Era uma vez uma capsula que se
abriu e um bebê foi colocado dentro para ser protegido e desenvolver superpoderes
em outra galáxia. Sob a proteção indefectível de quem o gerou ele cresceu e se
tornou herói, pelo menos aos olhos carinhosos daquela pessoa.
Então por um descuido momentâneo
um inseto o picou e ele adoeceu. Uma aranha? Ninguém viu, ninguém sabe, e ali
acamado, certamente com novos poderes adquiridos do inseto ele iria se tornar
um herói ainda mais indestrutível, mas até então estava impedido de sair a rua
para brincar com os amigos, e o menino da capsula permaneceu ali, quietinho, sob os olhos atentos daquela pessoa.
Cresceu e a personalidade obscura
que guardava segredos nunca o fez menor diante dos olhos de quem cuidava dele. Carros
pretos, artimanhas e talentos despontaram daquele garoto da capsula picado pela
aranha. Um super-herói nas palavras, no desenho, despontando para a vida, e com
ânsia de mudar o mundo. Ali da janela de castelo, era observado atentamente por
aquela pessoa.
Os poderes sofreram mutações e
ele se considerou um X-men. Estava diferente dos seus, mas com a ideia fixa de
justiça com os semelhantes. Já não estava mais sob o olhar atento de quem o
guardava, aqueles olhos já estavam
enfraquecidos pela idade, mas em contrapartida ela criou o escudo magico, a
bolha de proteção construída com resquícios da capsula que o envolveu na infância.
Estava protegido, bastava!!!
Ele se sentia grato por todos os
poderes dado. Dentro da “tal” capsula havia o cristal, e desse ele construiu
seu próprio castelo e partiu. Mesmo sob os olhares marejados de lagrimas dela,
ele foi desbravar o mundo e criou “o seu” lar, com todas as lembranças dadas de presente
ele ali, fez seu mundo.
Voava, pendurava-se em fios de
teia, tinha força descomunal, e quando o perturbavam, mudava de cor, e sumia na
paisagem. De tempos em tempos pedia a benção e a carregava, já com as
limitações do tempo para passeios sob as nuvens, e lhe dava tudo o que desejava
para seu conforto. Mas uma coisa nunca conseguiu parar: o tempo.
Então um dia, percebeu que o
escudo estava frágil, que iria se romper, e aconteceu. Os olhos atentos que o
observava, que o protegia se fecharam e imediatamente a bolha que o abrigava do
mal sumiu, evaporou, e ele se sentiu pequeno, desamparado, no meio de um mar
revolto sem ter para onde ir. Percebeu que nunca fora um super-herói, que
apenas acreditava nisso por que os olhos dela o faziam se sentir assim.
O pior para um herói não é
combater o inimigo externo, é se acostumar com a saudade, com a dor que fica
quando aquela proteção não existe mais. Não era ele o super-herói, era ela! Ela
que acumulava todos os poderes dados a uma pessoa, que não só lutou contra
inimigos por sua causa, mas também pelos outros pequenos heróis de mesmo
sangue. Era ela quem voava, quem escalava prédios, que tinha a força e o poder
mutante para se adequar ao tempo e a vida. Ela que por tanto tempo afastou a
criptonita dos seus supermans, que costurou a mascara dos homens aranhas, que
dentro da batcaverna criou os mais incríveis artefatos de proteção, ela que
afastava a tempestade, que tinha o poder da telepatia, que era fogo, que atraia
para os seus só o que havia de bom no universo. Era ela o herói da casa, a
minha mãe...
Hoje, completa-se o primeiro
ciclo de sua partida. O primeiro e dolorido ano. Todas as datas e comemorações
que ela não participou, que não desfrutou. Temos a certeza que seu descanso
está sendo ao lado de quem ela amou em vida e que partiram antes para prepararem
a sua chegada.
A vida, aqui, continua.
Abraço a todos e ótima semana.
8 comentários:
Que texto lindo e emocionante, Rafa!
Tenha a certeza que os olhos dela ainda o fazem um super herói...
Grande beijo!
ah! querido Leoni ... como dói né? ... o tempo passa, seguimos em frente a dor grudada na saudade persiste ... mas é a vida ...
fique bem meu amigo!
"Saudade é ser, depois de ter"
(Guimarães Rosa)
Acho que só tempo para tentar ameninar um pouquinho essa dor, que sempre fica ali... Se não foi possível criar um super-herói, tenho certeza que ela, fica muito feliz por ver o guerreiro que ajudou a criar.
Que mais do que a saudade, hoje seja um dia de lembranças boas! Um grande e forte abraço para você.
Lindo texto...
Sem palavras... me emocionei bastante!!
Meu abraço carinhoso!
Realmente emocionante, deixo-te meu abraço, Rafa, queria poder fazer mais que isso, mas não posso. Infelizmente!
agradeço de coração as palavras de todos vcs...abraços
Meu querido Rafael, estou aqui solidario a ti, nunca poderei te confortar, mas respeito demais a tua dor e Deus irá te ajudar a colocar esta lembrança bem guardada, para que não esqueças e para que prossigas tua vida.
Meu pai esta em estado praticamente vegetativo, sabe-se lá por quanto tempo, mas nós, meus irmãos e minha mãe, cuidaremos dele o tempo que for necessário, estou até mudando de cidade no meu trabalho para estar mais próximo e participar deste mutirão de amor com meu pai, por isso o que importa é o que a gente faz em vida, isto sim nos confortárá um dia, estas perdas que jamais quisemos perder...meu querido, meu abraço.
Oi Rafael ... Grato pela visita.
Este parágrafo "O pior para um herói ..." me fez chorar. Faz um pouco mais de um mês que meu herói partiu. Do jeito dela me carregou no colo, me protegeu, encarou o que encontrava pela frente. Basta eu fechar os olhos e a vejo na minha frente. Quanta saudade e não sei o que fazer com ela...
Abraços meu caro !!!
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