A BIRUTICE HEREDITÁRIA - CAPITULO 1

Ahhhhh que atire a primeira pedra quem não tem parente biruta. Sei lá também se quem me olha não diz: esse bate fora do bumbo!!!

Sempre gostei muito de conversar com meus parentes mais velhos, em particular minha avó, que era a caçula de uma família gigantesca e pitoresca. Eram em 14 filhos, sendo 12 legítimos, 1 adotado e 1 do primeiro casamento do pai dela.

Falarei em partes, capítulos, temporadas, ou seja, lá como definirei esses textos de cunho pessoal. Afinal expor a intimidade da família pode dar encrenca. Dá nada, já morreu todo mundo...rs rs rs.

A irmã mais velha de minha avó veio de herança de um primeiro casamento do meu bisavô, que era um mistério. Ninguém nunca falou como morreu ou desapareceu a essa primeira esposa, mas a filha já chegou ao segundo casamento com a mesma idade da noiva. Minha bisavó foi dada a casório ou vendida, sabe-se lá, com 18 anos. Vinha da Ilha da Madeira em Portugal com dois irmãos que trataram de livrar-se dela, abocanhar sua parte da herança e desova-la para um homem de 45 anos que nos meandros de 1800 e cacetada era um velho caduco. Imagine que a expectativa de vida dos brasileiros em 1900 era de 44 anos, em 1890 ela casou com um de 45...o cara já tava morto.
meu bisavô

Mas ele ainda fez mais 12 filhotes nela, fora vários que morreram ou foram abortados espontaneamente. Durante 25 anos até o digníssimo bater as botas gravidez era coisa corriqueira. A pobre coitada não descansou um ano sequer. Além de permanecer embuchada, trabalhava como louca numa cozinha industrial que fornecia alimentação para os presídios. Hoje seria como uma rede de restaurantes.  Enquanto isso, o bonitão e sua primeira filha gastavam a grana nas baladas da época.

Essa irmã mais velha, por onde começo, por que assim estipulo uma cronologia, era da pá virada. A abolição da escravatura era recente quando minha bisavó chegou ao Brasil, e os escravos que viviam na casa não foram embora. Oras, pra que ter empregados pagos, se os negros queriam ficar! Essa era a mentalidade do véio. Durou pouco, por que obviamente quando a justiça estipulou que não haveria mais trabalho sem remuneração, os negros se foram, os que ficaram minha bisavó pagou religiosamente por anos.

Mas toquei nesse assunto para poder falar do tipo que era essa minha tia-avó chamada Umbelina. Talvez a primeira vilã da história da minha família. Ela judiava da madrasta recém-chegada humilhando-a por um defeito que tinha no braço esquerdo e por ser portuguesa. Obviamente não tinha mais educação que ela, por que minha bisavó chegou a cursar os primeiros anos da Universidade da Ilha da Madeira, até ser arrancada de lá e trazida para a terra dos índios, enquanto Umbelina parou os estudos por ser preguiçosa. Por muitas vezes estragou a comida feita pela madrasta para encrenca-la com o marido.

Umbelina era chegada num negão. À noite quando o pai saia para os bordeis da cidade, deixando a esposa gravida em casa, a safadinha pulava para a casa dos empregados. E de lá se ouvia os muxoxos da conspurcação carnal...rs rs rs. Assim ela o fez até o dia que o pai soube. Umbelina foi casada as pressas com o filho meio bobo de um delegado e mandada pra fora da cidade onde nunca mais voltou. No casamento o pai jurou aos presentes que a filha mantinha maculada sua honra, e que era uma felicidade imensa casa-la com família de alta estima. Luvas, chapéus, camafeus de nozes e muita toalhinha de renda distribuída na casa de 3 andares da família.

Soube-se muito tempo depois que o primeiro filho de Umbelina e o bobo nasceu moreninho.

Também comentavam a boca miúda que o véio que diziam ser meu bisavô era filho de um índio, tinha 16 irmãos que fugiram juntos numa única noite deixando o pai ( que tinha o apelido de João onça) sozinho. E o que explica quem sabe a birutice de toda a família nos anos seguintes foi que muito novinho contraiu sífilis.

Continua....


Abraço a todos.

2 comentários:

FOXX disse...

valei-me!
eu adoraria saber coisas assim da minha familia.
aqui ninguém conta estórias boas assim...

Latinha disse...

Eu me amarro nessas histórias de famílias! Tenho que confessar que há uma boa parte da minha família que eu não conheço, inclusive tem uma parte no exterior que eu nunca nem vi...

Mas tinha/tenho vontade saber mais de onde vim...

Abração.