Não consigo dar conta se o mundo mudou
se enxergo as coisas com mais clareza, ou se sempre foi tudo assim, apenas
mascarado, guardado por debaixo dos panos.
Qualquer deslize hoje é motivo
para que alguém faça do seu erro os 5 minutos de fama pessoal. Quando era
criança, os programas de TV usavam tranquilamente o termo preto, escurinho,
criolo para denominar um negro. Hoje isso da cadeia. O gay do nosso tempo era o
pederasta da época da avó (palavra horrível que mais parece um termo criminoso
do que uma denominação para condição sexual de uma pessoa).
Também não sei se minha percepção
era falha ou se realmente as mulheres estão saindo do armário. Conheci e tenho
conhecido uma infinidade de meninas gays. Aí que vem o problema. Não consigo
dizer “menina gay”, mas também não gosto de usar a termo lésbica para
designa-las, por que parece um xingamento. Ao mesmo tempo trata-las como
sapatão é altamente pejorativo aos meus olhos. Minha avó diria que são “fanchonas”, o que da
na mesma. Aí um amigo disse: são caminhoneiras!!!...putz, piorou. Não consigo
olhar uma menina delicada e gay e trata-la por caminhoneira. Soa preconceituoso
até o ultimo grau.
Sei que as meninas estão é se
libertando. Uma parente com filho pré-adolescente e separada do marido apareceu
com uma namorada, e se diz felicíssima, por que a garota lhe dá atenção que
homem nenhum conseguiu. Uma senhora já de meia idade, com filhos e netos
enviuvou e não deixou passar mais que três meses para aparecer ( alias, foi
flagrada) na cama com sua melhor amiga. Uma garotinha que vi nascer, bochechuda,
lindinha, hoje com 25 anos é casada de papel passado com outra garota, inclusive
adotou o sobrenome da cônjuge, como fazem os casais heteros quando se casam.
Uma amiga pessoal descobriu-se gay e está felicíssima.
Aí vem a pergunta: Meninas se
descobrem gays ou sempre foram?
Na minha opinião a mulher
transita pelos dois mundos com uma facilidade que o homem gay não consegue.
Tirando aqueles tipos estereotipados e mega machos que não da pra esconder a condição
sexual, as garotas namoram rapazes, casam, e um dia aparecem de mãos dadas com
outra menina com a naturalidade que os garotos gays ainda não conseguiram. As experiências
com o mesmo sexo são permitidas pelos pais de meninas sem que eles percebam.
Dormir na casa da amiga, tomar banho juntas, se trocar, viajar. Tudo isso pode
esconder descobertas sexuais muito mais cedo que os meninos. A sociedade não
encara da mesma forma dois rapazes dormirem na mesma cama, banhar-se, e outras
situações rotineiras na vida das meninas com naturalidade. Trancaram-se no
quarto são viadinhos, enquanto meninas o fazem para falar de
namoradinhos...sei...senta lá Claudia!
Uma tia certa vez comentou que
sua empregada não conseguia pronunciar a palavra “lésbica” e por ser
evangélica, temerosa a Deus e ao Pastor que lhe extorquia vivia querendo
consertar ou levar “a palavra” as gays que conhecia. E pela dificuldade instrutiva
e verbal que possuía as chamava de “Mesbla”. Pronto, adotamos eu e minha irmã esse
termo para designar uma gay feminina. Não é pejorativo, não é ofensivo, e de
certa forma simpático e cômico. O problema é que apenas nós conhecemos essa
forma de expressão, então para o restante do mundo ainda tenho que me virar e
falar entre os dentes, lésbica, sapatão, bolachuda, fanchona, e outras tantas
designações para uma menina gay.
Minha mãe diria que o mundo está
perdido, eu digo, o mundo está apenas começando e muito em breve não haverá
mais pessoas que se julgam superiores pela raça, credo, condição financeira ou aparência.
Cada vez mais acredito que todo mundo tem seu lugar ao sol, é só ir buscar.
Abração a todos.