Com um pai aficionado por filmes
de Western, cresci vendo e escutando os zumbidos das balas ricochetarem as rochas,
os balaústres de madeira sob forte poeira e fenos rodando por cidadelas de
apenas uma rua nos cenários Hollywoodianos.
Por isso, talvez, assistir “Django
livre” tenha sido um deleite. Primeiro por ser uma obra de Tarantino, que tiro
o chapéu pela criatividade, e segundo pela coragem do tema. Mas o melhor de
tudo, e ver e perceber aquele olhar “demente” de Quentin Tarantino.
Jamie Foxx é um ator expressivo,
isso é fato, e não há como tirar dele a capacidade de falar com os olhos.
Christoph Waltz tem se destacado como um dos grandes do cinema por seu jeito cínico,
sua petulância de nariz em pé. Para quem o viu em “Bastardos Inglórios” do
mesmo Tarantino e também em “O Deus da Carnificina” concordará comigo que ele é
sensacional. Mas para mim as participações especiais, pontuadas em cada fase da
história faz com que as quase três horas de filme passem tranquilamente, por
que a cada instante identifica-se alguém que irreconhecivelmente está lá e
tenhamos a surpresa de dizer: Olhe, é fulano de tal. Não quis ver a critica
justamente para não estragar essa surpresa.
Mas de tudo o que Django Livre
nos mostra, dos absurdos cênicos, das explosões de sangue, que parecem
melancias sendo detonadas, há aquele tom na história que ainda hoje revolta.
Não digo que Tarantino tenha forçado a mão para atrair atenção por que deve ter
sido bem pior. Falo da discriminação racial, do escravagismo americano, que
perpetua até os dias de hoje, mascarados por falastrões que se dizem
politicamente corretos. Há o preconceito contra o negro, aqui, lá, em qualquer canto
desse planeta onde haja brancos que se julgam uma raça superior. Nem quero me
estender nisso, por que acabo jogando nas palavras uma revolta desmedida pela
falta de moral e caráter de tantos que torcem o nariz para aqueles que no seu
entender são inferiores.
Django Livre é um filme para ser
guardado na estante junto das outras obras de Tarantino. Não digo ser a melhor
(no meu ponto de vista), mas que merece aquela gargalhada gostosa seguida de:
só podia ser o Tarantino! Isso é inevitável. Ele não perdeu a mão, não ficou
comercial e não liga se muda o rumo das histórias verídicas como fez em
Bastardos Inglórios ( o meu preferido) matando Hitler no final numa saraivada
de metralhadora, aguçando o desejo reprimido de um planeta inteiro. Vingou-se
60 e tantos anos depois do personagem mais cruel da nossa história moderna.
E por fim não poderia deixar de
ressaltar, de adular, de enaltecer Leonardo Di Caprio. Impecável, psicótico,
afeminado, cruel, sensacional. Há uma década jamais diria que Leonardo se
transformaria no ator que é hoje. Ao vê-lo em Titanic, de cabelinho caído nos
olhos e boquinhas prontas para selinho nunca imaginaria que aprofundasse a arte
cênica ao ponto de eu poder dizer que ele é um dos melhores de sua geração. Não
é de hoje que vejo isso, por que tenho acompanhado sua trajetória, e ele é sim,
um ator dramático. A combinação Jamie, Waltz, Di Caprio é como diria alguém das
novelas que não me recordo: “ Felomenal”. Leonardo amadureceu as expressões,
perdeu a cara de garotinho e construiu uma beleza masculina como as dos grandes
atores da era de ouro do cinema. Marlon Brando sempre foi aclamado por sua
beleza física, mas desconsiderou isso para atuar, e nesse caminho, Brad Pitt e
Leonardo Di Caprio o seguem como bons alunos. Não se importam como ficarão em
cena, feios ou bonitos, o que vale é dar vida a um personagens críveis.
Django Livre vale pela
fotografia, pelas atuações, pela trilha sonora e pelos tiros disparados a esmo
que nos fazem gargalhar, mesmo sendo uma violência desmedida. Por que isso só Tarantino
pode.
Recomendo.
Abração e boa quinta feira a
todos.
Um comentário:
saudades dos bons tempos dos far wests italianos ... Giuliano Gemma ... inesquecível ... ovulava por ele em toda a minha inocência ... rs
bjão
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