A minha já se foi há alguns anos,
e dramática como era, reclamava o tempo todo do seu papel principal, o de ser
mãe. Mesmo assim, com todos defeitos e virtudes de um ser humano imperfeito ela
foi sim, um exemplo a ser seguido. O que para nós filhos engrandece o coração é
escutar estranhos lamentarem sua ausência. Talvez a melhor de suas qualidades
era o de não guardar rancor, mágoas ou qualquer tipo de sentimentos ruins acerca
de outros. Apanhou da vida, foi traída por amigos, ridicularizada por sua ingenuidade,
mas firme e forte no propósito de criar os filhos da melhor forma que conseguisse,
sozinha, por que a quem escolheu para compartilhar a tarefa estava mais
preocupado com o universo em torno de seu umbigo masculino – o tipo que
acreditou uma vida toda que o seu único papel era prover a casa.
Lourdes – o personagem de Regina
Casé em Amor de Mãe, talvez seja a
colcha de retalhos de diversas mulheres genitoras, solitárias na função de
criar e educar. E muitas vezes vejo no afeto, no carinho da mão que parece
proteger o filho como uma grande asa a resguarda-lo, gestos da minha mãe.

Não tenho como afirmar que em outros
países existam mulheres como as brasileiras mães. Aqui temos essa coisa “passional,
visceral, dramática”, que compõe personagens anônimas onde quer que olhemos. As
vezes penso que a ignorância cultural de algumas é o que as fortalece na briga
pelo espaço de onde colocar sua cria. Conheço exemplos maravilhosos de mulheres
assim.
Tenho o privilégio de ter desfrutado
da história de muitas delas. Brincava dizendo que tinha várias mães, o que
causava enorme ciúme na minha de verdade. Vi mãe que criou sozinha seus filhos,
outra que foi o alicerce de uma casa onde o marido, muitas vezes ausente, estava
pelo mundo a pastorear ovelhas na tarefa árdua de conduzi-las ao bem maior. Mães
que lutavam como leoas para proteger sua prole. Vi, enxerguei cada uma delas.
Tenho uma sogra que é o exemplo
de tudo isso junto. Uma força tão grande que as vezes não entendo como cabe
dentro de um corpo pequeno. Uma Lourdes que nunca descansa, nunca para de
lutar. Uma mulher tão igual a milhares de mães desse pais, que pegou cada um de
seus filhos e olhou nos olhos para mostrar a realidade da vida. Uma mãe que
muitos esqueceram que era mulher. Uma vítima, como tantas, do machismo
exacerbado de homens fracos que batem no peito como gorilas para impressionar
as fêmeas do bando. Uma mulher com hombridade e respeito pelo próximo. Uma mão
estendida até para os algozes que muitas vezes lhe tiraram o sorriso. Sorriso
esse que se abre a cada um que se abriga no seu gigantesco abraço.
Seriamos um mundo melhor se existissem
mais homens “ mães”. Há uma grande diferença nas gerações dos anos 2000. Uma
leveza, uma maior percepção do cuidar. Estamos longe de termos igualdade dentro
dos lares, mas já existe sim uma grande porcentagem de “caras” de respeito.
Somos um pais atrasado, que dá três passos para frente e cinco para trás, mas mesmo
assim, alguns andam para o lado e saem do estigma do macho provedor.
Mãe...para quem ainda desfruta da
mão protetora (não existe idade para isso, basta sua presença) regozije-se!!! O
amor de mãe é insubstituível...