O “blin bóóónnn” esticado da
campainha indica que você está parado a porta esperando que alguém abra. La
dentro ouve-se passos e subitamente a porta se escancara aparecendo uma senhora
de cabelos volumosos feitos à base de muito bob quente, nos olhos a maquiagem
discreta inspirada em Maria Callas. Ela esta de avental e convida a entrar. La
dentro vê-se estantes com bibelõs de cerâmica, uma ou outra caneca de cerveja
que repousa ao lado de porta retratos de família. Sofá de courvin contrasta com
a única poltrona (a mais antiga) decorada de gobelem. A senhora indica o sofá
para sentar onde há varias almofadas com padronagem de oncinha. No canto de uma
das paredes aquele bom e velho quadro de casamento com a moldura velha. Fotos pintadas
sobre as originais. Em poucos segundos ela serve uma xicara de café um tanto
fraco, por que economiza no pó. O assunto? Claro, a família, a vizinha e tudo
mais que classe média adora comentar.
É assim que se caracterizava a
casa de qualquer tia ou avó de nós, frutos da classe média. Classe essa que nos
últimos anos rompeu-se em duas. Ou faliram e tornaram-se classe C e D ou emergiram
para os novos ricos, e agora só viajam de avião. Essa fatia da sociedade onde
fomos criados ( boa parte de nós ) não existe mais. Com o poder aquisitivo dado
as classes ditas mais baixas da população o Brasil ganhou uma nova cara para a
classe média. Os antigos churrasqueiros de laje, agora tem seu próprio cantinho
em casas compradas com suor, mas prontas e decorada ao estilo mais apropriado:
piso frio ( cerâmico para facilitar a limpeza) , sofá de chenilli , tapetes de sisal
e suas enormes TVs de plasma. O pobre agora não é mais pobre, ele é classe
média, os filhos fazem inglês na escola
do bairro, e no fim do ano viajam para o praia e torcem o nariz para os novos
farofeiros. Vê-se a expressão no rosto
da dona que até dez anos atrás carregava sua caixa térmica com frango para as
areias do litoral: Que horror essa gentalha, não?
Cada vez mais vemos pessoas ascenderem
a um nível elevado de poder aquisitivo. Fazem prestações a perder de vista, mas
acabam tendo, possuindo os sonhos de consumo que antes ficavam nas paginas de
revistas. As mulheres colocam peito, os homens malham em academias e podem até
comprar uma camisa pólo original. Esse pessoal que alimentou o mercado de
falsificações hoje clama pelo original e pagam caro por eles. Até outro dia
pediam cds piratas para aqueles que conseguiam baixar na internet, hoje são os
primeiros a acusarem os amigos que ainda tem essa mania de pirateiros. Onde já se
viu usar um DVD de camelô no seu mais novo Blue Ray que o primo trouxe de sua
ultima viagem a Miami.
Essa classe dominante que vota na
Dilma e usa perfume importado ( que adora novela) é sim a classe operaria de
outro dia disfarçada com novas estampas. Não se muda a capacidade cultural de
uma nação do dia pra noite. Eles querem ser a elite, mas caem por agua quando
abrem a boca e proclamam ser “perca” de tempo passar horas em frente a TV. É
muito melhor ler um livro, aí te indicam Paulo Coelho, por que acham chique conhecer
sua obra.
Isso é hilário e ao mesmo tempo tragicômico.
Um povo que nasceu sob o julgo de uma ditadura fuleira, que passou pelos
perrengues de um governo Sarney e viu um Galã ser despejado do Palácio do Planalto,
querer hoje bancar o fino dando lição de moral e indicando uma vida cultural ao
vizinho ignorante é patético.
Esse povo que ascendeu não
deveria se preocupar em mostrar suas posses. Deveria sim olhar fixamente para
quem lhes pede voto e percebem o engodo que está novamente prestes a comprar. O
povo evolui economicamente, mas a cabeça continua sendo a mesma de 2000 mil
anos atrás onde os governantes romanos davam pão e circo para contentar a
massa.
Não adianta assistir noticiários de
corrupção em grandes TVs, precisamos é que essa nova “classe” além de educar os
filhos em boas escolas também pare e pense antes de eleger a mesma bandalha que
os enganos nos últimos quatro anos.
Sejamos classe média, mas conscientes
de um Brasil mais justo com os que ainda não ascenderam a esse nível. Não é
vergonhoso ser pobre, muitos já foram e parecem ter esquecido. Se hoje a
situação está boa pra você, pense que muitos ainda perecem, e é neles que
devemos focar, por que a base da pirâmide é que mantem um pais vivo.
Abaixo os políticos corruptos que
compram nossas almas com dentaduras e bonés vagabundos.
Boa terça feira a todos.
8 comentários:
Uma visão sociológica de peso de nossa história recente até os dias de hoje ... perfeita ... aí me lembro do meu tempo de infância, filho de pai operário q ralava muito, de mãe q cuidava da casa e dos filhos, filhos q estudaram na rede pública e todos se formaram em universidades públicas, q saíram da pobreza com dignidade e ingressaram nesta dita classe média ... mas q tb souberam crescer em outros aspectos tb e, aí sim, valeu a pena realmente ... mas quem quer se dar a este trabalho hoje?
bjão
Nossa... o homem tá vigoroso... hehe! Gostei e compartilho de teu desabafo sociológico... hehe!
E eu - apesar de pobre - sou limpinho, visse?! Just kidding!
Fico feliz que a dica do Aston tenho te agradado! Hugz, man!
Eu ri. Só falta eu dar uma passadinha em Miami para finalmente sair da D e chegar no sucesso da C.
Carpete de madeira tb é chic do úrtimo.
Eu acho essa "revolução social" às avessas que vemos no Brasil, impressiona. Se olharmos a educação como exemplo, vemos um rebaixamento de nível tão grande! Não sei onde isso vai dar...
Beijos.
São ciclos. Por aqui estamos no descendente e a classe média está a desaparecer.
abc
Não tenho o que comentar Rafael, você disse tudo. Confesso que essa realidade política e econômica do nosso país entristece!
bjs
E tudo se dá conta graças ao nosso capitalismo tardio brasileiro e uma nação criada por "ninguém", sem propósitos, o Brasil foi se atropelando nessa bola de neve, em subir, subir, subir.. e se esqueceu do principal, COMO subir.
Falta cultura e consciência, não por escassez, mas questão de incentivo. O brasil é rico economicamente e pobre de conhecimento.
Também sou de uma família que lutou muito pra chegar nessa tal classe, estudamos em escolas públicas, aprendemos a valorizar e conquistar... isso se torna essencial para o conhecimento humano.
Belo texto Rafa.
Já até falei sobre isso. Não no blog, mas coloquei uma frase no face argumentando sobre a nova classe média, porém alfinetando a escassez de cultura que ainda mingua exaustivamente desta camada.
E tudo continua da mesma forma. O legal é comprar, comprar, comprar. Dane-se aprender. Cultura pra quê, se o dinheiro é que manda em tudo???
Enfim, deixe eles pensarem dessa forma...
Abraços.
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