOU SEGUINDO
ME SEGUE, FALO MUITO DE CREPÚSCULO NO MEU BLOG:
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BEIJOS

Cardô Jairo disse...

Olá, Rafa

Gostei do texto..kkkkkk..fofoqueiras até hoje existem...rs..mas ter pulga alojada nos couros de uma pessoa pra mim, isso é novidade...hahahaha.

Sigo-te, óh mestre..rs..

Abraços e boa semana pra ti.

O Brega Chique já atualizei passa por lá.

Sandes disse...

Rapaz, enquanto lia este post, parecia que eu estava visualizando as pessoas, as casas as ruas, rsrs. Gostei demais. Quanto a sua vizinhança, hein? kkk É um misto das histórias do Nelson Rodrigues com personagens da Glória Perez, kkkk Abraço, meu amigo!