História da vida, como ela não deveria ser...rs
Uma tia avó era proprietária de uma pensão que hospedava os seres mais estranhos que habitaram a cidade. Como disse minha mãe, era um circo de horrores. Um senhor manco que gritava a noite em pesadelos horríveis, uma mocinha muda chamada Inês que cantava nananananananananana na na na, sem parar por horas, dias intermináveis. A própria tia avó que tinha uma deficiência estranha que um dia conto, entre tantos outros personagens que povoaram a infância do meu tio e minha mãe.
Um belo dia ocorreu à tia fazer um piquenique em Jaguariúna, num pesqueiro de propriedade dela, e levar toda essa gente para passear. Foi um terror, por que além desse povo estranho, a família em peso compareceu. Eram tantos que fecharam um vagão do trem só pra eles. Organizram a turma, cozinharam horrores, arrumaram a criançada e partiram pra estação. Confusão geral resultando em vagão cheio e pessoas sem conseguir lugar confortável dentro do trem. Como ninguém queria perder o grande piquenique, se ajeitaram com puderam. Algumas crianças, a muda e um senhor afeminado de nome “Aleto”, que pedia a qualquer homem bonito que encontrasse que o “jogasse na vida”, além da celebre frase de cumprimento “ora viva” sentaram-se fora do vagão entre dois carros, ou seja, no engate.
Como tudo que é bagunça vira diversão, la foram eles com a muda segurando uma penca de bananas enorme, uma das cestas de comidas, enquanto os menores foram amarrados num gradil para não caírem, e Aleto, de terno branco, cantarolava com os pequenos algumas musiquinhas alegres.
Dada a partida no trem, felicidade geral do povo...mentira. Dentro do vagão duas irmãs de minha avó se engalfinhavam a tapas, cuspes e pontapés por que discordavam da politica de Getulio Vargas. Sobrou tapa pra todo mundo.
Lá fora com o movimento do trem aumentando fagulhas das rodas do trem começaram a pipocar sobre a muda e todos que sentaram no engate. Gritos da pobre coitada (imagino uma muda gritando, pobrezinha), enquanto Aleto perdia a classe e xingava com palavrões a tia avó que o havia colocado naquela situação. Seu terno branco ficara todo queimado com as fagulhas que voavam por cima deles. As crianças choravam, gritavam de dor e ninguém ouvia. A muda jogou as bananas e a cesta de comida nos trilhos do trem, tentando se proteger das faíscas.
Passado o trauma, e todos calmos no destino, o piquenique correu solto. Cachoeira, lago cristalino e pessoas felizes nadando. Sem que percebessem uma tempestade de raios, trovões e granizos caiu sobre eles dando pedradas na cabeça das velhas que tentavam se esconder sob arvores. Pânico por que a cachoeira dobrou de volume, quase afogando as meninas que nadavam. Aleto e a muda foram encontrados muito mais tarde, perdidos no meio do mato. Correram de desespero e se perderam no matagal.
Abrigaram-se na casa de uns colonos que secou a roupa da maioria do povo em fogão a lenha, sujando mais do que secando. Café, bolo e mais briga, por que acusaram a tia avó de não saber organizar um passeio. Ela em contra partida ofendia a todos com insultos e palavrões.
Passada a chuva, espremeram-se no vagão de volta para casa. Dessa vez ninguém foi do lado externo. A muda entoou um cântico desafinado, enquanto as crianças dormiam no colo das mães, que cansadas queriam matar a pobre Inês que não sabia o volume nem a afinação de sua musica.
Chegaram tarde da noite em Campinas, e novamente quebra pau na estação. Mulheres se estapearam por que duas crianças haviam se engalfinharam no vagão. Ânimos exaltados após um dia terrível de piquenique.
Isso é pouco perto de histórias escabrosas que já ouvi desse povo...
Nasci dessa gente...rs rs rs....por isso que as vezes eu me pergunto: Será que sou normal?
Abração e ótima semana a todos.
5 comentários:
A-D-O-R-OOOOOO!!!! De perto ninguém é normal, e como louco só anda em bando, daí nóis ser tão anssim cheios de afinidades.
Eu adoro as memórias do tempo, as minhas e as alheias, jantarzinhooooo para dividirmos a baixaria! Ótimo post!
Beijocas!
Começando a ficar com medo de vc querido ... será q isto passa por carga genética? kkkkkkkkkkkkkkkkk
Sempre te leio, gosto do seu texto.
Essa história é ótima dá até um curta-metragem!
bjs e boa semana
Jussara
Nunca vi um programa de família dar certo. NUN-CA hahauahaua
Abração Rafa!
Encontrei teu blog lendo um comentário que tu fizeste no blog "A menina por trás da Dama". achei muito interessante a frase que disseste, de que as pessoa preferem ficar falando bobagens no twitter do que participar de forma mais participativa num blog.
Excelente ideia eu tive em te visitar, pois adorei o blog. Simplesmente excelente!
Abraço, voltarei mais vezes !!
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