QUANDO NOS TORNAMOS INVISÍVEIS

Tenho assistido quando posso o programa “ O Chefe espião”. Reality show americano reprisado no canal Viva aos sábados pela manhã que aborda o seguinte tema: grandes empresários, de indústrias e companhias milionárias, que se disfarçam e vão trabalhar no mais baixo cargo de suas empresas. Ali se dão conta de como é realmente o mundo que eles mesmos esqueceram.

Mas o tema citado é para mencionar um fato recorrente no discurso dos empregados avaliados no programa, e que se aplica a nós, pessoas anônimas:  como nos tornamos invisíveis nos grupos de amigos, família, trabalho e o mais grave, no mundo.

Toda pessoa boazinha demais com o passar do tempo vai perdendo o respeito dos companheiros. Parece criminoso ter personalidade benevolente, ser delicado no tratar o outro, educado ao se referir a estranhos. Quanto mais se tem respeito, mais se é esquecido. Aí a pessoa é associada aquela velha palavra “solidão”. Não que ela queira ser só, mas é imputado a ela esse sentimento, por que não lhe resta mais nada a ser oferecido. Tias solteiras, viúvas, homens de meia idade que não se casaram, todos esses vivem como peças antigas no mobiliário gasto da casa da avó. Incrível como em determinado dia, passam a ser invisíveis.

Hoje se estende a qualquer pessoa da sociedade. Um exercício bom é sair pela manhã caminhando pelas calçadas do bairro e tentar perceber quantas pessoas circulam diariamente por ali e nunca se deu conta. Mendigos, ambulantes, pessoas de classes inferiores a sua, que simplesmente se ignora a existência. Não há necessidade de ajudar , de dar dinheiro a essas pessoas que a desigualdade do pais impõe pobreza, mas saber que elas existem já é um ato de caridade. Um cumprimento, um sorriso ajuda muito. Será que há um tempo na sua vida para dedicar a um desconhecido?

Nas rodas de amizade, quando se é solidário demais, acessível, pronto para ajudar a quem recorrer, aos poucos nos tornamos um coringa que nunca é usado. As pessoas sabem que podem contar com você, mas nunca lhe pedem, talvez por não quererem dever favores, ou simplesmente por não lembrarem mais que está ali, disponível. Tornam-se invisíveis, e o que lhes é oferecido não supre 1% do que a carência humana necessita.

Há poucos dias eu tive um sentimento próximo, de invisibilidade. Nada tão serio que possa relatar aqui, mas me lembrei daqueles funcionários que os chefes do programa citado acima encontram. Pessoas que se julgam tão excluídas que demoram a se dar conta de que “alguém” olhou por elas. A minha história não foi relacionada a trabalho, foi no circulo de amizade,  o que é pior, por que você se depara com uma realidade: a forma como te enxergam, julgam e  o tanto de consideração que lhe oferecem.

Nada disso me atinge ao ponto de deixar marcas, apenas faz com que, inteligentes que somos, nós humanos, possamos dar um rumo diferente pra algumas situações e deixar de lado sentimentos impetrados por outrem, que nada mais tem como finalidade do que te minimizar.

Ser invisível está ligado ao quanto se dá de importância para o circulo onde vivemos. Um exercício chato de se auto enxergar na sociedade. Se esse sentimento realmente te atingiu, reflita, e saia do meio onde as pessoas estão tão ocupadas, ensimesmadas, egocêntricas e arrogantes, e busque “gente” simples para conviver, por que elas te enxergarão como você é.

Boa quinta feira a todos.

4 comentários:

Heron Xavier disse...

Este programa é MUITO BOM!

Deveria ter uma proposta brasileira no mesmo formato, justamente para que pelo menos os patrões ou gestores compreendessem a real necessidade de seus colaboradores.

Claro, trabalho é trabalho e se você é pobre, classe média e etc, tem de trabalhar mesmo. Mas 'sentir' a pessoa, leia-se empregado, é viável para produtividade e redução de turn over.

Muito bom post.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

qdo me dei conta disto foi um choque mesmo, mas foi extremamente bom, pois hoje tenho esta clareza de comportamento q vc sugere! Veja à sua volta vc pode ter amigos desconhecidos mais interessantes q aqueles q oficialmente se apresentam como tal ...

bjão

Unknown disse...

É uma reflexão pra lá de supimpa! E o segredo é não cair na armadilha de se acreditar invisível. Porque pra alguém a gente é sempre importante e indispensável de verdade! Se ninguém te vê, procure quem veja, como você e o Bracciola disseram. Beijo!

railer disse...

gostei muito do post, rafael.
nunca vi este programa, mas deu vontade agora.

me lembrei de uma caixa de supermercado que escreveu um livro sobre o tema. anos e anos passaram por ela várias pessoas que nunca nem a olharam nos olhos, enquantos outros se tornaram grandes amigos.

tudo isso tem que partir da gente e a gente tem também tem que estar aberto para perceber essas coisas.

abraços! raileronline