BRASIL QUE NÃO MOSTRA SUA CARA...

Fui criado dentro dos preceitos e dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana, como 80% da população brasileira (de três décadas atrás), e posso seguramente afirmar que as pessoas que me cercavam, desde progenitores, avós e outros familiares eram e são pessoas boas. Quando digo boas, me refiro à capacidade de fazer o bem aos outros, serem honestos e terem passado adiante, para as gerações que vieram deles a noção de caráter e responsabilidade social que hoje em dia pouco se vê na criação dos mais novos. Será?

Isso cai em terra quando me lembro de frases que ouvia quando criança. Um dia minha irmã perguntou a minha avó o que achava dela namorar um negro. Olhou bem, balançou a cabeça negativamente e respondeu: cada macaco no seu galho! Analisando isso hoje, com uma maturidade que adquirimos com o tempo, penso o quanto abominável é esse comentário, e o que representa em nós pessoas integrantes de uma sociedade mista. O racismo não é algo de dois séculos atrás, ele está aqui, como um vírus mutante enraizado na cultura da sociedade brasileira. Graças à educação do meu pai, que nasceu e cresceu entre negros que aprendi logo cedo que o valor da pessoa não está na pele. Ouvi histórias hilárias de amigos de infância e adolescência, que obviamente iam do gay ao chefe de família, do bandido ao malandro inofensivo, assim como outros de pele branca, numa mistura que representa a nossa sociedade. Como impor ao negro um padrão pré-estabelecido e obriga-los a abrir mão de sua cultura, tipo físico, por simplesmente acharmos que o certo é o que o caucasiano representa?

Se pensarmos que a policia aborda 75% dos negros e pardos para averiguação é motivo para pararmos tudo e questionarmos em que mundo estamos vivendo. Não vou dizer que conheço mais brancos desonestos por que estaria entrando nesse circulo vicioso em que há a separação de pele. Para mim a cor não determinada nada, se é negro, amarelo, vermelho, branco. Todo mundo é igual, será que é tão difícil assim entender?  Redundante, e chato ter que bater nessa tecla. Me preocupa muito mais a ignorância religiosa do que a cor da pele, status social ou escolha de gênero.

Por muitas vezes ouvi minha mãe dizer ao ver um homossexual na TV: Nossa, que tristeza para uma mãe ter um filho assim! Minha mãe foi uma mulher de reputação ilibada, religiosa, caridosa e se foi de uma forma abençoada, não viu a morte chegar, algo que lhe causava terror. Acredito que esse pensamento estava mais ligado a preocupação que tinha com o que “os outros” pensavam do que praticamente a ideia que fazia de homossexuais. Por anos a fio ela frequentou shows de Ney Matogrosso e delirava com a feminilidade dele nos palcos. Incoerência estampada na testa. Nunca chegamos a aborda-la sobre o assunto por que se fechava em detrimento a uma realidade que ela preferia não encarar. Talvez por ser de uma geração que vivenciou a guerra, as dificuldades do regime militar no Brasil, ou a criação sobre a batuta da igreja católica, que era muito mais severa nas décadas de 40 e 50, tenha absorvido um preconceito que não era dela, mas que tentava a todo custo passar adiante. Felizmente falhou nessa missão.

Não há por que na era que vivemos ainda carregarmos certos ditames do passado, por que não cabem mais dentro de nós. É retrogrado e desnecessário vivermos ancorados a preconceitos que não fazem mais parte desse mundo globalizado que nos esfrega na cara a cada minuto a modernidade.

Às vezes me questiono se realmente o Brasil é um lugar decente para se viver. Temos o melhor clima, o cenário perfeito, a modernidade necessária, aqui tudo se plantando dá...acredito que aí está o problema. Plantaram coisa podre, agora vai demorar mais 500 anos para que o solo fique limpo. Brasil, país democrático, hipócrita e demagogo.


Bom fim de semana a todos.