Nas ultimas semanas executo uma
tarefa peculiar como forma de respeito pela mãe de um amigo meu. Foi casada por
52 anos com o seu primeiro e único amor. Uma relação de mais de 60 anos. Incrível
imaginar que alguém possa viver ao lado de outra por mais de meio século e ter
o mesmo e intenso amor sem que nada abalasse os alicerces dessa união. Há dez
anos, marcados no ultimo dia 6 de agosto o seu companheiro partiu. Daí em
diante passou a escrever em versos e prosas a sua dor (que é justamente o que estou digitalizando), sua
solidão e a esperança de reencontra-lo um dia em outro plano.
Sabemos, eu e todos que me leem
que não curto poesia. Não pelo gênero, mas por muitas vezes não compreende-las.
Mas quando se lê algo escrito por quem convive contigo, é diferente. A cada
palavra, verso expressado nas linhas eu imagino o instante e o que se passava
com ela. Em alguns momentos preciso parar e deixar a tarefa de lado por uns
dias, por que me deprime algumas passagens. Se eu que sou apenas um conhecido (adotado
pela família...rs) sinto a garganta apertar, imagino os filhos lendo alguns
desses trechos. Mas a finalidade dessa compilação se resultará num belo livro.
Estou cá organizando essa coletiva de versos e futuramente quem sabe mostro a
vocês o resultado.
O que se aprende com histórias
desse tipo? Afirmo que muito!!!
A primeira grande lição retirada
destes textos está baseada no amor. Não naquele amor que as pessoas dizem
facilmente até para um pacote de biscoitos, mas o amor combinado com respeito,
admiração, confiança. Amar alguém não é apenas dividir um espaço nesse mundo, é
seguir construindo, lado a lado, sem buscar subterfúgios para que pedras
atrapalhem a caminhada. A missão é retirar do caminho do outro os obstáculos e
não cria-los para dificultar a trajetória e com isso poder justificar seus próprios
erros.
Existem pessoas que não sabem
amar. Mesmo que o relacionamento esteja tranquilo, os problemas resolvidos, a
vida seguindo calmamente num ritmo de conquistas a dois, a pessoa ( seja quem
for do casal) procura desesperadamente uma forma de minar a felicidade. Procura
subterfúgios para jogar uma pá de cal sobre tudo que se construiu até então. Já
vi varias vezes isso acontecendo, e o pior, não se dão conta de que a cada
abalo desses, novas fissuras surgem no alicerce. Um dia tudo vem ao chão.
A segunda lição está baseada no
compromisso com a fé. Uma crença inabalada no poder de algo superior que dá
alento no desespero, que conforta quando não cessam as lagrimas. Por vezes vejo
nas palavras dela uma suplica pelo amparo de Deus, e em seguida percebo que as
linhas se tornam mais afáveis e animadas. Incrivelmente e notadamente se vê a
interseção de alguém naqueles momentos. E o tempo, senhor de tudo ameniza a
dor, por que no passar dos anos as linhas também se tornaram menos sofridas.
Separei um dos poemas e pode
parecer brincadeira, mas eu que sempre clamo não ler poesia, hoje estou
postando uma. Isso é pra se ter noção que a gente pode sim, mudar de opinião,
por que não vale a pena seguir a vida com um cabresto nos impedindo a visão do
mundo. Quem sabe um dia até mesmo eu escreverei poesias...rs.
Sem limites
Agora que
você foi embora,
E a espera
para vê-lo é quimera:
Fico
pensando nos tempos de outrora,
Quando em
seus braços envolvida,
Num abraço
quente e um instante
Tão doce e
puro amor sentia.
Quase
eterno! E me perdia...
Como éramos
felizes,
Eu bem
sabia!
Hoje o mesmo
amor daqueles dias,
Flui
constante em meu peito em noite fria.
Embora só,
com esta lembrança viva,
Somos
eternos nesta e noutra vida!
Bernardeth Andrino
Ótima semana a todos.
7 comentários:
tb não sou muito fã de poemas, sob a mesma perspectiva q vc coloca ... mas a toda emoção transmitida por palavras me cala fundo e mexe comigo ... lindo lindo ...
bjão
Olá Rafael
Bonito o seu gesto de auxiliar sua "família do coração"!
Nos dias de hoje a banalização do que se entende por amor é tanta, como você mesmo disse.
Falar de amor me comove muito, de qualquer forma que seja, ainda mais um amor desses, que se mantem vivo apesar da distância material... Parabéns a essa sua amiga pela coragem de transformar em palavras o grande sentimento que a toma.
Abraço
Oi Rafael!
Ler uma poesia, como tão bem você falou, de amores vividos são tão intensos que nos fazem refletir muito. Belo texto!
Poesia é uma das poucas formas de se escrever e transmitir um sentimento!
Essa transmissão acontece mais rápida quando se conhece o poeta ou quando , de alguma forma, o poema fala de um sentimento que já é conhecido!
Voce conhece o amor , Rafael, caso contrário não teria sido "atingido" por esse poema e a história desse casal tão lindo ( e que devem ter batalhado uma guerra maravilhosa na manutenção desse amor)
Abraço
Curti seu blog e estou seguindo... se quiser, dê uma conheça o meu:
www.brisaetempestade.blogspot.com
Nossa... bacana, rapaz! Tanto o poema quanto tua escrita... curti!
E assim ó... eu recuso qualquer "terrorismo" na minha vida... então digamos que do "imbróglio" restou uma relação de respeito. Até pq minhas novas escolhas foram bem radicais, nzé? Hehehe! Hugz, querido!
Rafael realmente seu carinho em digitalizar aquelas linhas que uma senhora de 82 anos escreveu, vezes deitada, outras na sala, na cozinha. De manhã, tarde, noite e madrugada, com sorriso ou lágrimas nos olhos.
Recordando, vivendo ou revivendo um grande amor que queira nosso destino de vida seja continuado em onde ninguem sabe explicar.
Abç e obrigado.
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