Estava na 3° série do primário, devia ter uns 8 anos na época, mas nesse período era um menino mirrado, bem magrinho e branco, leitoso, até meio cor de rosa de tão claro, e ia para escola levado por minha mãe que a vida toda teve pânico em largar os filhos sozinhos, por ela, estávamos todos morando na mesma casa como as famílias Muçulmanas.
Numa bela manhã, já atrasado para escola (sempre odiei chegar atrasado, mas minha mão não entendia isso) fomos correndo, ela dirigindo mal como sempre, costurando o transito e eu pregado no banco de olhos arregalados. O uniforme da escola era um avental branco com brasão no boldo esquerdo sobre o coração....rs.
EU, O BURRICO, E UMA ALMA PENADA!!!
Chegamos, paramos e eu desci. Quando fui atravessar a rua (de acesso ao portão principal do colégio) uma perua kombi virou e freou sobre o corpinho esquelético do garotinho aqui. O carro não fez nada demais além de passar com a roda sobre os dedos do meu pé, mas o grito alarmante da minha mãe me jogou pra trás onde sujei o avental na roda de um outro veiculo estacionado caracterizando uma violência (que não havia acontecido) de um atropelamento.
Gritos de desespero, e alunos saindo pra fora da escola, por que o Rafinha tinha sido atropelado. Quem ouvia a confusão, achava que encontraria um cadáver estirado e esmigalhado. Minha mãe agarrou o motorista pelo colarinho e desceu o braço no cara completando a cena de baixaria que já se iniciara com os gritos de “você atropelou meu filho”.
A diretora da escola, uma figura que eu morria de medo, pegou-me pela mão e levou para a sala dela. Não sabia se ficava com mais medo do que havia acontecido, ou daquela mulher gigante que eu temia como a morte. Sentei pequenininho numa poltrona gigante e fiquei ali, pálido, até que o furdunço acabasse. Não havia acontecido nada, nada, nada. Estava intacto, mas tremendo, pelo susto, e pelo medo daquela mulher. Minha mãe foi embora sem nem saber onde eu estava. Alias, ninguém pensou em me levar pra um hospital. Poxa, vai que eu estava com hemorragia interna!!!
Por anos, tive problema para atravessar rua. Sempre o fazia na faixa de pedestre, e quando não tinha uma, ficava um tempo parado. Um certo trauma. Há um amigo que se gaba dizendo que me ensinou a atravessar ruas, já com 27 anos de idade. Mentira, mas deixa ele acreditar..rs.
Certos acontecimentos da infância, quando você não tem domínio total da situação, geram traumas pro resto da vida. E pra concluir, a diretora gigante, não me deixou ir pra aula aquele dia. Fiquei em observação na sala dela, fazendo lição sozinho, como se estivesse de castigo. No fim do período, ela me deu um estojo com 36 canetinhas, o que se compararia a ganhar um iPad hoje.
Abração e ótima semana a todos
5 comentários:
O estojo compensou o trauma! Aposto que no mês seguinte você se jogou embaixo da perua só pra ver se rolava giz de cera!
ki dó, ki dó, ki dó... Ahuahauha.
Se eu quase for atropelado você me dá um iPad?
Mas olha que história essa!
=)
E o pé ficou bem?
Mas deixa que te diga, o melhor de tudo é mesmo a fotografia e, esquecendo assombrações, até tinhas um ar bem meiguinho!
Abraço
http://rabiscosincertossaltoemceuaberto.blogspot.com/
não é só quando somos crianças que um acontecimento gera um trauma..
outro dia, eu estava andando calmamente pela calçada, calçando um tamanco alto..
pisei em falso e caí..
não me machuquei, mas o tombo foi horrível..
agora estou usando só rasteirinha...rs
bjs.Sol
A directora da escola era uma mulher perspicaz e actuou muito correctamente.
Tu tinhas os marcos de infância todos trocados e às avessas. Mas infância é isso mesmo; um ordálio continuado, que deixa rasto para o resto da vida.
Tua mãe era uma ameaça móvel. hehehe
Acho que seria bem melhor ires para a escola montado no burrinho.
Deverias alimentar o mito de teres aprendido a atravessar estrada aos 27 anos pela mão dum amigo. É chique! E dá um certo ar de desligado. hehe Afinal, diz o mito, que todos os génios são meio desligados, né.
Beijos
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