Algumas situações na vida só são
compreendidas algum tempo depois de serem provadas e mesmo não tendo sido boas,
podemos dizer que o aprendizado valeu a pena.
Assisti “Amour” o comentado e aclamado filme
de Michael Haneke, até então desconhecido para mim, ganhador do Oscar de melhor
filme estrangeiro no ultimo domingo. Impecáveis atuações de Jean-Louis
Trintignant e Emmanuelle Riva, que merecia o Oscar assim como Fernanda
Montenegro. Ambas perderam o premio para novatas insossas que mal saíram da
Fralda. O que me faz crer que a indústria do Oscar é uma patifaria.
Deixando de lado os créditos e comentário
a respeito da ficha técnica o filme Amour é uma janela no tempo para quem um
dia vivenciou uma situação semelhante. No meu caso, a história retrata ipsis
litteris o cotidiano amargo de cuidar de um ente querido que definha dia após
dia a olhos nus sem que possamos fazer nada para impedir. As etapas da doença
muito bem interpretadas por Emmanuelle me remeteram a mais de uma década - imaginei
que a memória já havia engavetado tudo definitivamente – e fizeram reviver
cheiros, cotidiano, e tudo mais que um doente necessita na eminencia da
partida.
Hoje, após tantos anos sei o
quanto foi importante ter vivido essa situação. Crescemos com o sofrimento?
Sim, crescemos e muito, mas a humanidade que nos transborda o coração só existe
quando se cuida de uma pessoa enferma, simplesmente pelo amor que temos por
ela. Apenas alguns privilegiados nessa vida terão essa oportunidade, por que
não somos feitos iguais, na mesma forma, então o que para mim foi um sacrifício
recompensado pela consciência tranquila, para outros é um martírio sem fim onde
o clamor pelo desfecho rápido, indolor é diário. Não culpo a fraqueza de
espirito das pessoas que não tem disposição física e mental para cuidar de um
doente. É difícil, é abnegação pura, é a certeza que não será perpetua aquela
situação, mas que enquanto existir terá que ser encarada com força e frieza.
Não há solução para velhice, não
há remédio que impeça de nos tornarmos frágeis um dia, na dependência de
outros. Há a possibilidade de minimizar tudo isso, com uma vida regrada, que
talvez nos tornem mais fortes e com menos probabilidade de definhar numa cama.
Mas nada garante isso. A vida pode ter sido envolta em grandes acontecimentos,
em tarefas que movimentassem a cabeça e o corpo, mas esse, uma caixa de
mistérios, pode nos trair a qualquer momento.
Só quem respeita de verdade um ente,
se resigna a cuidar dele. Não é tarefa fácil, repito, mas traz uma sensação de dever cumprido quando
sabemos que proporcionamos dignidade aquela pessoa que até outro dia nos sorria
e afagava os cabelos com o carinho e o amor que todo ser humano necessita. É
preciso que se tenha uma vida reta, onde os filhos, sobrinhos, companheiros,
tenham tido o amor verdadeiro vindo de você para que ao chegar ao liame da
passagem tenhamos rostos conhecidos e benevolentes para cuidar dessa ida.
Amour é um filme triste,
verdadeiro, que mostra a velhice de uma forma frágil, sem uma opção de fuga. Há
um momento que Jean-Louis Trintignant num dialogo com a filha que o questiona
sobre os cuidados com a mãe responde:
Filha: E agora, como vai ser?
Georges: Como vai ser? Irá
continuar do mesmo jeito que era. Vai durar até o dia em que acabar.
É exatamente assim. Dura até o dia que tiver que durar e fim.
Boa terça feira a todos.
5 comentários:
"Filha: E agora, como vai ser?
Georges: Como vai ser? Irá continuar do mesmo jeito que era. Vai durar até o dia em que acabar."
Denso isto ... mas é a verdade nua e crua ... sei o q é isto e me preparo, na medida do possível, para qdo chegar a minha vez ...
bjão
Eu gostei demais desse filme, foi o primeiro que vi dos que estavam concorrendo ao Oscar. E como a saúde na velhice é algo que me preocupa demais foi um filme que mexeu muito comigo. A história foi muito bem conduzida e a atriz estava perfeita.
Beijocas
Ainda não vi o filme, mas vivenciei esta situação. É muito difícil e somente por amor é possível cuidar de alguem nesta situação.
cm mta vontade de ver
Curioso pra ver...
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