A ILUSÃO DA CIDADE GRANDE

Um dia vi Gabriela migrando do fim do mundo, de um local sem vida, árido, para Ilhéus em busca de sobrevivência. Sim a personagem de Jorge Amado buscava água e melhores condições de vida por que o local onde nascera e crescera ainda era castigado por uma seca infinita. Na primeira representação do personagem na TV, Sonia Braga é surpreendida por uma chuva no meio do caminho, já próximo do destino. Uma cena antológica e cheia de significados. Jorge Amado mostrava a dura vida do sertão baiano, do povo castigado pela miséria que o sol os expunha. Portinari já havia feito o mesmo em seus quadros muitas décadas antes.

Estamos numa era informatizada, tudo o que vemos é quase realidade virtual. Compramos, vendemos, namoramos e casamos através de rápidos cliques em telinhas coloridas e cheias de informações. Falamos com alguém do outro lado do mundo como se estivéssemos cara a cara. E não acabamos com a miséria e a seca no nordeste do pais!

Não ficarei aqui perdendo tempo meu e de quem esta lendo dando explicações plausíveis para isso. Sabemos que a culpa é de governos, políticos e administradores do poder publico em geral. Basta! O que não me conformo é que em pleno 2014 ainda há mentes inocentes e desinformadas que acreditam que um dia haverá agua disponível para extirpar de vez a sede e a fome em todo território nacional.



Escutei o relato de uma parente que esteve em Minas Gerais nas ultimas semanas. Hospedou-se numa cidadezinha chamada Padre Paraíso, praticamente um vilarejo, com poucos recursos e moradores simples como os são nossos caipiras do interior. Povo hospitaleiro e gentil. Um vilarejo podre, como disse, com poucos recursos. Mas o que mais me intrigou foi o relato da volta para Campinas. Ela foi e voltou de ônibus, por que por ter mais de 60 anos, não paga passagens e viaja num semileito razoavelmente confortável. Esse sacrifício é para visitar a mãe que completou 101 anos esse mês.

Existe em primeiro lugar uma dificuldade imensa de conseguir a passagem de volta. Esse ônibus que a traz parte de Feira de Santana na Bahia, passa por Minas, Campinas e termina viagem em São Paulo. Não preciso dizer que vem lotado de Baianos. E o mais incrível: o êxodo nordeste/São Paulo continua.

Um jovem de dezoito anos deixou sua cidade, miserável claro, para vir para São Paulo em busca de trabalho. Um rapaz sem estudo, que acolheu a promessa do primo, já estabelecido, para um emprego de “descarregador de caminhões”. Todo emprego é digno, mas o que me deixa pensativo é a questão de salario, moradia e sobrevivência. Quanto ganhará um rapaz assim para se manter na Capital Paulista, um local caro, sem oferta de moradia digna para a classe baixa? Que politica está sendo feita para impedir esses jovens de se iludirem que aqui a vida será mais fácil. O sonho americano traduzido em reais? Essa ignorância é passada de geração a geração e ninguém põe fim?

Uma jovem bonita, morena, com belos atributos físicos carrega no colo seu bebe de 4 anos. Um sujeito a engravidou e foi-se pra São Paulo sem registrar o filho ou dar satisfação se um dia voltaria. Ela pega a criança, se mete num ônibus que viaja 36 horas para chegar a São Paulo com a perspectiva de encontra-lo e faze-lo cumprir o papel de pai. Meu Deus, onde está a informação para essa jovem? Como a deixam vir para uma cidade imensa com o pensamento que irá encontrar o cara, sem ter um endereço, telefone, ou qualquer que seja o contato do cara. E o pior, sem ter onde e com quem ficar. Não concebo a ignorância de acreditarem que a cidade de São Paulo é uma avenida onde tudo e todos moram.

Somos um povo carcomido pela falta de educação e informação dos humildes. Somos coniventes como a criação de um povo sem noção de nada, iludido por promessas de políticos corruptos. Esse povo migra do nordeste em busca de vida melhor e aqui ficam impossibilitados do retorno por que não há como sobreviver e juntar dinheiro para fugir dessa miséria de asfalto e arranha céus.

Um circulo vicioso de miséria, fome, prostituição e violência. E ainda querem que nos sintamos satisfeito com Copa do Mundo e Olimpíada?

Um dia disse que se Dilma fizesse um bom governo eu votaria nela para mais um mandato. Hoje quero que ela suma daqui, ela e toda raça petista que comanda o país. Sou um brasileiro insatisfeito, triste pelo fim que estamos tendo. Sim, fim, por que não vejo no momento vislumbre algum de luz no fim do túnel.

Deus, que dizem ser brasileiro, olhe por nós.

Boa quarta a todos




13 comentários:

Gera Careka disse...

Sabe Rafa, muito pertinente seu texto, que mostra a realidade nos interiores do nordeste e de outras regiões deste Brasilzão!
Estou fazendo o caminho inverso e me deparo com toda essa situação. Por exemplo na minha cidade (Vitória da Conquista) apesar dela estar em franco desenvolvimento urbano, vemos e encontramos as mesmas dificuldades na area da saúde e da educação só pra começar.. entende? Ou seja, nossos governantes não estão nem aí com a gente!
O pior pra mim agora é sentir na pele a dificuldade em conseguir um trabalho!
Desanimador e dá raiva viver num país como o nosso!!!

Madi Muller disse...

Rafael,teu último parágrafo poderia ter sido escrito por mim,faço das tuas as minhas palavras e partilho do mesmo sentimento.Moro longe,aqui no Rio Grande do Sul,mas minha mãe morou na Bahia por 5 anos e pude ver bem a realidade do nordeste e norte,parece q existem vários Brasis dentro do Brasil,é uma coisa incrível e assustadora ao mesmo tempo..E os governantes,o q fazem?Distribuem bolsa-familia,prometem e prometem, e nada de melhoras em NADA..realmente,é de se perder qualquer esperança!

Unknown disse...

Rafa,
A princípio, realmente não somos capazes de assimilar a falta de informação do povo que continua a vir para São Paulo em busca de novas condições de vida, sem ter a mínima noção da selva de pedra que os aguardam.
Ocorre que, se analisarmos melhor, a gente se depara com uma situação muito mais triste e desagradável: eles não sofrem apenas com a falta de informação, mas também com a falta de água, moradia, comida e tudo o que possa se enquadrar em um conceito mediano de "vida digna". O buraco é muito mais embaixo. E compartilho com você a infeliz sensação de não ver uma luz no fim do túnel...

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Querido Rafa ... como sempre suas reflexões e posicionamentos são pertinentes e muito bem colocados. Permito-me tão somente, não discordar, mas estender um pouco mais a reflexão ... Sim, nosso povo não tem educação, não tem informação, não tem saúde e monte de outras coisas fundamentais para a dignidade humana. Os governos entram e saem na mesma ... só corrupção e sem-vergonhice ... Mas entram e saem pq o nosso povo assim o quer ... é fácil receber bolsa e mais bolsas ao invés de lutar e buscar coisas melhores mas q dão trabalho. Sou de um tempo bem diferente ... meu pai não teve instrução, só não era analfabeto. Ralou a vida inteira como operário. Minha mãe era dona de casa embora formada em Contabilidade q na época era moda. Mas souberam e quiseram lutar. Tiveram 05 filhos. A duras penas, com grana q mal dava para bancar o aluguel de um barração de 4 cômodos [que por duas vezes foi inundado por enchente qdo perdemos quase tudo do pouco q tínhamos] e comer. Roupas, móveis tudo vinha de terceiros [familiares com condições financeiras um pouco melhores]. Mas uma coisa eles fizeram questão a vida toda ... eles buscavam a informação, eles lutaram e abriram mão para q todos nós, os 05 filhos estudássemos e formássemos ... todos temos curso universitário e todos trabalham desde os 21 anos. Eu, com 21 já era formado em Veterinária, já era concursado no Ministério da Agricultura, nomeado e trabalhava com salário digno. Isto foi fruto de sorte? Não amigo, foi fruto de luta, de garra, de valores fortes, de convicções firmes. Não esperamos benesses de governos, acreditamos q o único caminho possível é a luta e a conquista. Hoje quem quer algo com luta ... hoje o caminho fácil é a droga, é o vício, é a prostituição, é o levar vantagem, é ser poposuda, é ser jogador de futebol, é depredar patrimônio público e privado, e continuar a eleger este bando de picaretas, tão picaretas qto o nosso povo. É filho q mata os pais, são pais que matam os filhos, tudo agora tem q ser politicamente correto mas só no discurso, nunca na prática. Uma hipocrisia de dar nojo. Não acredito em nada mais meu amigo, ou melhor, acredito mais do q nunca q o mundo terá solução no dia em q cada um, individualmente, cuidar em se mudar, em lutar, em conquistar sem pisar no outro. Nada vem do céu ... tudo é conquistado aqui ... Chega, fico por aqui ... ia até falar um pouco da hipocrisia das religiões institucionalizadas, que defende direitos de bandidos, de vagabundos em um discurso q só convém a eles como jogo de poder econômico. É isto ... pelo menos desabafei ... Nestas eleições q se aproximam a única coisa q eu sei é que, tudo o q eu puder fazer para destruir o PT e toda esta cambada coligada com ele na usurpação do poder eu farei ... se vai adiantar não sei ... mas q se dane o país e seu povo se assim a maioria democraticamente escolher ... a minha vida está feita e garantida até o último dia e não tenho filhos para herdar nada desta merda ... por isto é q eu digo e repito "Foda-se o Mundo!"

Beijão

BAU DO FAEL disse...

Estou de pé aplaudindo seu comentário Paulo...mto obrigado!!! Resumiu nosso pais muito bem...somos um povo pilhador, conquistado e colonizado por bandidos...não poderíamos ser diferentes.

alex disse...

Infelizmente compartilho da falta de esperança, pois pra mudarmos o governo, temos que mudar a atitude do povo, acabar com o jeitinho brasileiro, com todo hábito de tirar vantagem, algo tão enraizado que vislumbro décadas pra ser extirpado da nossa cultura.

Obs.: Muito bom o texto

Bird disse...

Acho que as pessoa que saem de sua terra natal para capitais como São Paulo, o fazem por que não veem como melhorar a vida nas suas cidades. Só acho loucura sair de sua cidade com poucos centavos e nenhuma perspectiva de emprego. É triste.
{Emilie Escreve}

Sol disse...

depois de um tempo afastada, estou retornando com meu blog..
adoraria receber tua visita..

bjs.Sol

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

obrigado querido ...

FOXX disse...

Belo texto Rafael, eu fiquei me colocando na situação dessa mãe procurando o pai do filho. Me lembrei de Sampa, do Caetano, "outro sonhonfeliz de cidade, aprende depressa a chamar-te de realidade", fiquei preocupado com ela e com essa criança. Meu Deus, espero que ela tenha pelo menos como voltar a Bahia depois.

Sobre o comentário do Paulo, eu fiquei me perguntando: será tão simples? O mundo é outro, as ofertas de emprego são cada vez menores, a miséria cada vez mais avassaladora, será que é mesmo possível para todos seguir o exemplo que Paulo traçou? Será que a possibilidade de vencer através de seu próprio esforço é ainda uma possibilidade. Paulo diz, por exemplo, que aos 21 estava em um emprego razoável após formado, eu tenho 32, com doutorado, e não consigo o mesmo. É incapacidade minha ou os tempos são outros?

Gera Careka disse...

Voltei porque achei muito pertinente a reflexão do Foxx...
Fiquei com a mesma indagação: será que sempre fui incapaz? Ou onde foi que eu errei?
Acho melhor acreditar que os tempos são outros definitivamente!

jair machado rodrigues disse...

O bom dos teus posts, que sempre gostei, é tua forma coloquial e embasada que escreves, conhecedor, não como um estudioso acadêmico, mas um estudante da vida, isso me atrai, tua cabeça pensa, e que bom que tu escreves, assim compartilha conosco e nos incita a reflexão, a discussão. É necessário nos dias de hoje, ter um pouco mais de consciencia, ter noção que a vida passa, e se não formos honestos conosco, quem será ? Obrigado Rafael por mais um necessário post.
ps. Todo meu carinho meu respeito e meu abaraço.

Unknown disse...

Sou fruto desse povo, sai la do interior, pra buscar a sorte na cidade grande.
Como sempre um ótimo texto Rafa, ficom pensando nessa mãe com filho pequeno, nessa cidade cruel...
Um abraço