A Globo vem adiando o tal beijo
gay por mais de uma década, desde que em” A Próxima Vitima” um casal homossexual
se declarou em frente as câmeras, depois disso Bruno Gagliasso chegou perto dos
lábios do companheiro de cena, e tudo ao som estridente de conservadores que
viam uma obscenidade prestes a acontecer. Até então, centenas de gays
caricatos, com rabo de pavão e afeminados marcaram presença nas telenovelas.
Houve apenas um personagem que tenha levantado à discussão antes de tudo, lá
nos confins de 1982, quando ainda cheirávamos a resquícios da ditadora. Dennis
Carvalho numa das melhores novelas de Gilberto Braga ( Brilhante) , filho de
Fernanda Montenegro ( nunca mais esqueci o nome da personagem Chica Newman) não
se declara, mas o assunto vem à tona quando a mãe tenta casa-lo de toda forma
com Renata Sorrah para suprimir sua homossexualidade. Talvez tenha sido a
primeira vez que levantaram a bandeira da cura gay. Obviamente ela não consegue
e o personagem embarca para o exterior, para longe da mãe, poder viver sua vida
naturalmente.
A clara mensagem de que é melhor
longe, do que aos olhos da sociedade. O pior é que presenciei isso, vi uma família
de classe média alta, todos formados, e muito bem, mandarem o filho caçula para
o país de origem ( de onde vinha o sobrenome pomposo) e depois “deposita-lo” em São Paulo para que
não ostentasse sua “BICHICE” bem camuflada entre familiares e amigos.
A novela de Walcyr Carrasco é um
pastelão, como já mencionei aqui em post anterior, mas talvez a que melhor
representou o gay na história da teledramaturgia da Globo. Isso só foi possível
por que Mateus Solano deu vida ao personagem. Duvido que outro conseguisse
tamanha façanha com um texto tão pobre como o de Walcyr. Até os bordões de
Zorra Total ficaram bem na voz de Mateus. Um filho renegado, vivendo no liame da
mau caretice, sem pudores, sem regras, sem escrúpulos e caráter. Um produto
criado por um pai machão que se achava o dono da cocada preta. Através de um
discurso paupérrimo Walcyr conseguiu imprimir uma verdade. Não existem apenas
gays bonzinhos, que são discriminados e choram no chuveiro como em clipe de
Tony Braxton. O preconceito e a alienação a que são atirados deturpam o caráter.
Felix era um rapaz que não sabia o que significava AMOR. Nem a mãe, que o
deixou exercer sua “viadagem” escolhendo roupas, joias e sapatos lhe deu amor.
Apenas fechou os olhos para um casamento arrumado ( o mesmo que Chica Newman tentou
com filho), e como existem centenas e
centenas por aí. Como já ouvi de uma empresaria bem sucedida de Campinas:
prefiro um filho drogado a gay. Felix se redimiu quando encarou o amor despretensioso
de Tetê para-choque para-lama. A impressão que a homossexualidade de Felix é
pintada com pinceis de aquarela, leves e delicados. Mesmo assim repercutiu nos
lares e a discussão se fez presente. O povo acostumou a conviver com um gay
dentro de casa, e as mães passaram a olhar os seus meninos tentando achar neles
vestígios de Felix.
O beijo não sairá. A Globo tem
patrocinadores que não querem seus produtos vinculados a dois homens que se
beijam em rede nacional. Pode sim vincular leite, sabonete, carros de luxo,
margarina a uma personagem inescrupulosa, que mata,rouba, sequestra, abandona
um incapaz, droga o marido, esfaqueia o amante, dissimula, ri e ainda assim
está acima dos gays que se amam de verdade e respeitosamente.
Amor a Vida ( que deveria ter o
titulo original escolhido e abandonado: Em nome do Pai) vai encerrar sua trajetória
longa e cansativa nesta sexta feira com o filho gay cuidando do pai retorcido
por um AVC. Obvio que Cesar se renderá ao filho e pedirá desculpas para que a
sociedade entenda que é “feio, mal e bobo” discriminar um menino que gosta de
meninos. Tão infantil quanto Valdirene ser inteligência pura e dificílima.
Walcyr é infantil, assim como
suas tramas. O beijo entre homens virá um dia ( achei sinceramente que Walcyr
teria coragem) talvez quando Gilberto Braga volte novamente às novelas. O único
capaz, com coragem e texto perfeito para mostrar ao brasileiro que hipocrisia
se aprende em casa e na escola, mas que é errado, e quem tem telhado de vidro,
que guarde suas pedras e não as atire em telhados alheios.
Boa quarta a todos...