O PRIMEIRO MEDO NA VIDA DE UM HOMEM

Jovem, ao completar 18 anos aliste-se.

Não sei se todos os homens desse país sentiram frio na barriga ao se aproximarem da maior idade e terem a obrigação de se alistar no exercito brasileiro. Eu desde cedo tinha em mente que servir o exercito iria atrapalhar parte da minha vida, por que sabia que caso fosse obrigado (ser soldado deveria ser algo feito por iniciativa e não obrigação) me sentiria um peixe fora d´água.

No meu aniversário de 18 anos pensei: to ferrado!!! Tinha altura, peso, condição escolar e tudo que um soldado necessitava para servir o Estado. No alistamento, fiquei lá sentado com centenas de outros jovens esperando minha vez de dizer ao sargento que fazia inscrições: “eu não desejo servir o quartel”, pergunta essa feita a todos os jovens e respondida negativamente por 80% dos rapazes. Na minha vez disse não, e vi um sorrisinho sarcástico no rosto do sargento, tipo: problema é seu, tu vai ser soldado, nem que seja sozinho! Depois disso, ficamos la por mais de duas horas vendo um vídeo sobre doenças venéreas, com imagens de pintos podres que faria qualquer moleque abdicar de sua vida sexual e se tornar monge isolado do mundo nas montanhas do Tibet.

Meses de agonia até chegar o dia do teste físico e escrito. De cara, na fila do exame, um dos soldados se aproximou do grupo onde estava e perguntou se alguém ali era voluntario, se queria servir o exercito. Negativa geral e então veio a dica. Para cada um ele disse algo e no meu caso deveria dizer que tinha problemas na coluna. Coincidentemente havia feito um exame há pouco mais de 2 semanas devido a uma dor nas costas provocada por tosse. Sabia onde indicar um possível problema ( conhecia os efeitos da escoliose) e foi o que fiz. Cara de doente, semblante de prisioneiro de Guantanamo, e afirmativas do problema grave de saúde, quase uma paraplegia...rs

Esperei por mais duas horas e um sargento veio até o grupo onde estava novamente e disse: cai fora, vocês não foram aceitos. Um bom tempo até assimilar o que estava acontecendo. Lembro-me que voltando de ônibus pra casa, me senti o cara mais feliz do mundo. Posso ainda medir a sensação de alivio. Um sentimento que ficou marcado.

Meses depois jurei bandeira numa cerimonia de 6 horas no qual todos os jovens ficavam em pé num sol escaldante. Há cada 15 minutos um despencava no chão.

Acredito que o exercito forme a personalidade e o caráter de muito jovem, e seja talvez um dos poucos setores onde não haja corrupção desenfreada. Todas as vezes que o país necessitou de uma força maior o exercito esteve presente e fez diferença. Só não acho justo que sejamos obrigados ao alistamento.

Caso não tivesse escapado, hoje eu seria um militar, por que obviamente seguiria carreira. Estaria muito bem, com um belo salario, ou quem sabe já estaria em sete palmos de terra, morto no Haiti ou num confronto com traficantes...rs rs rs....ou talvez só usufruindo do que o Estado propicia aos milicos...rs

Ordem e Progresso....onde li isso mesmo?

Abração e bom meio de semana a todos.

6 comentários:

Unknown disse...

Também escapei e também morria de medo (viado e com asma? morte certa em 1 semana...), mas o amiguinho que entrou no meu lugar de office-boy era um panacão que, depois de 2 anos servindo, virou outra pessoa completamente (pra melhor!). Imagino o que/quem seria eu se tivesse acontecido de servir...

o Humberto disse...

Rapaz, mas eu compartilho muito da experiência, rs. Foi exatamente assim comigo também!

Aqui em casa somos 5 filhos homens, e eu cresci ouvindo que um da famíli tinha que pegar exército obrigatoriamente, daí como nenhum outro tinha era certo que o pato seria eu. Eu tinha PAVOR da ideia, pavor. Assim como Carlinha Perez (vide: http://migre.me/6asdk), sempre fui da paz, achava que ia morrer fosse recrutado.

Como você, eu tinha todos os atributos pra ser escolhido e ainda por cima passava lindo em todos os exames. Mas sempre dizia não à tal pergunta.

O pior é que durante os tais exames eu fiquei me perguntando se não seria uma boa pegar exército (ainda me pergunto se não teria sido, viu).

Final da história: não peguei, vi de tudo no dia do resultado, vi marmanjo literalmente cagado de alívio, mas saí pelo menos com a certeza de que não ia ser obrigado a acordar às 4h da madruga. Um amigo meu pegou. Odiou para todo o sempre, rs.

Abração meu caro!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

tb escapei ... triste memória daqueles dias ... acho q todos nós sofremos muito com esta possibilidade ...

bjão

S.A.M disse...

Como eu já era para-militar desde os 15, digamos que foi sussa. para quem gosta, resta aquela coisa toda de viver cercado por homens que muita guei por ai fantasia. haha

Abração!

Daniel F. Antunes disse...

Aos 18 me alistei e fui demitido de um emprego onde era auxiliar de escritorio. Aos 19 servi, ou seja, neste ano fiquei desempregado, ninguém contrata. Foi o único problema. No exército aprendi muito, evolui... Puxei muito saco do sargento, que, próximo da formatura, me indicou para um bom trabalho. Sou grato pelo que vivi e aprendi e somente não segui carreira pelo fato de não ter esta opção na minha cidade... Aconselho a aconselharem este caminho.

Tathiana disse...

Eu acho que o país gasta muito dinheiro com exercito, tem coisas que precisam mais de investimento que o exercito.
Bjs.