Assistindo ao canal Viva dia
desses vi o anuncio da exibição de “Rainha da Sucata” novamente. Uma das
melhores novelas que a Globo produziu na década de 90. Em particular lembrei de
Gloria Menezes e sua Laurinha Figueroa, uma grande vilã que atormentava o personagem
de Regina Duarte até depois de morta.
Mas não quero usar esse espaço no
momento para falar da novela e sim do que ela me faz recordar, ou melhor, a
impressão que ela me da sobre a cidade onde moro. Calma, já traçarei um fio da
meada para não parecer que estou ficando maluco...rs.
Laurinha Figueroa é uma
personagem que descende dos quatrocentões de São Paulo. Famílias ricas e
tradicionais que construíram a capital através de seus investimentos, muitos
vindos das fazendas de café no interior do Estado. Essas famílias foram aos
poucos decaindo, e seus impérios mudando de mãos. Os “Matarazzo” era sinônimos
dessa inversão de papeis. Hoje não sei ao certo como os descendentes estão, mas
nas décadas do militarismo no Brasil eles perderam boa parte do que tinham.
Campinas é uma cidade grande,
assolada por décadas de roubalheiras e recentes escândalos políticos, governada
por forasteiros que se instalam por aqui e fazem a vida. Mas o que mais
incomoda são os metidos a quatrocentões campineiros. Minha cidade ainda não
chegou a esse numero de anos, mas parte da sociedade vive com o nariz em pé como
se fossem herdeiros de impérios. Campinas antes da republica abrigou grandes
Barões de Café que a queriam nobre como uma Paris interiorana.
O mais comum aqui, e para isso há
um bairro especifico, é encontrarmos playboys filhinhos de papai que passam o
dia curtindo uma piscina no clube, malhando, rodando com carrões dados pelos
pais (financiados em 60 meses). Tudo isso é tranquilo, há iguais em todos os
lugares do Brasil. O problema é que esses garotos, garotas, e até pessoas já
maduras não são mais ricos como num passado remoto. As Laurinhas Figueroas de
Campinas também tiveram a inversão de papeis e o dinheiro foi parar em outras
mãos. Sobrenomes conhecidos, já não desfrutam do mesmo glamour que nas décadas de
60 e 70. Hoje o sobrenome é a única coisa que lhes restam, e apegados a eles,
continuam desfilando pela cidade como milionários. Fácil encontrar esse tipo
nos cafés, academias, em restaurantes badalados. Mais da metade não poderia
estar ali por que realmente a grana está curta, mas agarrados aquele resquício de
sobrenome, se fazem presentes, e quando apresentados tem o orgulho de ostentar
o nome.
Poderia citar dezenas deles, mas
como sou discreto e não quero ofender a ninguém, guardo-os para mim. Também
tive uma criação vinda dessa apologia ao sobrenome, mas fui salvo pelo
casamento da minha mãe com meu pai, que não fazia parte dessa massa falida, e
aí sim tive uma educação (classe média) com requintes de esnobismo vindos de
minha avó, que sim, no passado, tinha o jeito Laurinha Figueroa de ser. Por
muitas vezes escutamos frases preconceituosas dela, hoje totalmente incorretas,
sobre pessoas incultas ou com menos posses. Graças a alguma força divina, não
fomos corrompidos por essa veia negra de campinoides que existem por aqui.
Posso me considerar educado, mas não esnobe.
É difícil imaginar esse tipo de
pessoa quando não se vive perto. Laurinha Figueroa para quem assistiu a novela
seria a mais próxima, e caricata descrição desse povo, que acredito, não vive
apenas por aqui. O que mais escuto de gente que veem de fora, é que a população
campineira é fechada, e não se abre a estrangeiros, ou melhor, torcem o nariz,
aquele mesmo nariz erguido, orgulhoso, que chamamos de “nariz de cheirar peido”.
Tenho certeza que alguns amigos
lendo isso que escrevo concordarão 100% com o que digo, e imediatamente vislumbrarão
exemplos clássicos de Laurinhas por aqui.
o dinheiro que era de uma, agora é da outra!!!
Fazer o que né. Como dizia o
personagem de Paulo Gracindo...isso tudo são “coisas de Laurinha”.
Abração e ótima quinta feira a
todos.
3 comentários:
Em apenas 2 anos na cidade, já conheço várias iguais Laurinha.... Texto ótimo!!!!
Eu penso que só tem um jeito de olharmos para essas pessoas: como folclore. Ficam entre Saci-Pererê e Cuca... por aí! (rsrs) Você escreve super bem!
Rainha da Sucata é tudo de bom!
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