Carochinha sempre foi uma menina tímida, de pouca beleza e muito, muito introspectiva. Vivia no seu mundo, trancada numa redoma de fantasia que tirava dos livros a qual tinha acesso. Não era feia, não era bonita, não era homem, não era mulher, apenas “era”.
Um dia Carochinha foi apresentada a uma ferramenta chamada internet e lá descobriu um universo maravilhoso, aquele a qual sonhou a vida toda. Poderia desbravar mares, fazer viagens intergalácticas, voltar ao passado e tentar descobrir o futuro, tudo sem sair do seu quarto. E não foi apenas isso, percebeu que poderia interagir com o mundo sem que ninguém soubesse quem era. Começou com pequenos comentários em blogs, chats e sites culturais, e percebendo que as pessoas gostavam dela, do que dizia. Investiu.
Passou a viver uma vida que não era sua, e aos poucos despertou dentro de si um sentimento desconhecido, o desejo. Não o desejo puro, mas o desejo carnal, a luxuria, e camuflada sob a mascara da invisibilidade se pôs a viver mesmo que fantasiosamente uma vida dupla. Teve namorados, namoradas, amantes, foi concubina, gigolô e por aí afora.
Carochinha perdeu a noção da realidade, e criou tantas histórias mirabolantes sobre mocinhos e bandidos, que aos poucos se desfigurou, não era mais um ser vivo, e sim uma fantasia que só existia na tela de um computador. Ora órfã, ora cheia de irmãos e familiares.
Aqueles com quem mantinha contato perceberam, aos poucos, que algo estranho existia naquela beldade e suas espalhafatosas histórias do cotidiano. Viram que naqueles roteiros bem construídos de uma vida perfeita, na verdade era vazia, e não exista nada além de mentiras. Carochinha perdeu-se num emaranhado de inverdades, tentando sobreviver no espaço virtual, e com isso inventando e se agarrando com unhas e dentes ao pouco de dignidade que lhe sobrara, enfim sucumbiu.
Depois de um tempo, desacreditada, sumiu. Não conseguiu voltar para a vida real, e o medo da rejeição virtual a isolou de si mesma.
Hoje carochinha é um fantasma que passeia pelos blogs, sites e se diverte com o que vê, mas não consegue mais interagir nem com o mundo virtual, e muito menos com o real.
E assim criam-se dia a dia centenas de carochinhas...
Boa quinta feira a todos.
6 comentários:
são os perigos da modernidade mas acho q tudo é só uma questão de adaptação ... de adequação ...
OMG! preciso ver os pesinhos do Raphael ... ah! preciso ... só ver ... não se assuste ... rs
Isso é triste mesmo. E acontece demais. Vejo essa rapaziada só vivendo de internet, e quando acontece uma "exclusão" de um dos mundos de relacionamento virtuais, ficam sem saber o que fazer. Não sabem o significado de ter o contato real com os amigos, reunir-se, jogar conversa fora, e não "teclar" a conversa só. O mundo virtual traz muitas facilidades, mas nada substitui o mundo real. Ótimo post. Ótima quinta para vocês.
Da série: pessoas que não tem personalidade.
Abração!
Ela era muito retraída, e depois ficou muito dada...
Ela não soube dosar, assim como muitos seres humanos que extrapolam e caem em um mundo vazio...
Forte abraço!
Esta carochinha acaba por ter um final pior do que encontrar o João Ratão no caldeirão.
Só espero uma coisa Rafael... que esta carochinha não se refira a ti.
Abraço grande
http://www.rabiscosincertossaltoemceuaberto.blogspot.com/
todo mundo que escreve em blog, que escreve, que se comunica tá ameaçado de virar carochinha.
vai do bom-senso.
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