UMA ETERNIDADE SEM ELIS

Três décadas para quem aniversaria é como se ainda fosse um adolescente. Três décadas para alguém que se foi parece uma eternidade, como se aquela pessoa tivesse existido apenas na imaginação.

Em 19 de Janeiro de 1982, me lembro de estar sentado vendo TV, tinha oito anos de idade e nas manhãs da Globo passava TV Mulher, dentro da programação a reprise de uma novela e logo depois um desenho animado. Foi como em outras datas funestas que minha memória fotografou o momento. Em plantão especial a reportagem da TV Globo informou que a Cantora Elis Regina havia sido encontrada morta em sua casa.

Hoje, trinta anos depois, existe uma sensação de pesar, de imaginar que dez, vinte anos a mais que tivesse vivido, o quanto teria sido importante para nossa cultura musical. Elis, Cazuza, Raul Seixas, Renato Russo e tantos outros que nos fazem falta, por que interromperam suas carreiras em momentos inoportunos, teriam muito mais a acrescentar, se a vida não os tivesse deixado.

Descobri Elis já na adolescência. Na época que estava viva era criança e apenas ouvia vez ou outra “ O Bêbado e o Equilibrista” , mas como minha mãe não era fã da cantora, pouco sabia dela até discernir o que era bom ou ruim. Desde então, não digo ser um fã fervoroso, mas um fã que respeita o trabalho, admira a voz, e lamenta não ter podido desfrutar do seu talento quando ainda vivia.

Num de seus DVDs remasterizados e lançados quando dos seus sessenta anos, há o momento em que canta “ atrás da porta” de Chico Buarque, musica que considero a melhor de todo o seu repertorio, pela emoção e pela teatralismo que canta. Ali fica tão evidente que Elis era uma incógnita, uma pessoa que carregava algum tipo de amargura. O vídeo ainda arrepia, por que no próprio conteúdo há um depoimento de Daniel Filho dizendo que poucos meses depois ela morrera. Assistir aquilo tudo é como vê-la se despedindo do publico. Mais ou menos o que senti com o clipe de Amy Winehouse em Tony Benetti.




Um artista do porte de Elis quando se vai não deixa órfãos os fãs, eles retiram da vida cultural do pais um pedaço que jamais será preenchido novamente. Não há substitutos de Elis, não há voz que a supere. Maria Rita talvez tenha herdado um traço do timbre da mãe, mas não consegue, até por motivos óbvios, alcança-la. Talvez se tivesse desfrutado da cia da mãe até a idade adulta, teríamos aí, uma grande cantora. Mas no meu ver, ela apenas canta, como tantas outras filhas de cantores de sucesso.

Lamento não termos mais Elis, lamento não ter podido ver um show, lamento que alguém como ela parta cedo. Para mim todo artista que vale a pena teria que viver como Dercy, passar dos cem anos, e nos brindar com ironias, e sapiência que a velhice traz.

Amanhã,  19 de janeiro completam-se 3 décadas de sua morte. A sensação que tenho que ela nem existiu nessa vida, apenas uma lembrança de algo que não tive contato. Uma imagem engraçada da artista.

Que tenha descansado em paz, por que seu legado foi exaurido pelas gravadoras, até a ultima gota.

Abraço a todos 

8 comentários:

Unknown disse...

Também conheço pouco, mas reconheço e respeito a voz e o talento da moça. É daquelas que permanece apesar do tempo.

Dona Pimenta disse...

Bom dia!!
Lindo post! Ainda ontem eu estava procurando a biografia dela...
Ela faleceu no ano que nasci, mas essa voz, cheia de atitude, de historia, de emoção, de denúncias de governo transformadas em lindas canções, até hj, emocionam demais.
Eu adoro Elis, e também, adoro Clara Nunes, que é outra cantora que me passa toda essa sensação.
Sempre que eu puder, vou ajudar a deixar vivas estas pedras preciosas na lembrança dos que me rodeiam. Isto é Brasil puro.
Mil bjsss,
D. Pimenta

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Elis é a diva maior da mpb ... amo de paixão e lembro bem o tanto q chorei no dia ... sem vergonha nenhuma de confessar ... Para mim, mais ou menos da minha geração é Elis como cantora e Bethânia como intérprete ... divinas ...

bjão

Vanessa Anacleto disse...

A tia aqui lembra como se fosse ontem, eu tinha 12 anos e passava férias na casa de uma tia no Rio. Ouvi a notícia e chorei pra caramba. a tia não entendeu. É que eu sabia que minha mãe devia estar chorando pra caramba, foi com ela que eu aprendi a gostar da voz e do repertório da Elis. Elis ainda é uma das minhas cantoras preferidas, como se nunca tivesse partido, continuo ouvindo.

abraço

RaFa . disse...

Não sou muito fã dela e gosto de algumas músicas apenas. Mas não posso negar a espetacular pessoa que foi.
Com certeza uma das que mais faz falta hoje na música.

She disse...

Eu era tão pequena, mas me lembro que minha mãe chorava como se alguém da família tivesse morrido, aliás foram duas mortes na minha infância que vi minha mãe chorar como se fosse um luto por alguém próximo: Elis Regina e Tancredo Neves. Duas figuras muito importantes na história do Brasil. Cada um em seu seguimento, mas cada um me marcou demais. Elis...Grande Elis...Pena ter se destruído!
Beijo, beijo!
She

Cris Medeiros disse...

Oi querido! Realmente Elis é uma cantora, uma personalidade única e marcante. Jamais será esquecida. Também lembro do dia da sua morte, praticamente o Brasil parou e era algo que ouvia comentar em todos os cantos.

Mais tarde tomei conhecimento da obra de Elis e me apaixonei por ela, assim como me apaixonei por tantas cantoras que não vivi a época em que estavam vivas, como Maísa por exemplo.

Acho que a Elis tinha uma voz única como a Amy e tantas outras que ficarão para a história.

Beijocas

David disse...

Apesar de tresloucada, era muito inteligente mas não a ponto de superar as drogas.
Lamento muito sua morte prematura.