CONTO: O PRESENTE DE NATAL

Estava reorganizando meus contos e achei esse que gosto muito. São tantos, mas esse com a proximidade do natal me fez ter vontade de posta-lo. Não curto muito postar textos desse gênero por que são enormes e pessoas de internet não querem perder tempo lendo...rs. Mas publiquei assim mesmo, quem tiver paciência pode ler. Não é uma leitura difícil então pode ser que alguns cheguem até o fim. Não reparem nos se encontrarem erros de concordância ou gramaticais. Meus texto s ainda não foram revisados por profissionais.


Abraço a todos.

O Presente de Natal



Ethon distraiu-se quando no rádio do seu carro Nina Simone iniciou Ne me quite pás. A consequência dessa imprudência foi um acidente em que duas senhoras idosas foram arremessadas longe pelo seu veículo. Antes mesmo de tentar frear ele já as atingira. Desceu atordoado, com um pequeno corte no supercílio pela pancada que dera no volante. Descia um filete de sangue que sujava seu terno Armani. As pobres mulheres gemiam sentadas na calçada enquanto uma multidão de pessoas se aglomerava para saber o que havia acontecido.
         Dois policiais se aproximaram e interrogaram as pessoas até chegarem em Ethon. Um pouco descontrolado o jovem gritava com as senhoras que eram culpadas pelo acidente. As duas choravam e pediam perdão ao moço por terem entrado na frente de seu automóvel. Ethon era um advogado criminal com grande capacidade de argumentação. Em poucos instantes transformou as vítimas em perigosas armas contra o bem da sociedade. Explicou aos policiais a imprudências das mulheres e convenceu-os de sua inocência. De longe um senhor de cabelos brancos segurava o queixo e assistia ao espetáculo que Ethon fazia. Praticamente incitava o povo em volta, a testemunhar a seu favor naquela rua tranqüila de um bairro de periferia.
         O jovem discursava efusivamente gesticulando num balé de palavras. Transformara o incidente numa pantomima. O senhor que o ouvia atravessou a rua e prostrou-se diante de Ethon e o encarou. Enfezado perguntou ao senhor porque o olhava daquela forma. Virando-se para um dos policiais, o homem parado ali lhe deu voz de prisão e ordenou que os soldados o colocassem na viatura. Atordoado sem saber ao certo o que estava acontecendo, Ethon pela primeira vez na vida via escapar de suas mãos o controle dos seus atos. Esbravejou contra o homem que o prendera e foi notificado de que precisaria de um bom advogado de defesa. O senhor era um juiz e vira toda a cena. Do acidente a acusação infundada de Ethon as velhas senhoras, o homem presenciou tudo.
Três semanas depois Ethon estava de frente para o mesmo homem que o encarcerara por uma noite. Saíra sobre fiança e agora estava respondendo um processo. Com um frio na espinha via seu amigo de escritório tentar em vão defende-lo. Foi considerado culpado e como não houve vítimas fatais, estipulou-se uma multa substancial por danos as pobres mulheres. Ethon ainda deveria como pena, prestar serviços à comunidade frequentando uma vez por semana um hospital de câncer infantil, por nove meses. Deveria dar as crianças quatro horas de seu precioso tempo para leituras e brincadeiras.
Para Ethon o fato de ter que conviver com pessoas doentes era mais grave do que se o tivessem condenado a seis meses de cárcere. Não queria permanecer trancafiado numa prisão ao lado de assassinos e ladrões, mas a expectativa de freqüentar um hospital pestilento seria seu fim. Odiou aquele homem que o condenou. Prometera a si mesmo que um dia voltaria a vê-lo e então mostraria quem de fato era Ethon Gaye.
        
      Ethon Holland Gaye era o neto de um casal de ingleses agricultores naturalizados no país desde a segunda guerra mundial. Tinha trinta e cinco anos e uma carreira brilhante. Deixou o interior para tentar a vida na capital e em poucos anos sua oratória convincente o transformou num dos melhores criminalistas jovens da cidade.  Associou-se a grandes nomes e mora só numa cobertura luxuosa. Está noivo de uma promotora que no momento viaja pela Europa. Veste-se com o que há de mais caro e elegante. Seu meio de transporte é uma belíssimo importado que arranca suspiros da molecada na rua, presente que dera a si mesmo em seu aniversário. É um homem sem religião, gosta de dominar as situações e não suporta a pobreza, a miséria, a ignorância e os desvios naturais, como costuma chamar as pessoas deficientes e de outras raças e etnias. Em seu quarto expões uma coleção de gravuras de Basquiat compradas em Nova York em sua última viagem.
         Há dez anos não vê os pais e irmãos. Desligou-se da família no momento que percebeu que sua conta bancária era maior que de todos os parentes juntos. Não aceitava o fato de tê-los por perto desfrutando daquilo que conseguira sozinho.
      Na segunda-feira da primeira semana de sua pena, Ethon acordou mal humorado e não tomou café da manhã. O único pensamento que lhe vinha à mente era do hospital. Não sabia o que encontraria. Nunca estivera num local como esse. Amaldiçoou o momento em que passou naquela rua suja, daquele bairro pobre.
Os dias que se seguiram até a quinta-feira foram um inferno para ele.
         Quando parou no estacionamento do hospital do Câncer Infantil, respirou fundo e bateu violentamente a porta do seu automóvel. As pessoas que passavam o olharam apavoradas. Ele deveria procurar a diretora do hospital, para saber em que ala deveria permanecer naquele dia.
       Doralice Banthel era uma senhora de setenta anos, muito bonita e simpática. Percebeu no momento que vira Ethon que aquelas visitas seriam cruéis demais para ele. Encaminharam-se para a ala das crianças recuperadas. Aquelas que deveriam ter alta nos próximos dias. Doralice achou que seria melhor e menos dramático sua iniciação num local mais tranqüilo. Ethon não tocava em nada. Tinha medo de se contaminar com alguma bactéria. Estava nervoso. Odiava crianças.
    Sentou-se quieto numa cadeirinha e ficou observando as crianças brincarem enquanto Doralice se afastava. Uma menina de uns quatro anos se aproximou e perguntou seu nome. Ethon respondeu entre os dentes e a garotinha sorriu dizendo que o nome era engraçado, mas que ele era um moço muito bonito. Se tivesse que escolher um pai queria que ele fosse assim, forte e bonito.
       O elogio sincero daquela criança tocou num ponto pequeno do coração de Ethon. Ele conseguiu sorrir e agradecer sem se esforçar para isso e muito mais surpreendente fora sua reação perguntando o nome da garotinha. Era Maria Julia e estava ali se recuperando de um câncer no fígado. Mostrou a cicatriz ao jovem que se desesperou tampando o rosto. A menina achou graça e gargalhou. Interpretou a repudia de Ethon como uma brincadeira. Como típico em todas as crianças, Maria Julia saiu correndo sem dizer um adeus, ou até breve. Correu para se juntar as outras crianças. Contou a elas o nome dele e todas o olharam abanando as mãozinhas em sinal de cumprimento. Um pouco encabulado abanou a mão em resposta. Permaneceu ali contando cada minuto do seu tempo.

         As semanas que seguiram foram terríveis e a cada visita Ethon sentia-se ainda mais incapaz de ter uma família. Chegou a ter pesadelos com crianças deformadas correndo atrás dele gritando “papai”.
       Mas Doralice havia poupado Ethon do mais grave, na semana do dia das crianças ela o apresentaria a ala dos quimioterápicos. Sua expressão de desespero assustou a mulher. O jovem estava pálido ao ver as crianças doentes em camas enormes. Eram dezenas de cabecinhas peladas. Suas peles sem cor e seus olhos transbordando vida. Definitivamente aquilo mudaria sua vida. Permaneceu quieto por duas semanas antes de conseguir conversar com alguma delas. Nos relatórios que Doralice fazia a respeito dele, nunca mencionava que ele sentava-se absorto numa cadeira sem dar atenção a ninguém. Sabia que em breve aquela armadura cairia. E foi numa tarde de chuva intensa que Ethon teve seu primeiro contato com uma das crianças da Quimioterapia.
     Larissa, uma garota de sete anos, que se acostumara à presença de Ethon na ala onde estava, se aproximou e estendeu-lhe a mão. Cumprimentou-o e perguntou se esperava algum filho seu ali sentado. Ele respondeu que não tinha filhos e ia dizer também que detestava crianças quando a menina interrompeu-o perguntando se ele não queria contar uma história para ela. Sem reação ele concordou, mas buscando em sua memória não conseguia lembrar-se de nada. Confessou a garota que não conseguia achar uma história boa, que as que escutava quando criança se perderam na sua memória. Larissa olhou-o um pouco decepcionada e pediu que lhe contasse sobre sua vida. Todos tínhamos uma história de vida. Ela estava vivendo a sua, e ele já adulto deveria ter muito mais para contar. Novamente encabulado perguntou o que queria saber. Dando de ombros ela disse que gostaria de saber como foi seu primeiro beijo.
         Ethon riu. Nunca haviam perguntado isso a ele. Mas fazendo esforço conseguiu buscar no passado a cena onde estava sentado junto de uma garota numa festa de aniversário. Tinha quatorze anos e a garota o puxou com tanta força que eles bateram os dentes um no outro provocando um som estridente chamando atenção de quem estava por perto. Larissa ria do sorriso de Ethon. Quando ele terminou de contar ela depositou seu dedo indicador na palma da mão dele e disse: “Que bom!”. Naquele momento Ethon percebeu o que Larissa sentia. Provavelmente ela não chegaria à adolescência. Seu coração doeu e Ethon acariciou o rosto da menina. Naquela noite chorou e sentiu vontade de ligar para sua mãe. Queria ter uma voz reconfortante do outro lado do telefone. Sua noiva riria dele, provavelmente, ele se sentia só, muito só.
         Sabia que Larissa adorava bonecas de pano e comprou meia dúzia delas. Uma para cada garota daquela ala. Para os cinco meninos um boné de marca. Gastou um dinheiro que em outros tempos teria dado em algum restaurante badalado numa noite de risadas hipócritas. A felicidade que as crianças demonstraram com o presente o deixou tão satisfeito que naquela tarde contou mais uma história da sua vida. Só que dessa vez tinha uma platéia muito maior. As crianças aplaudiam suas facetas até mesmo aquelas no tribunal, onde elas mal sabiam do que ele falava. O fato de ele estar ali era suficiente, e foi Doralice que lhe disse isso. Ethon sentiu uma enorme compaixão por cada um daquele lugar.
         Na semana seguinte havia mais um garoto na ala cinco. Ele iniciara um tratamento rigoroso e estava um pouco acanhado. As crianças disseram a Ethon que fosse conversar com o rapazinho e contar-lhe histórias boas como só ele sabia fazer. Aceito o convite e se encaminhou ao menino. Sentou-se na beirada da cama e puxou papo. Apresentou-se e disse que queria ser seu amigo. Murilo o olhou e sorriu. Confessou facilmente a ele que estava com medo. Ethon já um pouco acostumado com o sofrimento daquelas crianças disse que tudo daria certo. Não se importava mais com os acessos de tosse e vômito deles. Achava tudo normal e fazia possível para se sentirem bem. Mas Murilo estava ali deitado trêmulo e Ethon segurou sua mão. Olhou em seu braço e os olhos se encheram de lágrimas. O garoto tinha no pulso um relógio antigo, um modelo que não era mais fabricado. Ethon com doze anos desejou mais que tudo em sua vida ter um relógio daquele. Perguntou a Murilo de quem era aquele objeto e ele respondeu que fora um presente de seu pai. Era um relógio que ganhara há muitos anos e queria que o filho ficasse com ele para lembra-se sempre que estavam por perto. Era um objeto significativo para todos da família. A peça antiga não combinava com um garoto tão jovem, mas compreendeu o significado do ato.
         Ethon voltou no passado e lembrou-se da expectativa do natal onde também ganharia um relógio daqueles. Havia pedido ao pai que lhe comprasse. Contou para todos na escola. Fez acordos com os amigos da rua que os deixaria colocarem por alguns minutos e que seu relógio seria o mais bonito de todos. Um vizinho que trabalhava como piloto de aviões prometeu trazer. Por semanas Ethon esperava o homem chegar. Quando o viu partir novamente sem ter lhe falado sentiu certo desespero, mas tinha certeza que na noite de natal o seu lindo presente estaria debaixo da árvore.
         Era uma família de posses controladas, sem desperdícios e supérfluos, mas felizes. O casal e seus seis filhos nunca pereciam de nada. As crianças tiveram bons estudos e Ethon, caçula, era mimado por todos. E o grande dia havia chegado e ansioso tomou banho e pôs-se sentado do lado da árvore de natal, esperando a hora certa de ganhar seu presente. Todos riam da sua atitude, mas ele estava tão empolgado que não dava atenção aos irmãos.
         Quando a mãe distribuiu um a um os presentes Ethon saltou e agarrou o seu. Sôfrego abriu o embrulho rasgando o papel e atirando longe. Seu coração gelou quando viu dentro da caixinha uma gaita. Olhou ao redor para constatar se havia outro embrulho, mas não, era aquele o seu presente. Sentiu um mistura de raiva, decepção e tristeza. Olhou para a mãe que entendeu sua dor e sorriu triste. Ethon para não magoar os pais, fingiu ter adorado o instrumento novo. E forçado a tocar, tirou daquele objeto as notas mais tristes que alguém podia ter ouvido. Sua música transformou aquela ceia de natal num momento melancólico. A mãe não suportando deixou a sala e foi chorar sozinha na copa. Ethon sentiu-se enganado. Sabia que o pai poderia ter comprado, mas perdoou. Um dia teria tudo o que quisesse.
         Murilo apertou a mão de Ethon e ele voltou de seu transe. Beijou a mão do garoto e deixou o hospital.
À noite solitário, recebeu telefonemas de amigos para uma confraternização. Queriam que os acompanhasse numa casa noturna. O jovem agradeceu o convite e desligou o telefone. Permaneceu sentado no sofá olhando para o aparelho de telefone. Algumas vezes ameaçou e tomando coragem ligou. Ouviu a voz da mãe e sentiu uma felicidade intensa. Respondeu a pergunta dizendo ser ele. A mãe efusiva gritava de alegria do outro lado. Chamava a todos para ouvir a voz de Ethon no telefone. Ele chorava por perceber que a família ainda o queria. Contou as novidades e combinou ir passar uma semana com eles.
         No próximo encontro que teve com as crianças contou-lhes da família e disse a Murilo que iria buscar sua gaita. No momento o garotinho achou que ele queria trocar pelo relógio, mas Ethon disse que ia buscar para dar-lhe de presente. Fizeram festa e Doralice de longe agradeceu a Deus por Ethon ter se encontrado.

         Quando parou o carro na casa dos pais saltou e correu abrir o portão. Há dez anos não os via e a recepção que teve foi tão calorosa como se os tivesse deixado há algumas horas.
         Contou as novidades de dez anos. Falou de seu emprego, de sua namorada, dos amigos e do acidente. A mãe afagou-lhe os cabelos e encostou-o ao peito como fazia quando criança. Estava feliz que seu caçula estava de volta. Ethan sentiu falta dos avós que haviam partido durante esse período que esteve afastado.
         Os cinco dias que permaneceu com eles foram intensos. Reviu tios, primos e antigos amigos de rua. Todos o abraçavam e diziam que o recomendariam como advogado. Antes de deixar a casa pediu a mãe sua gaita. Ela sorriu compreendendo que aquele trauma ainda permanecia nele. Entregou-lhe o objeto do mesmo jeito que deixou quando foi embora.
         No caminho de volta Ethon abriu o embrulho e tocou uma música alegre. Estava feliz.

         Arrumou-se muito bem e deixou a casa. Seria a última semana de sua pena. Levaria para Murilo a gaita e contaria a eles como foi sua semana com a família. Pedira licença ao juiz que a concedera de sem precisar compensa-la depois. Quando entrou na ala as crianças vieram correndo abraça-lo. Ele as beijava na cabeça, no rosto. O toque de cada criança o fazia rejuvenescer. Procurou por Murilo e não o viu. Esperou que voltasse. Talvez estivesse fazendo a seção de quimioterapia. Uma a uma as crianças deitaram-se cansadas para o repouso da tarde. Ethon deixou-os sós e foi procurar Murilo. Encontrou Doralice e perguntou do garoto. Murilo morrera na véspera, à noite. O coração não resistira ao tratamento agressivo. No seu armário havia um pacote que os pais de Murilo deixaram para Ethon. Transtornado encaminhou-se para o quarto e passou pelas crianças sem vê-las. Abriu o armário do garoto e lá havia uma caixa. Dentro um bilhete escrito pelo próprio Murilo dizia que estava deixando como herança para ele o relógio que o pai lhe dera. Num trecho o garoto citava que se no passado aquele objeto fora motivo de tamanha decepção, hoje ele lhe deixava, como um presente tardio. Uma atitude tão adulta de um menino tão jovem! Papai Noel era um homem ocupado. Mas nunca esquecia um pedido feito de coração. Ethon sentou-se no chão para chorar. Perdera as forças e permaneceu ali olhando para aquele relógio. Por que passara tanto tempo preso a uma lembrança e a um sentimento de desprezo. Podia neste período todo, ter desfrutado do nascimento dos sobrinhos, e ele mesmo podia ter sido pai. Achava que perdoara os pais pela decepção, mas não. A vida toda os acusou. Neste momento sim, o perdão foi sentido, no fundo de sua alma.

         Ethon providenciou o funeral de Murilo. Pediu aos pais que o deixasse fazer isso. Acompanhou o sepultamento e jogou flores em seu caixão. Num cantinho próximo ao seu pé, Ethon deixou a gaita. Era o presente prometido. Ele queria que Murilo soubesse que era um homem de palavra, livre dos fantasmas do passado. Ao sair do cemitério, Ethon esbarrou num senhor idoso, levantou os olhos e viu que era o Juiz que o condenara. Encarou o homem frente a frente. Ergueu a mão e o cumprimentou. Puxou-o de encontro ao peito. Não pensou em nenhum instante que poderia estar cometendo um ato de desrespeito. Abraçou muito forte aquele homem. Quando se afastou o velho chorava. Enxugou os olhos e colocou a mão no ombro de Ethon. Agradeceu por ele ter sido tão especial nos últimos dias de vida do seu neto. O velho era avô de Murilo e sentiu uma emoção grande quando o neto lhe pediu que desse o relógio a Ethon. O senhor de cabelos brancos ficou ainda mais comovido quando percebeu que o jovem usava o relógio no pulso direito.
         Eles se olharam mais uma vez e se afastaram. Por inúmeras vezes estiveram juntos em tribunais. Havia sempre um misto de emoções quando se viam. Ethon retornou várias vezes a casa dos pais e seu filho se chama Murilo. No Natal que completou nove anos, Papai Noel trouxe exatamente aquilo que pedira.

fim

RECOMEÇAR PARA O NATAL

Preciso voltar mais vezes ao blog, colocar mais temas em debate e movimentar um pouco essa casa que tanto gosto.

Tenho confabulado muito nos últimos tempos, revendo atitudes e dando importância maior a outras que deixava de lado. A morte da minha mãe ajudou muito nisso, inclusive a desfazer de muita coisa material que guardava sem necessidade. A primeira atitude depois da sua passagem foi colocar em pratos limpos alguns problemas envolvendo família. Uma mesa redonda com meus irmãos que resultou em excelentes frutos para o futuro. Mas na ultima semana tomei coragem e fiz uma faxina geral. Joguei fora 5 sacos de 100 litros até a boca de recordações que guardava. Papeis, fotos e outras coisas que só entulhavam minha casa. Me senti renovado.

E nesse revival encontrei muita coisa do passado que fez rir, chorar e ter a certeza que criei e construí uma boa história, com amigos, familiares e pessoas que já partiram. E não querendo bancar o bom samaritano, tive a certeza de ser uma pessoa solidaria.

Eu me preocupo com as pessoas, isso é fato, mesmo aquelas que nem se dão conta disso. Uma ofensa a quem gosto, dói em mim também, e acredito ser por isso que a ingratidão vem em primeiro lugar na minha lista de defeitos humanos.

Não há nada pior que ver alguém pagando com desprezo aquilo que outro fez de coração. Eu já tive minha carga de ingratidão na vida, que machucou muito, mas sobrevivi. Não acredito ter esquecido, mas deixado de lado. Afinal muitas delas vêm de dentro de casa, e o que se faz com isso? Melhor guardar do que viver de nariz torcido com aqueles que te são de sangue.

Nas ultimas semanas presenciei duas formas de ingratidão terríveis, e o pior, ambas direcionadas a mesma pessoa. Por educação e respeito não direi do que se trata, até para evitar exposições desnecessárias. Mas me frustra ver que uma pessoa dedica tempo e boa vontade por anos, para agradar e satisfazer um punhado de gente e na primeira oportunidade viram as costas pra ela deixando-a sem reação. Algumas gentilezas na vida são tão necessárias, e custam tão pouco!!!

Quando se está por baixo, com problemas ( até de saúde) o que mais queremos são mãos estendidas e solidárias. Isso tem, repito “tem” que ser enxergado e retribuído. A vida é uma constante volta. O que se faz hoje, amanhã é devolvido. Regra básica do universo. E mesmo assim há inúmeras pessoas que parecem não entender essa fórmula. Aí penso, por que disso?

Concluí que na maioria das vezes a ingratidão vem acompanhada de outro erro de comportamento chamado “soberba”. É um dos pecados capitais, mas nos dias de hoje, as pessoas nem se lembram do que é um “pecado”. Atingem o outro para satisfazer o ego. Isso é tão pequeno e mesquinho que realmente precisaria de horas e paginas  para externar o que sinto.

O Natal tá chegando e o tempo de solidariedade também ( as pessoas passam o ano fazendo mal pra todo mundo, mas o natal é sagrado), e de antemão afirmo que minha postura para esse ano mudou. Não quero festas, não quero grandes eventos. 

Quero o calor humano, quero sentir o amor das pessoas de verdade. Não que anos anteriores não tivesse isso, mas sempre estive envolto em presentes e mimos. Esse ano não! Quero ver onde está a verdadeira gratidão das pessoas. Será definitivamente um momento de recomeço, em muitos aspectos.


Os amigos e familiares que lerem concluirão que não haverá presentes. Fiquem tranquilos, acima de tudo, o prazer de presentear faz parte da minha personalidade.

Abraço a todos e boa semana.