Não sei em que ponto da vida começamos a tratar os pais como crianças, mas em algum momento os papeis se invertem.
Quando se tem um idoso em casa, seja avós ou pais já em avançada idade, nós filhos tendemos a poupa-los de desagrados da vida, assim como faziam quando éramos pequenos. Aquela frase: não há necessidade de fazê-los sofrer, não entendem muito ainda, era constante na infância, enquanto problemas gravíssimos assolavam a família, os pequenos pulavam de um lado pra outro sem se darem conta do que havia em volta.
Me lembro de uma prima muito próxima que morreu num acidente gravíssimo quando eu tinha cinco anos. Via as pessoas chocadas, a família toda desesperada, mas em momento algum aquilo me afetou. Alguns flashs apenas. Minha mãe não era do tipo que achava que uma criança da minha idade “tinha” que ver alguém morto no caixão. Ainda hoje quando vejo pais levarem filhos pequenos a velórios, e em alguns casos obriga-las a beijar o morto, algo totalmente desnecessário para a formação moral de uma criança, me questiono o que passa na cabeça dessas pessoas. Ensine respeito em casa, e não a exponha a uma situação dessas.
Nas ultimas semanas soube de dois casos de pessoas idosas que foram poupadas pelos filhos de situações complicadas e no fim se depararam com uma catarse avassaladora. Uma senhora de 93 anos que enterrou a filha sem saber que estava doente há muito tempo. Um casal de idosos que também viu a filha morrer (para eles de repente) por que ninguém havia contado que ela adoecera gravemente há um bom tempo.
Até onde foi vantagem poupar-lhes de noticias ruins? Muito pior o choque de uma noticia dessas que vem do nada, por que acham que a vida está um mar de rosas, do que aos poucos os prepararem para o inevitável.
Fizemos isso em casa. Uma tia avó morreu, e poupamos a minha avó já velhinha da noticia. Por anos mentimos pra ela que a irmã estava bem, e ela se foi sem saber disso. Deve ter sido uma surpresa se na recepção celestial encontrou a irmã...rs rs rs.
Sou da opinião que realmente uma criança não precisa ser exposta a assuntos que lhe tirem a infância. O mundo lúdico deve permanecer enquanto existir inocência. Os pais tem que ficar atentos para a precoce exposição dos pequenos. Mas os idosos não podem ser deixados de lado dos assuntos do cotidiano. Há vários modos de abordar temas desagradáveis e os colocarem a par dos acontecimentos.
A doença muitas vezes é um preparo forçado para que familiares entendam que determinada pessoa irá partir. Uma forma de irem se conformando aos poucos. Uma morte repentina judia mais.
Tratemos nossos idosos como adultos, e nossas crianças como crianças.
Abração e boa semana a todos.
5 comentários:
Se tem uma caoisa que me incomoda na família do meu marido é isso. Nunca vi. Tratam a avó dele igual criança...cheia de vontades e não podendo saber a verdade do mundo cruel. Sabe em que isso ajuda? Em nada. Ela tem 76 anos, parece que tem 120 de tanta depressão (isso porque "ela nunca pode saber de nada") Na boa: não tá legal. Não tá funcionando. Nunca deu certo.
Talvez se nada tivesse sido escondido dela, hoje ela estaria pelo menos agindo como uma senhora normal. Como uma senhora da "vida real".
Também sou contra e digo o mesmo para crianças. Tratem-nas como crianças. Nem como adultas e nem como incapacitadas. Apenas como crianças.
Eu sou contra ficar escondendo as coisas dos mais velhos. E criança tem que ser tratada como tal. Não podemos deixar criança se meter em assunto de adulto.
Olha, envelhecer não é facil e ser excluido podendo ainda ser parte da familia, é um tanto injusto.
Abçs (ah rafa, seu avô já faleceu!)
às vezes tenho medo dos velhinhos.
sempre tenho medo das crianças.
Concordo contigo e até por isso que não entendo o porquê do médico não deixar que a gente conte para minha mãe que ela tem alzheimer, coisa que creio, facilitaria muito o tratamento.
Beijocas
Em primeiro lugar, parabéns pelo blog.
Leio frequentemente e gosto muito.
Tem um conto do Júlio Cortázar, "A saúde dos Doentes, no livro "Todos os fogos o fogo", que é até engraçado em ver como a família arma uma grande estratégia para esconder dos familiares mais idosos notícias sobre doença e morte; quando li, achei graça, mas parece ser uma prática latina comum
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