Não chore, isso é coisa de mulherzinha!!! Cala boca seu mariquinhas!!! Azul é de menino, rosa é de menina!!!
É exatamente assim que se perpetua a homofobia dentro da nossa sociedade preconceituosa, hipócrita, racista. Todos um dia ouvimos dos nossos pais, de tios, avós frases que indicavam a qual orientação sexual você pertencia. Meninos jogam bola, meninas brincam de boneca. E aqueles que não se enquadram nessas categorias, aquele menino que gosta de desenhar, ou a menina que curte mexer no motor de um carro? São estranhos, não fazem parte do todo? O preconceito nasce primeiro nos pais, e depois nos que cercam os filhos. É o pai que sente vergonha do seu menino que não joga bola, é ele que transforma aquele garoto num “ser” tão diferente dos outros irmãos.
Tive a sorte de ser criado por mulheres, e garanto, nem por isso cresci me interessando por homens. Sendo o caçula, com diferença grande pro mais velho, e tendo uma irmã na idade onde era possível transformar o irmãozinho no seu brinquedo de casinha, assim cresci, obrigado a sentar ainda aos 4 anos, quietinho enquanto a irmã e as amigas, serviam docinhos feitos de massinha, e responder sempre um obrigado cavalheiresco.
O primeiro momento que deparei com meu preconceito foi as 20 anos, quando após passar no vestibular para arquitetura ( já havia prestado engenharia civil, mas não quis cursar) pensei que estaria fazendo um curso de gays. Confesso que nos primeiros dias, observava os rapazes da minha turma tentando identificar neles algum trejeito, meio que separando aqueles que deveria ter ou não amizade.
Com o passar do tempo e a amizade que se cria num ambiente de faculdade fez com que todo e qualquer preconceito se fosse. Fiz amizade com gays, lésbicas, héteros, indefinidos, amorfos e até uma garota que jurava ser vampiro, e aprendi a respeitar o ser humano sem pensar nele como alguém “diferente”. Todos pra mim são iguais. O curso de arquitetura, talvez por ser ligado a arte, a criação, agrupa um determinado tipo de pessoas que não se importam com as convenções sociais. Claro que existiam as Patricinhas, os marmanjos que se achavam quarteback de futebol americano. O que aconteceu com esse povo? Desistiram do curso, ou com o tempo se dissolveram na multidão.
Quando me formei e começaram a aparecer os primeiros clientes é que soube o quanto foi importante a criação sem a pecha do “macho” destruidor. Lembro de ouvir da minha avó que deveria respeitar as meninas, e não tratá-las como vagabundas, por mais que fossem. E assim fiz durante toda a minha adolescência e vida adulta. Os resultados foram ótimos projetos, onde conseguia através da esposa do cliente atingir o objetivo e fechar negócio. Saber conversar de tudo um pouco, do futebol com o marido, e a novela com a esposa é que faz de um profissional de arquitetura um talento. É saber captar deles as necessidades e sonhos para um projeto. E só se consegue conhecendo quem são as pessoas atrás da sua mesa.
Tenho minha sexualidade definida, sem problemas e duvidas. Se gostasse de homens, assim seria mesmo com um irmão homofóbico e mãe carola. Mas não sendo, não tenho problemas em ter amizade, em conviver com pessoas de opções variadas. Sempre digo que me incomoda o fanatismo, apenas, seja ele qual for.
Ganhamos com a diversidade. Não teria capacidade de entender as pessoas hoje, se um dia não tivesse convivido com tamanha gama de indivíduos de diferentes idéias, interesses e opções. Da mais ignorante pessoa a mais culta, consigo manter uma linha de raciocínio e um dialogo aberto e divertido. O que me incomoda é a hipocrisia, a falsidade, a soberba, o tapa nas costas com a intenção da facada.
Hoje quando vejo alguém dizer a um garoto: larga isso que é coisa de menina!!! O meu ímpeto é brigar, xingar, e dizer que a pior forma de educar um cidadão é fazendo isso, separando o que é ou não coisas de menino!!! Vi isso em casa com um sobrinho, que se vê indeciso de brincar ou não com a priminha, por que ela tem bonecas e brincadeiras de menina. A confusão está estampada na carinha inocente dele, que não sabe como agir, e agride.
Assim se faz o homofóbico, assim se cria o garoto que pratica bullying na escola com o amiguinho mais fraco, diferente, delicado. Da mesma forma se faz com as meninas mandando-as fechar as pernas por estarem de saia, por não poderem brincar de bicicleta, ou jogar bola com os garotos. Criam-se mulheres frustradas sexualmente, que jamais serão felizes, por que não sabem ao certo o seu papel de “mulher”.
Como disse, a homofobia esta em casa, na boca dos pais, na brincadeira agressiva do irmão. Na menina trancada no quarto, frustrada, crescendo sem conhecer seu corpo. Na igreja que condena o diferente, mas forma indivíduos que ao invés de pastorear ovelhas, as conduz ao trauma, ao abuso físico e psicológico. E aí volto ao fanatismo que dividido com a ignorância, afasta pais e filhos por não se entenderem e respeitarem.
Somos um povo pequeno, nas atitudes, na forma de olhar o próximo. Somos brasileiros, movidos pelo carnaval constante, pelas partidas de futebol, pelo sonho de formar um filho jogador e sair da miséria. Um pais de misses vazias, de meninas que se deixam desfrutar nos bailes. Somos um povo que não se dá o respeito, e vira chacota do mundo. Infelizmente seremos assim por muito tempo por que não há leis que punam severamente um rapaz que agride outro por acreditar ser gay. Por homens que matam mulheres por se acharem donos delas.
Mas como acredito no ser humano, ainda verei pais e filhos felizes sem se preocuparem com a forma de ambos viverem.
Cada um escolhe a forma que quer viver, mas sempre respeitando as opiniões alheias, sem agressão, sem impor a sua vontade. Assim serão formados indivíduos dignos de serem chamados “humanos”
Boa segunda feira, ótima semana.
Abração a todos.
Ps.: Não curto mensagens anônimas, mesmo que sejam elogios ou xingamentos. Se não se identifica, não merece credito.