Sem exceção todos os pais afirmam amar os filhos na mesma proporção. Eu não vejo dessa forma.
Sou o caçula de três como já disse varias vezes por aqui. Esse texto não é um desabafo, muito menos prerrogativa pra reclamar de falta de atenção ou qualquer que seja a ideia de quem o lê. O intuito é dizer que não há mal algum em pais gostarem mais, ou se dedicarem mais a um filho do que a outros.
Voltando a minha vida pessoal. Somos dois homens, um mais velho e um mais novo, entre nós uma menina. Sempre foi evidente a preferencia do pai pelo filho mais velho. Algo que um dia incomodou muito, mas que com o tempo se amenizou. Dia desses debatia com a menina do meio o assunto, e concluímos que sempre houve essa predileção.
Não me faltou amor, atenção, presentes, educação e nada que pudesse gerar alguma carência afetiva. Não apanhei quando criança, por mais peralta que tenha sido, mas fui injustiçado nas quizilas entre irmãos durante muito tempo. Hoje analisando as situações concluímos que desde cedo, sem perceber os pais davam ao mais velho uma autonomia e um tratamento diferenciado.
Em todas os discussões da infância o irmão mais velho (sempre com uma língua afiada e ferina) discorria ofensas e palavrões aos outros dois irmãos, e assim que saciava sua ira, saia de nariz em pé, por que tanto o caçula quanto a filha do meio eram impedidos pelo pai de retrucar. Isso não aconteceu uma vez, foram varias, sempre.
Como disse, isso não me deixou sequelas psicológicas, mas gerou em mim e na irmã uma animosidade desnecessária com o irmão, e vice –versa. Certa vez ele disse a mãe que não tinha afinidade com os irmãos, e que não conseguia mudar isso.
Hoje somos adultos, responsáveis pelo bem estar dos pais idosos. Cada um na sua casa, com seus problemas, suas famílias, e suas lembranças.
Conforme analisamos o comportamento dos pais em relação ao mais velho, temos cada vez mais certeza dessa predileção. Há algo neles que não se explica. Não é amor demais, nem preferencia, se assim pode dizer, mas uma atenção especial, que aos outros não é dada. Sutil, mas perceptível aos olhos dos filhos, apenas.
Isso é comum em todas as famílias. Já percebi, já ouvi da mãe de um amigo: Não é que não goste de todos os meus filhos da mesma forma, é que um deles precisa mais de mim.
Então pode ser isso, aquele filho, num determinado momento da vida precisou mais dos pais, por algum motivo, até desconhecido, e fez-se nele um hiato para os outros filhos.
Não adianta dizerem que não há isso, que filhos são amados da mesma forma. Concordo que pais não deixariam de amar os seus filhos numa mesma proporção, ou melhor, jamais perceberiam isso, ou confessariam. Há aquele incomodo em dizer que não gostar de um filho, pai, mãe ou irmão é pecado.
Conheço filhos que abominam os pais, ou irmãos que se odeiam. Errado? Não sei. Só acho que não somos obrigados a adorar aqueles de mesmo sangue por convenções sociais.
Isso não quer dizer que não ame os meus...além de gostar, admiro profundamente os dois. Mas é um assunto extenso, talvez difícil de se fazer compreensivo.
Abração e boa terça feira a todos.