NÓS TEMOS BIBI FERREIRA


Admiro profundamente a inteligência das pessoas, e podem me acusar de preconceituoso, mas não aguento permanecer perto de gente burra por muito tempo. Digo burro aquele que subestima a minha capacidade de compreensão das coisas. Existe aquela pessoa “espertinha” que acredita que seus atos não são percebidos. Esse tipo de burro eu abomino e tiro da minha vida.

Mas a inteligência e a capacidade para alguns feitos me encantam e quanto mais velhas as pessoas ficam maior minha admiração. Falo sobre isso pra poder citar Bibi Ferreira e o quanto gosto dela.

Bibi é uma mulher que transcende a idade, o tempo, a capacidade motora que a velhice impõe, as normas e tudo mais que rege nossa sociedade. Uma mulher de vanguarda, com uma voz presenteada por Deus e uma capacidade cênica que poucos conseguem. Um ícone da nossa cultura que poucos conhecem e dão valor.


 

Lembro-me de tê-la visto ainda criança num programa de TV que acredito ser “TV Mulher”, lá nos confins do inicio dos anos 80. Impressionou-me a mulher pequena, de fala rápida e óculos enormes. Talvez tenha se assemelhado a alguma tia-avó e por isso imediatamente vi afinidades.

Bibi está em avançada idade e mesmo assim sobe os palcos cantando com uma potencia extraordinária na voz. Simpática e amável com todos, passa a serenidade que só a velhice traz em determinados indivíduos. Penso que pessoas como ela deveriam ter um remédio que as mantivessem vivas por séculos. Da mesma forma que Dercy faz falta, um dia Bibi deixará uma lacuna na nossa cultura.

Poucos jovens hoje param para prestar atenção quando por algum motivo a vemos na TV. Bibi é o tipo de artista que não precisa de mídia. Não há necessidade de estar numa novela, ou no Domingão do Faustão para atrair publico para seus espetáculos. Ela por si só e pelo nome arrasta multidões. Nem por isso deixa, por exemplo, de estar num programa mediano como o de Xuxa para receber uma homenagem. Manteve-se educada, gentil e emocionada com as parcas presenças de admiradores. Uma pessoa admirável, moderna, e que deveria ser eterna.

Bibi Ferreira é um legado do nosso teatro que como Nelson Rodrigues. Deveria fazer parte das escolas de dramaturgia. Ótima e admirada diretora, já comandou artistas muito mais populares que ela, e nem por isso se curvou ou deu mole.

Poucas pessoas do mundo artístico me fazem ter vontade de ser amigo, e Bibi o faz. Queria ter convivido com ela...rs, e poder dizer que um dia sentei-me numa sala e a ouvi falar. Minha admiração não é de fã, por que não me considero fã de nenhum artista, mas a admiração de alguém que entende o valor dela na nossa cultura, de uma pessoa que fez e faz a diferença.

Quando vejo a molecada gritando histéricas por causa de produtos construídos como The New Direction (que até ontem nem sabia existir) penso o quanto perdem tempo em não saber o que realmente vale a pena.

Que Bibi se imortalize em vida. Ela merece.

Abração e boa semana a todos.

Um comentário:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

tive o privilégio de vê-la no palco interpretando Piaff ... apoteótico ... ela é completa e perfeita ... sim nós temos Bibi!